A manipulação antes da administração é o principal fator que separa estes métodos.
A nutrição enteral é a opção mais indicada para pacientes que não podem se alimentar por via oral. Entretanto, dentre os diferentes tipos de dietas enterais, surge a dúvida: qual a diferença entre nutrição enteral em sistema aberto, e em sistema fechado?
Neste artigo, vamos explorar as diferenças entre essas técnicas, fornecendo um guia simples para ajudar a discernir entre tais abordagens.
Nutrição enteral em sistema aberto: o que é?
A nutrição enteral em sistema aberto é aquela que necessita de manipulação antes de sua administração. Exemplos desta manipulação incluem o envase da dieta em um recipiente descartável; e a reconstituição com água ou outros módulos.
Por exigir manipulação prévia, a NE em sistema aberto carece de alguns cuidados especiais. Antes do envase, por exemplo, é necessário higienizar a embalagem com água, sabão e álcool 70%. Já no ambiente hospitalar, é obrigatório que a instituição disponha de uma sala de manipulação para atender às boas práticas.
A NE em sistema aberto pode se apresentar na forma de pós para reconstituição, com informações de diluição fornecidas pelo fabricante. Elas possuem um armazenamento facilitado devido ao pequeno volume, mas exigem maior tempo de preparo, maior custo operacional e menor estabilidade biológica.
Outra forma de apresentação são as dietas semiprontas para uso, já liquidificadas, em que a manipulação se limita ao seu envase. No entanto, elas não favorecem a individualização da fórmula quanto a alterações na concentração, no volume ou na composição nutricional, como é o caso das dietas em pó.
O que é dieta enteral de sistema fechado?
Diferente da nutrição enteral em sistema aberto, a dieta enteral em sistema fechado é comercializada pronta para uso, não exigindo manipulação prévia.
Trata-se de uma dieta estéril, envasada industrialmente, em frasco totalmente fechado, de 500 a 1500 ml, pronto para a conexão ao equipo de administração.
Tais dietas apresentam facilidade de distribuição, não necessitam de área de preparo, e os controles microbiológicos e bromatológicos são garantidos. Porém, não permitem a individualização da fórmula, e na maioria dos casos necessitam de bomba de infusão, utilizando energia elétrica e treinamento.
O objetivo da NE em sistema fechado é reduzir o tempo de manuseio e o risco de contaminação. Sendo assim, é a preferência para o ambiente hospitalar.
Qual a diferença entre nutrição enteral em sistema aberto e fechado?
Em poucas palavras, a nutrição enteral em sistema aberto requer manipulação prévia à sua administração, enquanto o sistema fechado não demanda este passo.
Confira no quadro abaixo as principais diferenças entre estes dois sistemas.
NE em sistema aberto | NE em sistema fechado | |
Exige manipulação prévia? | Sim | Não |
Risco de contaminação | Maior | Menor |
Necessidade de área de preparo | Sim | Não |
Possibilidade de alterações na forma/adição de módulos | Sim | Não |
Forma de comercialização | Em pó ou líquidas | Líquidas |
Embalagens | Tetrapak, latas, garrafas ou frascos de vidro | Sacos ou recipientes rígidos totalmente fechados |
Validade | Após abertura, sob refrigeração (prateleira exclusiva, 2 a 8ºC): 12 a 24 horas Temperatura ambiente: até 4h, incluindo o tempo de administração | 24 a 36h após abertura. Seguir recomendações do fabricante. |
Troca do equipo | A cada 24 horas. Lavagem após a finalização de cada dieta, em virtude do acúmulo de resíduos. | A cada 24 horas |
Volume de dieta enteral fornecido | 74%* | 84%* |
Grau de desperdício | 20 a 60%* | 3%* |
*Dados provenientes de pesquisas citadas pela Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral.
Qual é a melhor: dieta enteral em sistema aberto ou fechado?
Segundo a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), as duas apresentações são benéficas aos pacientes. No entanto, o sistema fechado é mais recomendado, principalmente por conta do menor risco de contaminação.
Todas as dietas enterais são excelentes meio de cultura para microorganismos. Porém, esse processo é facilitado no sistema aberto, por conta de diversos fatores:
- Transferências da dieta da embalagem original para os fracos;
- Reconstituição com água;
- Mistura de ingredientes;
- Contato com vários utensílios e superfícies;
- Falta de cuidados dos manipuladores.
Neste sentido, pacientes sob uso de NE em sistema aberto contam com um maior risco de sintomas gastrointestinais, infecção e sepse.
Por fim, outras vantagens do sistema fechado incluem um maior volume de oferta da dieta, maior ingesta nutricional, menor desperdício e maior custo-benefício.
Muitas vezes, no entanto, o uso de NE em sistema fechado é impossibilitado. A necessidade de individualização da dieta, ou a limitação de equipamentos se incluem nestes casos. Segundo a BRASPEN, o sistema aberto pode ser utilizado com segurança, desde que se adote boas práticas de higienização e administração.
Se você gostou de entender as diferenças entre a nutrição enteral em sistema aberto e sistema fechado, confira também:
- Dieta enteral polimérica, oligomérica e elementar: qual a diferença?
- Como é feita a classificação das dietas enterais?
- Diretriz ESPEN sobre nutrição enteral domiciliar
Referências:
COSTA, Mariana Fernandes. Nutrição enteral: sistema aberto ou sistema fechado? Uma comparação de custo-benefício. Rev Bras Nutr Clin, v. 29, n. 1, p. 14-9, 2014.
Guia de nutrição enteral ambulatorial e domiciliar [recurso eletrônico] / Lúcia Leite Lais e Sancha Helena de Lima Vale (organizadoras). – Natal: Edição do Autor, 2018.
MATSUBA, C. S. T. et al. Diretriz BRASPEN de enfermagem em terapia nutricional oral, enteral e parenteral. Braspen Journal, v. 36, n. 3, p. 1-62, 2021.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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