O modo como o paciente faz as suas refeições pode influenciar na incidência dos sintomas do refluxo
Orientar a alimentação do paciente diagnosticado com refluxo é uma das estratégias eficazes para controlar os sintomas dessa doença. Apesar de existir uma válvula que conduza a passagem do alimento na ordem do esôfago para o estômago, a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) se apresenta como uma condição que retorna o conteúdo gástrico para a região do esôfago, de maneira repetitiva e involuntária e que pode ter diferentes causas.
Por que o refluxo gastroesofágico acontece?
Entre as causas do refluxo, podem-se citar problemas no esfíncter esofágico, a válvula citada anteriormente, que quando não se fecha totalmente pode aumentar as chances de ocorrer um refluxo após as refeições ou quando o indivíduo se deita.
Outras causas comuns são a fragilidade nos músculos que ajudam na passagem correta do alimento para o estômago e a hérnia de hiato que é um extravasamento do estômago na abertura pela qual o esôfago atravessa o diafragma para alcançar a cavidade abdominal, provocando azia e refluxo.
Além desses problemas fisiológicos, alguns hábitos durante as refeições ou após elas, podem facilitar o refluxo, como comer muito rápido ou em grandes proporções, ingerir líquidos em excesso junto às refeições e deitar-se logo após comer.
Ainda, segundo estudos, excesso de peso, IMC alto e tabagismo estão associados ao maior risco de DRGE.
E como orientar a alimentação do paciente com DRGE?
Além do tratamento medicamentoso com antiácidos e das mudanças no estilo de vida para perda de peso, interrupção do tabagismo e elevação do travesseiro na hora de dormir, a orientação dietética é essencial para reduzir os sintomas.
Por isso, recomendações gerais sobre a alimentação podem ser importantes para minimizar os sintomas do refluxo em crianças, adultos, gestantes e idosos. Abaixo está uma lista sobre o manejo dietético que deve ser orientado ao paciente ou seu cuidador:
- Reduzir as quantidades e aumentar a frequência das refeições: a redução das porções colabora para uma menor distensão do estômago e um esvaziamento gástrico mais rápido e a frequência ainda permite atender as necessidades nutricionais
- Evitar alimentos gordurosos: o consumo de alimentos com alto teor de gordura foi associado em diversos estudos ao aumento do risco de DRGE
- Mastigar bem os alimentos e sem pressa: essa é uma orientação que vale não somente para pacientes com DRGE. Mastigar bem e sem pressa ajuda na digestão e no esvaziamento gástrico, e permite que o paciente tenha atenção plena ao que consome, aumentando a saciedade e auxiliando também no tratamento de transtornos alimentares
- Controlar o consumo de sal: exagerar nas quantidades desse ingrediente aumenta o tempo de esvaziamento gástrico devido às alterações na osmolaridade da refeição
- Inserir fontes de fibra na dieta: as fibras foram citadas em estudos como fontes alimentares capazes de retardar a liberação de nutrientes que provocam a incidência dos refluxos
- Reduzir o consumo de álcool: segundo estudos, o álcool provoca uma maior secreção gástrica, o que aumenta as chances de ocorrem refluxos
- Evitar comer pouco antes de deitar: fazer refeições tardias e logo ficar em posição horizontal facilita o trânsito gástrico para o esôfago. Por isso, recomenda-se que a última refeição seja feita até 3h antes do descanso
- Evitar ingerir líquidos durante a refeição: além de diluir o ácido gástrico, o que diminui a eficácia da digestão, a passagem de líquidos durante o comer pode atrapalhar a função do esfíncter esofágico.
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Referências
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A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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