Tratamento farmacológico da obesidade: posicionamento SBEM e Abeso

Postado em 30 de outubro de 2024

Confira os principais pontos do novo posicionamento da Abeso e SBEM sobre o tratamento farmacológico da obesidade, com foco na eficácia e segurança dos medicamentos disponíveis.

Nos últimos tempos, o tratamento farmacológico da obesidade está em alta no Brasil, com novos medicamentos sendo aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e produção de novas evidências científicas quanto ao seu uso.

Nesse contexto, muitas pessoas ainda utilizam os fármacos anti-obesidade sem indicação, apenas com fins estéticos. Enquanto isso, apenas 1% dos indivíduos com indicação para este tratamento de fato o recebem.

tratamento farmacológico da obesidade

Fonte: Canva

Para guiar especialistas quanto a um tratamento sério e ético, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) reuniram forças para compilar evidências sobre esses medicamentos, principalmente quanto à sua eficácia e segurança.

A seguir, confira os pontos principais do novo Posicionamento Abeso e SBEM quanto ao tratamento farmacológico do indivíduo adulto com obesidade.

Tratamento farmacológico da obesidade: evidências sobre os medicamentos

Sibutramina

Mecanismo de ação: age inibindo a recaptação de norepinefrina e serotonina na fenda sináptica e, em menor grau, inibindo a recaptação de dopamina. Seu efeito ocorre principalmente sobre a regulação da ingestão de alimentos, levando a um prolongamento da saciedade.

Utilização: a medicação está disponível comercialmente em apresentações de comprimidos de 10 e 15 mg para uso diário em pacientes com idade ≥ 18 anos. 

Efeitos sobre peso corporal: perda de peso de 2,8 kg em 12 semanas, 6 kg em 24 semanas e 4,5 kg até 54 semanas de tratamento (dados de revisão sistemática). Efetiva na prevenção de reganho de peso quando adicionada após intervenções dietéticas.

Efeitos colaterais comuns: xerostomia (29,2%), taquicardia (20,9%), constipação (18,9%), hipertensão (17,5%), insônia (17,2%) e cefaleia (11,3%).

Contraindicações absolutas:  diabetes mellitus tipo 2 (DM2) com pelo menos 1 outro fator de risco (por exemplo, hipertensão controlada por medicação, dislipidemia, prática atual do tabagismo, doença renal do diabetes com evidência de microalbuminúria), doença arterial coronariana (DAC), acidente vascular cerebral (AVC), arritmia, insuficiência cardíaca (IC) e hipertensão arterial controlada inadequadamente.

Orlistate

Mecanismo de ação: atua no trato gastrintestinal, onde reduz a absorção de gorduras da dieta. Promove a inibição irreversível das lipases gástricas e pancreáticas, levando a redução da hidrólise dos triglicerídeos em ácidos graxos e monoglicerídeos e diminuição de 30% da absorção da gordura ingerida.

Utilização: a dose diária usual é de 120 mg, ingerida durante ou até 1 hora após cada uma das três principais refeições.

Efeitos sobre peso corporal: pacientes sob uso de orlistate podem perder 2,9 kg (2,5 a 3,2 kg) mais peso do que os tratados com placebo, segundo pesquisas com duração mínima de 1 ano. 21% e 12% dos indivíduos atingem perdas de peso de 5% e 10%, respectivamente.

Efeitos colaterais comuns: em dados de pesquisas, cerca de 80% dos usuários apresentam ao menos um efeito gastrointestinal, incluindo esteatorreia, urgência para evacuar e flatulência. Risco de redução da absorção das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) nos pacientes com uso crônico. Pode aumentar a absorção intestinal do oxalato, associando-se à hiperoxalúria e à formação de cálculos renais.

Contraindicações absolutas: gestantes, mulheres amamentando, síndrome da má absorção crônica ou colestase.

Liraglutida

Mecanismo de ação: a liraglutida é um análogo do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (glucagon-like peptide-1 – GLP-1). Possui ação hipotalâmica em neurônios envolvidos no balanço energético, em centros ligados ao prazer e à recompensa, ação pancreática estimulando a produção de insulina glicose-dependente e inibindo glucagon e somatostatina, além de reduzir a velocidade de esvaziamento gástrico.

Utilização: inicia-se com 0,6 mg/dia por via subcutânea, com aumento gradual a cada semana.

Efeitos sobre o peso corporal: junto à dieta hipocalórica, a liraglutida promoveu uma perda de peso média de 13,1 kg em 8 semanas, com perda adicional de 3,4 kg com a prática de exercícios físicos (dados de pesquisa).

Efeitos colaterais: eventos que acometem mais de 5% dos pacientes são predominantemente gastrintestinais, incluindo náuseas, vômitos, diarreia, constipação, dor abdominal e dispepsia.

Contraindicações absolutas: gestação, amamentação e hipersensibilidade à liraglutida ou a qualquer excipiente. Recomenda-se cautela em pacientes com história prévia de pancreatite aguda, e pacientes com antecedente pessoal ou familiar de neoplasia endócrina múltipla ou câncer medular de tireoide.

Semaglutida

Mecanismo de ação: a semaglutida é uma análogo de GLP-1 de ação prolongada que imita os efeitos do GLP-1 nativo. Assim como os demais agonistas do GLP-1, a semaglutida atua em diferentes locais e tem múltiplas ações, entre elas a promoção de perda de peso por meio da redução da ingestão calórica, com aumento da saciedade e da diminuição da fome

Utilização: recomenda-se uma dose inicial de 0,25 mg uma vez por semana, injetada por via subcutânea. A cada 4 semanas deve-se ajustar a dose, até atingir o valor máximo efetivo para a perda de peso.

Efeitos sobre o peso corporal: A perda de peso com a semaglutida é dose-dependente, ou seja, quanto maior a dose, maior a perda de peso. Em pesquisa com duração de 68 semanas com associação à dieta hipocalórica e atividade física, a perda de peso média foi de 16,9%, na dose de 2,4 mg. O medicamento também demonstra eficácia em longo prazo.

Efeitos colaterais: em pesquisa, efeitos gastrointestinais como náuseas, diarreia, vômitos e constipação ocorreram em 74,2% dos pacientes. Eventos adversos graves foram relatados em 9,8% dos pacientes do grupo semaglutida, principalmente eventos gastrintestinais intensos e hepatobiliares.

Contraindicações absolutas: gravidez ou casos de hipersensibilidade à semaglutida ou qualquer excipiente.

Naltrexona e bupropiona

Mecanismo de ação: A bupropiona é um inibidor de recaptação de dopamina e noradrenalina com efeito anorexígeno, diminuindo a ingestão de alimentos e aumentando o gasto energético. A naltrexona é um antagonista do receptor opioide, que potencializa os efeitos anorexígenos da bupropiona.

Utilização: A combinação de dose fixa de naltrexona 8 mg e bupropiona 90 mg tem efeito sinérgico. Não recomenda-se doses diárias superiores a 32 mg/360 mg por dia.

Efeitos sobre o peso corporal: em pesquisa com 1.742 participantes, 62% perderam pelo menos 5% do peso corporal, 34% alcançaram a perda acima de 10%, e 17% perdas acima de 15%.

Efeitos colaterais: eventos adversos que afetam mais de 4% dos usuários incluem náuseas (32,5%), constipação (19,2%), vômitos (17,6%), cefaleia (10,7%), além de tontura, insônia, xerostomia, diarreia, ansiedade, fogachos, fadiga e tremor.

Contraindicações absolutas: hipertensão não controlada, epilepsia ou história de convulsões, insuficiência hepática grave, DRC grau 5, presença de tumor do SNC, história de distúrbio bipolar, bulimia ou anorexia nervosa, uso crônico de agonistas opioides ou opiáceos ou agonistas parciais ou retirada aguda de opiáceos, descontinuação abrupta de álcool, benzodiazepínicos, barbitúricos e fármacos antiepilépticos, administração concomitante de inibidores da monoaminoxidase (IMAO), alergia conhecida a bupropiona ou naltrexona.

Baixe o documento completo

No material completo da Abeso e SBEM, os especialistas discorrem detalhadamente sobre cada um dos medicamentos, incluindo efeitos sobre a composição corporal, diabetes, metabolismo lipídico, pressão arterial, entre outros.

Além disso, também reúnem evidências sobre a tirzeprida, que apesar de não ser aprovada no Brasil para o tratamento da obesidade, já é liberada na Europa e Estados Unidos, e acredita-se que sua aprovação virá em um futuro próximo.

Para ler o documento na íntegra, clique aqui.

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Referência:

Tratamento farmacológico do indivíduo adulto com obesidade e seu impacto nas comorbidades : atualização 2024 e posicionamento de especialistas da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). — São Paulo : Editora Clannad, 2024.

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