O termo “queimadores de gordura” (do inglês, “Fat Burns”) é usado para descrever suplementos nutricionais…
Desde as fibras até os suplementos de alho: confira os principais suplementos para reduzir o colesterol, e suas evidências científicas até o momento.
A hipercolesterolemia, popularmente conhecida como “colesterol alto”, é um dos principais fatores de risco para mortalidade por doenças cardiovasculares. Nas últimas décadas, novas estratégias para o seu tratamento foram investigadas, incluindo o uso de suplementos para reduzir colesterol.
Sugere-se que a maioria dos nutracêuticos redutores do colesterol exerçam sua atividade por meio da inibição da sua síntese, da sua absorção intestinal, do aumento da excreção de colesterol biliar, ou de uma combinação entre esses mecanismos.
Mas afinal, quais são os suplementos propostos para a redução dos colesterol? Qual é a dose recomendada e tempo de tratamento? Além disso, qual é a posição das diretrizes clínicas quanto ao tema?
Confira a seguir:
Quais são os suplementos usados para reduzir colesterol?
Abaixo, veja quais são os principais suplementos que podem contribuir para a redução do colesterol, segundo as evidências atuais.
Fibras
As fibras alimentares são substâncias vegetais resistentes à digestão enzimática. Estudos anteriores sugerem reduções de colesterol com o consumo destes compostos, particularmente as fibras solúveis (presente na linhaça, aveia, cevada, etc).
Contudo, a eficácia geral das fibras alimentares na redução do colesterol é muito modesta dentro da faixa usual de ingestão oral.
Por outro lado, a suplementação dietética com diferentes fibras vegetais, incluindo glucomanano, β-glucano, guar, pectina, psyllium e hidroxipropilmetilcelulose, associou-se a uma redução maior, mas ainda moderada, das concentrações séricas de colesterol LDL em ensaios clínicos randomizados e meta-análises.
Embora o mecanismo exato não esteja claro, os efeitos hipolipidêmicos das fibras solúveis são atribuídos ao aumento da excreção fecal de ácido biliar e ao uso de colesterol para a síntese hepática de ácido biliar.
Fitoesteróis
Fitoesteróis são esterois naturais com uma estrutura semelhante ao colesterol, presente principalmente em alimentos vegetais (óleos vegetais, nozes e leguminosas).
Na dieta ociedental, a ingestão típica de fitoesterois é cerca de 400 mg/dia. Contudo, o consumo suplementar de 2 g/dia já demonstrou reduzir o colesterol total e o LDL-colesterol em cerca de 7 a 10%, mas com pouco ou nenhum efeito sobre o HDL-colesterol.
Isso acontece principalmente porque os fitoesterois competem pelo mesmo transportador que o colesterol, reduzindo sua absorção intestinal.
Sendo assim, em 2019, a Sociedade Europeia de Cardiologia e a Sociedade Europeia de Aterosclerose recomendaram a suplementação de fitoesterois. Contudo, essa decisão foi criticada na comunidade científica devido à falta de evidências mais robustas.
Extrato de arroz de levedura vermelha
O arroz de levedura vermelha (RYR) é o arroz fermentado com o fungo Monascus purpureus, processo que o concede as monacolinas bioativas, substâncias com propriedades hipolipidêmicas. Nesse sentido, seu uso como suplemento para reduzir colesterol é robusto e consistente na literatura científica.
Em uma pesquisa que investigou a suplementação de RYR na quantidade de 1,2 a 4,8 g/dia (com 4,8 a 24 mg de monacolina K), por 2 a 24 meses, descobriu que essa estratégia pode reduzir o LDL-colesterol em cerca de 39,4 mg/dL.
Em outro estudo com 4.870 pacientes pós-infarto, a suplementação de RYR (6 mg/dia de monacolina) levou à uma redução de 20% no LDL-C, além de uma redução de 30% na mortalidade cardiovascular.
Apesar dos resultados promissores e do bom perfil de segurança, o maior desafio com suplementos RYR é a alta variabilidade na quantidade de monacolina K, bem como prováveis interações medicamentosas.
Polifenóis
Os polifenóis são compostos de origem vegetal caracterizados por múltiplos anéis fenólicos. Eles se dividem principalmente em compostos flavonoides e não flavonoides, e estão presentes na dieta humana em alimentos como chá verde, cacau, uva e frutas vermelhas.
Nas últimas décadas, as propriedades moduladoras do colesterol do chá verde foram extensivamente investigadas. Uma meta-análise de 20 ensaios clínicos randomizados mostrou que uma ingestão oral diária de extratos de chá verde variando de 250 a 1200 mg reduziu o LDL-C em cerca de 0,19 mmol/L.
O extrato de chá verde é rico em polifenois do tipo catequinas, responsáveis pela redução de lipídios por meio de propriedades antioxidantes, diminuição da absorção de micelas e ácidos biliares, diminuição da peroxidação lipídica e inibição da síntese de colesterol.
Berberina
A berberina é um alcaloide encontrado na raiz, caule, casca e fruta de muitas espécies de plantas. Assim como o extrato de arroz de levedura vermelha, suplementos de berberina possuem evidências consistentes quanto aos seus efeitos hipolipidêmicos.
Os mecanismos propostos para tal incluem a regulação positiva direta do receptor de LDL-C, e diminuição da absorção intestinal de colesterol.
Nesse sentido, meta-análises de ensaios clínicos randomizados mostraram que a suplementação oral com berberina reduziu significativamente os níveis de colesterol LDL (de -13 a -25 mg/dL) em uma dose oral variando de 0,5 a 1,5 g/dia.
Contudo, muitos dos estudos realizados com este suplementos são conduzidos em populações asiáticas, o que pode limitar a generalização dos resultados. Além disso, a berberina pode acarretar interações medicamentosas, e desconforto gastrointestinal em altas doses.
Probióticos
Os probióticos são microorganismos vivos que podem conferir benefícios à saúde do hospedeiro, especialmente pela modulação da microbiota intestinal.
Em humanos, meta-análises indicam reduções significativas, embora pequenas (~ 3%) e inconsistentes, no colesterol total (CT) e no LDL-C com suplementação probiótica. Seu impacto no HDL-C e triglicerídeos (TG) é ainda menos consistente.
Os efeitos hipolipidêmicos das bactérias probióticas são atribuídos à excreção fecal de colesterol, seja por meio da ligação direta com bactérias, da produção de ácidos graxos de cadeia curta (que inibem a síntese de colesterol), dentre outros mecanismos.
Suplementos de alho
Os suplementos de alho são muito utilizados por pacientes com doenças cardiovasculares.
De fato, estudos demonstram propriedades hipolipidêmicas destes produtos, relacionadas principalmente à alicina. Este composto possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, promove a excreção de ácido biliar, além de inibir as enzimas HMG-CoA redutase e esterol 4a-metil oxidase.
Em uma meta-análise com 39 pesquisas, cientistas descobriram que produtos de alho (em pó, óleo, extrato e cru) reduziram significativamente o colesterol total (-15,25 mg/dL) e o LDL-C (-6,41 mg/dL), principalmente em pacientes com CT mais alto e por mais de 2 meses.
Vale ressaltar que o alho possui propriedades antiplaquetárias, o que justifica cautela para aqueles que tomam anticoagulantes.
Suplementos para reduzir colesterol: doses
Na tabela abaixo, confira as doses usualmente utilizadas dos suplementos redutores de colesterol, além da expectativa de redução.
Suplemento | Dose Recomendada | Possível/Estimada Redução de LDL-C |
Probióticos | 1 × 107 UFC diariamente (ou 175–350 g de iogurte probiótico diariamente) | ~ 3–5% |
Fibras solúveis | 5–15 g diariamente | ~ 3–5% |
Fitoesteróis | 2–3 g diariamente | ~ 7–10% |
Chá verde | 2,5 xícaras diariamente (ou ≥ 200 mg de catequinas de chá verde diariamente) | ~ 2–5% |
Berberina | 0,5 g três vezes ao dia | ~ 10–20% |
Arroz vermelho fermentado | 1,2–4,8 g diariamente | ~ 20–30% |
Alho | 10 mg de alicina diariamente | ~ 5% |
Fonte: Mirzai & Laffin (2023).
O que dizem as diretrizes de saúde sobre estes suplementos?
A maioria das principais diretrizes de saúde não cita os suplementos para o gerenciamento de doenças cardiovasculares, incluindo a hipercolesterolemia. Estratégias melhor consolidadas são priorizadas, incluindo:
- Dieta adequada (rica em proteínas saudáveis, grãos integrais, vegetais, frutas e legumes; pobre em carnes vermelhas, bebidas adoçadas e doces)
- Ajuste calórica com base em metas de peso individuais
- Exercícios físicos (3–4 sessões de atividade física aeróbica por semana, com duração média de 40 min e intensidade moderada a vigorosa)
- Medicamentos hipolipemiantes (principalmente as estatinas)
Na ciência, entretanto, tais suplementos são recomendados principalmente em pacientes hipercolesterolêmicos de baixo a moderado risco, cujos níveis de LDL-C estão acima da meta recomendada e ainda não requerem tratamento medicamentoso; ou pacientes com intolerância a medicamentos.
Com estas considerações, ressalta-se a importância do profissional de saúde em avaliar as necessidades específicas de cada paciente, considerando possíveis interações medicamentosas, atualização nas evidências científicas e monitorização dos efeitos adversos.
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Referências:
Bianconi, V., Mannarino, M.R., Sahebkar, A. et al. Cholesterol-Lowering Nutraceuticals Affecting Vascular Function and Cardiovascular Disease Risk. Curr Cardiol Rep 20, 53 (2018). https://doi.org/10.1007/s11886-018-0994-7
Mirzai, S., Laffin, L.J. Supplements for Lipid Lowering: What Does the Evidence Show?. Curr Cardiol Rep 25, 795–805 (2023). https://doi.org/10.1007/s11886-023-01903-9
8 Tips: High Cholesterol and Dietary Supplements. National Center for Complementary and Integrative Health. U.S. Department of Health and Human Services.
7 cholesterol-lowering alternatives to statins. British Health Foundation.