A nutrição tem um papel fundamental no tratamento da doença
Considerado o órgão central do metabolismo, o fígado é responsável pela síntese e degradação de diversos nutrientes e por metabolizar medicamentos e o álcool, sendo extremamente importante o seu adequado funcionamento.
No entanto, quando há danos hepáticos, podemos observar anormalidades metabólicas e nutricionais, interferindo diretamente na homeostase do individuo.
Com isso, as estratégias nutricionais são uma forma de tratamento eficaz para a melhora do quadro e consequentemente trazer uma melhor qualidade de vida.
A esteatose hepática
Também conhecida como doença hepática gordurosa (DHG), a esteatose hepática nada mais é que o acúmulo de gordura nas células hepáticas – os hepatócitos -, gerando um processo inflamatório agudo ou crônico.
Essa condição pode ocorrer devido à obesidade, diabetes, a resistência à insulina, hepatite C e também pelo excesso de álcool no organismo, onde em sua forma mais intensa pode resultar em necroinflamação e fibrose, devido ao estresse oxidativo elevado, levando a uma falência hepática e cirrose.
Doença hepática gordura não alcoólica (DHGNA) x Doença hepática alcoólica (DHA)
Apesar das duas condições apresentarem o quadro de esteatose nas células hepáticas, as duas enfermidades possuem etiologias diferentes.
A DHGNA é associada a uma desregulação metabólica, ocasionada por obesidade, dislipidemia, hipertensão e diabetes, e a doença hepática alcoólica, como o próprio nome já diz é ocasionada pelo consumo excessivo de álcool, gerando um acumulo de triglicérides no citoplasma celular.
Sendo assim, devido a essa diferente etiologia, a intervenção nutricional será adaptada de acordo com cada caso.
Recomendações nutricionais para quem tem esteatose hepática
Como dito anteriormente, a nutrição têm um papel essencial na recuperação desses indivíduos, logo que, algumas intervenções podem contribuir com a estabilidade e a evolução do quadro.
A seguir podemos ver algumas recomendações nutricionais para quem tem esteatose hepática:
Esteatose hepática alcoólica
A esteatose é comum em 80% dos casos de abuso de álcool, sendo assim, nesses casos a abstinência da bebida e adequação da dieta, auxilia na regulação do metabolismo e função hepática, revertendo assim o quadro clínico.
Esteatose hepática não alcoólica
Já quando a comorbidade é ocasionada por outras implicações, como a obesidade e a diabetes, a conduta nutricional ganha ainda mais destaque, pois o surgimento da esteatose tem ligação direta com a forma de como nós alimentamos e o estilo de vida.
Segundo a diretriz publicada no final de 2021, pela associação Europeia para o Estudo do Fígado (EASL), é recomendada a adoção de uma dieta pobre em gordura e carboidratos, com diminuição principalmente das gorduras saturadas e trans e de carboidratos simples, como os doces e a frutose, sendo orientada também a adesão da prática regular de atividade física.
Além disso, a diretriz ainda encoraja a limitação do consumo de álcool, pois o seu excesso pode ocasionar em maiores danos hepáticos. Sendo assim, a diretriz orienta a seguinte proporção:
- Homens consumo < 21 unidades semanalmente (equivalente a 160g álcool)
- Mulheres consumo < 14 unidades semanalmente (equivalente a 112g de álcool)
Com base nessas recomendações, a equipe de nutrição irá planejar o plano de ação e monitorar esses pacientes, para auxiliar na reversão do quadro.
Veja também: Silimarina e esteatose hepática – da tradição às evidências científicas
Referência
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