Apesar de todos os esforços, a obesidade continua crescendo no Brasil e no mundo. Em…
Profissionais experts em obesidade se reúnem para revolucionar a forma como definimos e diagnosticamos a condição.
Quando o assunto é obesidade, muitas controvérsias e estigmas ainda podem estar presentes. Embora o IMC seja amplamente utilizado para o diagnóstico da obesidade, uma recente publicação divulgada pela revista científica The Lancet propôs uma revisão na forma de definir e diagnosticar essa condição.
Uma Comissão formada por 58 especialistas apresentou recomendações com alto nível de consenso, apoiadas por 76 organizações globais. Agora, novas definições e critérios diagnósticos prometem revolucionar a tomada de decisões clínicas, intervenções terapêuticas e estratégias de saúde pública voltadas para obesidade.

Fonte: Canva
A seguir, descubra os principais destaques desse novo olhar.
Novas definições: “obesidade pré-clínica” e “obesidade clínica”
A Comissão definiu a obesidade como o excesso de adiposidade, cujas causas são multifatoriais e ainda não completamente compreendidas. Entretanto, dois subtipos de obesidade tomam frente: a obesidade pré-clínica e a obesidade clínica.
O que é obesidade pré-clínica?
A obesidade pré-clínica é o estado de excesso de adiposidade com função preservada de outros tecidos e órgãos e risco variável, mas geralmente aumentado, de desenvolver obesidade clínica e outras doenças não transmissíveis (ex.: diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, certos tipos de câncer e transtornos mentais).
Nesse sentido, o risco para desenvolver essas doenças depende de fatores como idade, etnia, predisposição familiar, distribuição de gordura corporal, etc.
Essa condição é essencialmente um fenótipo físico, não caracterizado como uma doença, com ausência de sinais e sintomas de disfunções dos órgãos devido à obesidade.
Vale ressaltar que obesidade pré-clínica não coincide com a definição de sobrepeso ou pré-obesidade.
O que é obesidade clínica?
A obesidade clínica é uma doença crônica e sistêmica caracterizada por alterações na função de tecidos, órgãos, do indivíduo como um todo, ou uma combinação destes, devido ao excesso de adiposidade.
A obesidade clínica pode causar danos severos a órgãos-alvo, levando a complicações que alteram a vida e podem ser fatais (como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência renal).
Desse modo, a doença é caracterizada pelo fenótipo de obesidade com sinais, sintomas, limitações das atividades diárias ou qualquer combinação destes.
Por exemplo: uma pessoa com sinais e sintomas musculoesqueléticos ou respiratórios devido ao excesso de adiposidade possui obesidade clínica, mesmo na presença de função metabólica normal.
Qual é o problema de definir a obesidade apenas pelo IMC?
Até o momento, o diagnóstico da obesidade em todo o mundo era baseado no IMC. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um adulto com IMC de 30 kg/m² ou superior seria considerado obeso.
No entanto, vários estudos mostraram que o IMC não reflete a distribuição de gordura corporal ou a saúde metabólica, e medidas alternativas, como a circunferência da cintura ou a porcentagem de gordura corporal, poderiam ser mais apropriadas.
Algumas problemas associados ao uso exclusivo do IMC incluem:
– Subdiagnóstico: o IMC não diferencia entre massa gorda e magra, nem considera as distribuições de gordura corporal. Assim, indivíduos com IMC normal ou sobrepeso podem ter excesso de apisodidade e risco elevado de doenças.
– Superdiagnóstico: pessoas com IMC elevado, como aqueles com maior massa óssea ou alta massa muscular (ex.: atletas) podem ser erroneamente classificadas como obesas, mesmo sem risco aumentado de morbidade.
– Limitação funcional: o IMC não avalia o estado funcional de tecidos e órgãos nem a capacidade para atividades diárias, critérios essenciais na avaliação da saúde.
Então, como diagnosticar a obesidade?
Houve um forte consenso entre os especialistas que o IMC deve ser restrito ao rastreamento de pacientes com possível obesidade, enquanto medidas adicionais de adiposidade são essenciais para confirmar a obesidade a nível clínico.
Além dessas medidas adicionais, critérios objetivos e clinicamente significativos para obesidade devem ser usados para a avaliação da saúde ou doença de um indivíduo.
Portanto, os critérios que diagnosticam a obesidade clínica são os seguintes:
1) Critério antropométrico (p/ obesidade pré-clínica e clínica): confirmação do excesso de gordura corporal por pelo menos outro critério antropométrico além do IMC (ex.: circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura) ou por medição direta de gordura. É razoável assumir a presença de excesso de adiposidade em pessoas com níveis muito elevados de IMC (exemplo, >40 kg/m2).
2) Critérios clínicos relacionados à adiposidade (apenas p/ obesidade clínica) – inclui um ou ambos os seguintes:
- Sinais ou sintomas de disfunção contínua dos sistemas de órgãos
- Limitações ajustadas pela idade na mobilidade ou em outras atividades básicas da vida diária (exemplo, tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, continência e alimentação)
Vale ressaltar que caso o indivíduo possua sinais ou sintomas de disfunção de órgãos e/ou limitações em atividades, mas que não sejam causados pelo excesso de adiposidade, não há presença de obesidade clínica.
Os sinais de disfunção de órgãos em adultos
Como visto, sinais e sintomas de disfunção contínua dos sistemas de órgãos relacionados ao excesso de gordura são um dos critérios para diagnosticar a obesidade clínica. Abaixo, conheça quais são esses parâmetros:
- Sistema nervoso central: perda de visão, dores de cabeça recorrentes ou ambos
- Sistema respiratório: hipoventilação, falta de ar, chiado ou qualquer combinação destes
- Metabolismo: o cluster de hiperglicemia, altos níveis de triglicerídeos e baixo HDL-colesterol
- Fígado: disfunção metabólica associada doença hepática esteatótica com fibrose
- Sistema renal: microalbuminúria com eGFR reduzida
- Sistema reprodutivo: anovulação, oligomenorreia e síndrome do ovário policístico, hipogonadismo masculino
- Vias aéreas superiores: apneia ou hipopneia durante o sono
- Sistema cardiovascular: insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida; fadiga crônica e edema de membros inferiores; fibrilação atrial crônica ou recorrente; hipertensão da artéria pulmonar; trombose venosa profunda recorrente ou embolia pulmonar; aumento da pressão arterial
- Sistema urinário: incontinência urinária recorrente ou crônica
- Sistema musculoesquelético: dor crônica e intensa no joelho ou quadril
- Sistema linfático: linfedema de membros inferiores (causando dor crônica, redução da amplitude de movimento ou ambos).
O que podemos concluir?
Em resumo, os especialistas propõem um avanço no entendimento da obesidade, que agora deixa de ser vista como uma condição única. Ela pode se manifestar como obesidade pré-clínica, uma condição que aumenta o risco de doenças, ou como obesidade clínica, uma doença já existente com disfunções evidentes e comprometimento funcional.
Para saber mais sobre esses critérios inovadores e suas implicações para o tratamento da obesidade, acesse o material completo.
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Referência:
Rubino, F., Cummings, D. E., Eckel, R. H., Cohen, R. V., Wilding, J. P., Brown, W. A., … & Mingrone, G. (2025). Definition and diagnostic criteria of clinical obesity. The Lancet Diabetes & Endocrinology.

A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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