Hipertrofia, aumento da força, redução da fadiga… confira os benefícios da arginina pré-treino e os mecanismos biológicos por trás!
O uso de suplementos pré-treino é uma prática comum no meio esportivo. Dentre eles, os suplementos contendo arginina tem se tornado cada vez mais populares, devido aos efeitos ergogênicos que este nutriente pode apresentar.
Neste artigo, iremos desvendar os benefícios da suplementação de arginina antes do exercício, com base na literatura científica. Confira!
O que é arginina e onde encontrar?
A arginina é um aminoácido semi-essencial (7), e fundamental para o nosso organismo. Ela pode ser obtida através de três meios: dieta, síntese endógena ou renovação de proteínas (8).
Na alimentação, a arginina é responsável por 5 a 7% da quantidade total de aminoácidos que consumimos (7), com uma ingestão típica de 4 a 5 g/dia (8). A síntese endógena, por sua vez, ocorre principalmente no rim, onde a arginina é formada a partir da l-citrulina (8).
Geralmente, os níveis plasmáticos de arginina estão entre 80 e 120 μmol/l (8). Em adultos saudáveis, o nível de síntese endógena é suficiente para cobrir as demandas metabólicas (8). Porém, sua ingestão aumentada através da dieta ou suplementação tem se mostrado benéfica para diversos cenários, como exercício físico, obesidade e covid-19. Veja a seguir.
Arginina e exercício físico: os mecanismos biológicos por trás desta relação
A arginina funciona como substrato para a formação das “sintases de óxido nítrico” (NOS), uma classe de enzimas que convertem a arginina em citrulina e óxido nítrico (ON) (5).
Durante o exercício, o ON é um importante modulador do fluxo sanguíneo, que pode melhorar a recuperação dos tecidos ativados (8). Também, com o aumento da depuração da circulação sanguínea promovido pelo ON, ocorre uma redução da concentração plasmática de amônia e lactato (1, 5, 8). Isso diminui o desconforto provocado pelo acúmulo destes catabólicos na musculatura (1).
Além disso, o ON induz a vasodilatação (1-3, 5, 6, 8) e aumenta a perfusão tecidual, melhorando a entrega de oxigênio e nutrientes para a produção de energia (ATP). Assim, a biodisponibilidade de ON melhora a respiração mitocondrial muscular e a biogênese (5).
Com o consumo de arginina aumenta a produção de óxido nítrico, sua suplementação tem sido relacionada à melhora de diversos parâmetros relacionados ao desempenho físico.
Por outro lado, a suplementação de arginina também aumenta a síntese de proteínas musculares, se associando à melhora da força contrátil e aumento da massa muscular (1). A arginina também serve como precursora da creatina, um composto nitrogenado conhecido pelo aumento da massa muscular, da força e da potência (6, 8).
Por fim, a arginina também demonstrou estimular a liberação do hormônio do crescimento (GH), um potente agente anabólico que favorece o crescimento celular e a energia corporal, promovendo a hipertrofia muscular (5, 8).
Benefícios da arginina como pré-treino
Tendo em vista os efeitos que a arginina é capaz de gerar no organismo, alguns benefícios significativos são notados quando o aminoácido é incluído como pré-treino. De modo geral, a arginina pré-treino:
- Melhora o desempenho físico;
- Reduz fadiga e dano muscular;
- Melhora a composição corporal;
- Aumenta a força;
- Auxilia no controle da vasodilatação
A seguir, confira cada um destes benefícios em detalhes.
Melhora do desempenho físico
Diversos estudos indicam que o uso de arginina como pré-treino poderia beneficiar o desempenho físico dos atletas durante o treinamento, proporcionando um maior tempo até a falha e uma maior tolerância ao exercício (5, 8, 9).
Há evidências de que a suplementação diária de 5 g de arginina pode gerar uma menor relação lactato/velocidade (índice que avalia a tolerância ao exercício). Em suma, isso indica um melhor metabolismo oxidativo durante o treinamento, contribuindo para uma maior produção de energia aeróbica e uma diminuição do estresse metabólico. Como resultado, os atletas aumentam a capacidade de suportar exercícios intensos (5).
Já em outra investigação, lutadores profissionais que consumiram uma dose única de arginina (1.5 g a cada 10 kg de peso corporal) tiveram um tempo até exaustão 5.8% maior. Embora este incremento possa parecer pouco, qualquer acréscimo na duração do desempenho físico para atletas profissionais é relevante e significativo (9).
Redução da fadiga e dano muscular
Em atletas iniciantes (ou experientes, mas em processo de mudança no treinamento), é comum experimentar a ocorrência do dano muscular induzido pelo exercício (DMIE). O DMIE se caracteriza por prejuízos na estrutura da fibra muscular, e acompanha sintomas como:
- Redução na produção de força;
- Desconforto muscular;
- Edema local;
- Alteração da permeabilidade do sarcolema (aumento de proteínas musculares na circulação) (2).
A suplementação com a arginina tem sido sugerida como estratégia para minimizar os efeitos do DMIE e acelerar a recuperação pós-treinamentgtfo (2). Isso porque o aminoácido promove melhora da circulação sanguínea, possibilitando maior aporte de nutrientes e oxigênio ao músculo. Além disso, pode reduzir os metabólitos circulantes e atenuar a resposta inflamatória (2).
Em uma pesquisa com 24 jovens universitários, a ingestão de uma dose única de arginina (7 g), 30 minutos antes do treinamento, atenuou os sinais do DMIE (2). Em outra investigação, houve redução do índice de fadiga com o uso crônico de arginina por 15 dias, na dose de 3 g/dia (2, 10).
Melhora da composição corporal
A composição corporal é um fator importante para o desempenho esportivo, afetando velocidade, resistência, potência, força e agilidade (7).
Alguns estudos mostram um efeito significativo da suplementação de arginina na composição corporal, sendo eles:
- Aumento da massa magra (1, 2, 7);
- Diminuição da massa de gordura (1, 7);
- Diminuição do percentual de gordura corporal (1);
- Redução da circunferência de cintura (7, 12).
Como exemplo, em um estudo com 20 homens submetidos a 8 semanas de treinamento para membros inferiores, a suplementação de arginina na dose de 3g/dia aumentou a massa muscular, além de diminuir a massa de gordura e o percentual de gordura corporal (1).
Aumento da força
Através do aumento da síntese de proteínas musculares, a suplementação de arginina pré-treino pode estar relacionada à melhora da força contrátil do músculo, beneficiando especialmente o treinamento com pesos (1).
Em estudo citado anteriormente, além da melhora de composição corporal, observou-se que os jovens também apresentaram aumento de força muscular para flexão e extensão do joelho destes indivíduos (1).
Controle da vasodilatação
O exercício físico exerce um papel importante na redução da pressão arterial, fenômeno conhecido como “hipotensão pós-exercício” (HPE). Um dos mecanismos para isso é a maior produção de óxido nítrico, que, como já vimos, aumenta o fluxo sanguíneo, a vasodilatação e a perfusão sanguínea. Como consequência, a pressão diminui (3, 4).
Entretanto, a baixa capacidade endotelial dos pacientes hipertensos pode limitar essa produção de ON (4). Porém, como a suplementação de arginina aumenta a síntese de ON, essa estratégia pode potencializar a hipotensão pós-exercício, servindo como ferramenta para prevenção e tratamento da hipertensão (3, 4).
De fato, em um estudo com 20 pacientes hipertensos, a suplementação arginina (7 g) promoveu uma resposta hipotensora diastólica pós-exercício, em comparação ao grupo placebo (4).
O que podemos concluir?
Como vimos até aqui, a arginina é um aminoácido com um grande potencial para ser usada na estratégia pré-treino. Com seus diversos benefícios, os atletas e praticantes de atividade física que a utilizam experimentam um nível elevado de desempenho durante o treino, alcançando resultados mais significativos, melhorando sua performance atlética. A arginina ainda pode proporcionar diversos outros benefícios, por possuir diversas funções no organismo, inclusive contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
Quer saber mais sobre como prescrever arginina para o seu paciente? Acesse: Arginina: o que é e como prescrever?
Referências:
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Pahlavani, N., Entezari, M. H., Nasiri, M., Miri, A., Rezaie, M., Bagheri-Bidakhavidi, M., & Sadeghi, O. (2017). The effect of l-arginine supplementation on body composition and performance in male athletes: a double-blinded randomized clinical trial. European journal of clinical nutrition, 71(4), 544-548.
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A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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