A resistência à insulina é um distúrbio metabólico comumente causado pelos hábitos alimentares não saudáveis…
Altas doses de proteína em pacientes críticos não parecem exercer efeitos.
Pacientes críticos podem enfrentar severos desafios durante a internação. Nesse sentido, quanto maior o tempo até a alta hospitalar, maior é o risco de complicações e mortalidade. Entretanto, algumas opções foram sugeridas para contornar esse problema. A dieta hiperproteica em UTI, por exemplo, é uma recomendação das diretrizes atuais.
Embora seja defendida por diversos órgãos de saúde, a alta oferta proteica têm sido contestada por muitos estudos, que não demonstram benefícios dessa estratégia em pacientes graves.
Em uma nova pesquisa, cientistas buscaram descobrir os efeitos da dieta hiperproteica em pacientes críticos e com desnutrição, principalmente sobre o tempo até a alta hospitalar. Será que essa estratégia se mostrou benéfica ou ineficaz? Descubra a seguir.
Dieta hiperproteica vs normocalórica
Um novo estudo multicêntrico, randomizado e controlado foi conduzido com base no ensaio EFFORT Protein. O EFFORT trata-se de um ensaio clínico internacional, com base em registros de pacientes de 85 UTIs, de 16 países diferentes.
Ao todo, 1.301 pacientes críticos participaram da pesquisa, sendo 527 com desnutrição moderada a grave, e 774 sem desnutrição. As ferramentas GLIM e mAAIM detectaram o estado nutricional, enquanto o escore mNUTRIC detectou o risco nutricional.
No ensaio EFFORT Protein original, os pacientes foram randomizados para receber uma prescrição de proteína de ≥2,2 g/kg/dia (dieta hiperproteica) ou ≤ 1,2 g/kg/dia, sem fornecimento energético adicional. Na prática, a entrega média de proteína foi de:
- Dieta hiperproteica: 1,6 g/kg/d
- Dieta habitual: 0,9 g/kg/d
O principal desfecho que os autores buscaram era o resultados das diferentes ofertas proteicas sobre o tempo de alta hospitalar, em até 60 dias após a admissão na UTI. Os desfechos secundários foram:
- Mortalidade em 60 dias
- Local de alta (domicílio vs outro hospital/UTI, instituição de cuidados de longa permanência ou unidade de reabilitação)
Sendo assim, análises univariadas e multivariadas foram realizadas para investigar a associação entre desnutrição, risco nutricional e oferta proteica nos desfechos de interesse.
Dieta hiperproteica não diminuiu o tempo de alta
Após a análise dos resultados, os autores concluíram que a oferta de proteína não interferiu no tempo até a alta hospitalar. Em outras palavras, a dieta hiperproteica não resultou em menos tempo de internação.
Por outro lado, pacientes com desnutrição preexistente tiveram um tempo de alta mais lento, ou seja, demoraram mais para ter alta. Além disso, a desnutrição também se associou à menor incidência de alta com vida, maior mortalidade e menos altas domiciliares.
A figura abaixo ilustra os principais resultados do estudo.
Tais achados não surpreendem. Outras pesquisas concordam que o tratamento com alto teor de proteínas não parece se associar a melhores resultados em pacientes graves. Em outra análise secundária do ensaio Effort, altas doses proteicas (≥ 2,2 g/kg/dia) até aumentaram o risco de mortalidade em 30 dias.
Apesar das evidências, a diretriz de 2021 da Sociedade Americana de Nutrição Enteral e Parenteral (ASPEN) recomenda a dose proteica de 1,2 a 2 g/kg/dia.
Contudo, os autores apontam que essa orientação é baseada em estudos limitados, que não mostraram diferença na mortalidade entre os grupos com maior e menor proteína. Além disso, se trata de uma opinião de especialistas, e não uma recomendação com alto grau consensual.
Conclusão
Em pacientes graves, a dieta hiperproteica em UTI não altera o tempo de alta, em comparação à oferta proteica usual, independentemente do estado nutricional.
Por outro lado, o diagnóstico de desnutrição permanece um forte preditor de resultados adversos na UTI. Sendo assim, outras intervenções dietéticas são necessárias para evitar as complicações dessa condição, evitando a internação prolongada e as suas consequências.
Para ler a pesquisa completa, clique aqui.
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Referências:
Haines, R.W., Prowle, J.R., Day, A. et al. Association between urea trajectory and protein dose in critically ill adults: a secondary exploratory analysis of the effort protein trial (RE-EFFORT). Crit Care 28, 24 (2024). https://doi.org/10.1186/s13054-024-04799-1.
Lew CCH, Lee ZY, Day AG, Jiang X, Bear D, Jensen GL, Ng PY, Tweel L, Parillo A, Heyland DK, Compher C. The Association Between Malnutrition and High Protein Treatment on Outcomes in Critically Ill Patients: A Post Hoc Analysis of the EFFORT Protein Randomized Trial. Chest. 2024 Feb 12:S0012-3692(24)00154-5. doi: 10.1016/j.chest.2024.02.008. Epub ahead of print. PMID: 38354904.
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