Suplementos para emagrecer: quais as evidências?

Postado em 11 de dezembro de 2023

Segundo a literatura científica, será que eles funcionam? Confira!

O tratamento do excesso de peso pode se dar por múltiplas vias, incluindo uma alimentação equilibrada, exercícios físicos, terapia farmacológica e cirurgias. Em adição, cerca de 40% dos adultos em busca do peso ideal utilizam suplementos para emagrecer. 

Por serem uma alternativa acessível, com baixa toxicidade, de fácil adesão e sem necessidade de prescrição, o mercado dos suplementos “emagrecedores” cresce cada vez mais. Mas como eles funcionam?

Neste artigo, iremos desvendar os principais suplementos dietéticos para perda de peso, e entender as evidências científicas ao seu respeito. Confira a seguir!

suplementos para emagrecer

Fonte: Canva.com

Cafeína

A cafeína é uma das substâncias dietéticas mais consumidas no mundo. Na abordagem do controle de peso, ela é conhecida por aumentar a termogênese e a oxidação de gordura, podendo diminuir o peso e a gordura corporal.

Em uma meta-análise com 13 estudos que forneceram cafeína em doses de 60 a 4.000 mg/dia, a substância reduziu o peso, a gordura e o IMC. Entretanto, esse efeito foi dependente da dose, e quantidades acima de 500 mg/dia resultam em efeitos adversos consideráveis.

Em resumo, pode haver um efeito modesto da cafeína no controle do peso, mas são necessárias mais evidências clínicas para confirmar esses efeitos.

Extrato de chá verde

O extrato de chá verde é um dos principais suplementos utilizados para emagrecer. Na ciência, sua eficácia tem sido amplamente pesquisada, com resultados favoráveis.

O chá verde contém cafeína, que contribui para a supressão do apetite e estimula a termogênese. Além disso, os antioxidantes do chá verde inibem a degradação da norepinefrina, o que pode aumentar o gasto energético. A inibição da adipogênese também é um dos mecanismos sugeridos.

Infelizmente, alguns estudos relatam danos ao fígado com o consumo do extrato. Segundo o Comitê de Especialistas em Informações sobre Suplementos Dietéticos da USP (United States Pharmacopeia), o risco de hepatotoxicidade pode ser grave, mas variável conforme concentração, doses, suscetibilidade genética, etc.

Glucomanano

O glucomanano é uma fibra derivada da raiz do konjac, uma planta originária do sudeste asiático. Em 2010, a European Food Safety Authority (EFSA) aprovou a alegação de que o glucomanano reduz o peso corporal na dose diária de ≥3 g, no contexto de uma dieta de restrição calórica.

Nesse sentido, o glucomanano pode auxiliar o emagrecimento devido à sua propriedade higroscópica, no qual ele incha rapidamente no estômago para produzir uma sensação de saciedade e plenitude. Além disso, a fibra solúvel diminui a absorção de gorduras e proteínas.

Por outro lado, o glucomanano pode causar efeitos indesejáveis, principalmente em relação à obstruções esofágicas. Esse malefício irá depender das doses consumidas, ingestão de líquidos, facilidade de deglutição, anatomia esofágica e forma de consumo. 

Além disso, meta-análises mais recentes questionam a eficácia deste suplemento para a perda de peso, com resultados inconsistentes entre os estudos. Novas pesquisas são necessárias para confirmar a ação positiva do glucomanano.

Extrato de café verde

O extrato de café verde é obtido a partir de grãos de café verde não torrados, e pode ou não conter cafeína. Diferentes mecanismos de ação apoiam seu uso como suplemento para emagrecer, seja o efeito lipolítico nos adipócitos, o aumento da β-oxidação, dentre outros.

Evidências limitadas suportam a suplementação do extrato de café verde para a perda de peso a curto prazo (<12 semanas).  Em uma meta-análise de 15 ensaios clínicos, doses de 90 a 6.000 mg/dia reduziram o peso corporal, o IMC e a circunferência de cintura. 

O extrato apresenta uma baixa ocorrência de efeitos colaterais na dose de 100 a 1.000 mg/dia. Apesar disso, estudos clínicos com intervenções mais longas são necessários para comprovar sua eficácia na perda e na manutenção do peso.

Capsaicinoides

Os capsaicinoides são compostos químicos encontrados em pimentas. A capsaicina é o capsaicinoide mais conhecido, sendo responsável pela ardência.

Foi demonstrado que os capsaicinoides aumentam a oxidação de gorduras e o gasto energético (em cerca de 58 kcal/dia). Além disso, eles também poderiam suprimir o apetite, levando à uma menor ingestão de calorias (em cerca de 74 kcal por refeição). 

Em doses abaixo de 33 mg/dia por 4 semanas ou 12 mg/dia por 12 semanas, existem poucas preocupações quanto à segurança destes suplementos.

Apesar dos benefícios, as evidências sobre o uso dos capsaicinoides no emagrecimento são limitadas e inconsistentes. Quando existem efeitos na perda de peso, eles são modestos.

Laranja-amarga

A laranja-amarga (Citrus aurantium L.) é uma planta utilizada para tratar diversos distúrbios e doenças. 

Sugere-se que seu extrato poderia apresentar propriedades de emagrecimento, incluindo controle de apetite e aumento da taxa metabólica basal. Em combinação com a cafeína, estudos clínicos demonstraram aumento do gasto energético e metabolismo em repouso, resultando em perda de peso. 

Na dose de 98 mg/dia por 60 dias, não foi observado nenhum efeito colateral da suplementação de laranja amarga. Entretanto, o número de estudos que demonstram propriedades benéficas é pequeno.

Extrato de feijão branco

O extrato de feijão branco é produzido a partir das sementes de feijão branco, (Phaseolus vulgaris L.). 

Conhecido por conter o inibidor de alfa-amilase, essa substância inibe a digestão do amido, reduz a absorção de glicose e inibe a secreção de grelina, podendo contribuir para a saciedade e a perda de peso. 

Seus efeitos no emagrecimento são notáveis em pesquisas pequenas e de curto prazo, na dose de 1.5 a 6 g/dia. Em um estudo clínico, a suplementação de 2,4 g/d de extrato de feijão branco, por 1 mês, reduziu em 2,2 kg o peso corporal de indivíduos obesos. 

O consumo deste extrato por até 12 semanas mostrou não apresentar efeitos colaterais. No entanto, o consumo frequente pode causar uma reação alérgica e tóxica, associada ao conteúdo de lectina. Estratégias de purificação da lectina estão sendo analisadas para melhorar ou eliminar sua bioatividade.

Dieta e exercícios ainda são soberanos

Como visto, o uso de suplementos para emagrecer pode não ser a melhor via no tratamento do excesso de peso, segundo a literatura científica atual.

Apesar de demonstrarem alguns efeitos positivos, as pesquisas que suportam tais benefícios tendem a ser de baixa qualidade, com um número de amostra reduzido e alto risco de viés. 

De acordo com um artigo publicado este ano pela revista Gastroenterology Clinics of North America, a eficácia de suplementos para emagrecer é, na melhor das hipóteses, mínima. Além disso, não podemos desconsiderar o risco de efeitos adversos.

A ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), em seu mais recente posicionamento de tratamento nutricional de sobrepeso e obesidade, não apoia o uso de nenhum suplemento para emagrecer. 

Enquanto a ciência não avança neste tópico, a alimentação adequada e os exercícios físicos continuam a ser o melhor tratamento de estilo de vida para o emagrecimento.

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Referências:

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