Dieta, nutrientes e saúde bucal: qual é a relação?

Postado em 25 de outubro de 2023

Vitamina D, açúcar, gorduras: entenda o papel de alimentos e nutrientes na saúde bucal, seja para beneficiá-la ou prejudicá-la.

A saúde bucal tem uma grande influência no nosso bem-estar, com um papel crucial na capacidade de falar, comer, e sorrir com confiança. Além disso, ela está intimamente ligada à saúde de órgãos vitais, como o coração e os pulmões. 

No Brasil, as doenças bucais de maior prevalência são a cárie e as doenças periodontais. Estas condições podem trazer diversos impactos negativos, como dor, perda dentária, diminuição do apetite, perda de peso involuntária, além de tratamentos caros e de longa duração.

nutrientes e saúde bucal

Fonte: Canva.com

Para evitar os problemas dentários, as práticas tradicionais de higiene bucal são indispensáveis. Porém, você sabia que a alimentação pode exercer um papel essencial neste quesito? 

Neste Dia do Dentista (25/10), entenda como a dieta e a ingestão de nutrientes podem afetar a saúde bucal.  Confira a seguir.

Alimentos e nutrientes que beneficiam a saúde bucal

Frutas e vegetais

Vários estudos mostraram um efeito positivo de frutas e vegetais na saúde bucal, considerando seu alto teor de água, fibras, micronutrientes e antioxidantes. Tais alimentos auxiliam na produção de saliva e limpeza dos dentes, neutralizam ácidos nocivos, e protegem contra desmineralização e cáries. 

Em uma pesquisa suíça, a ingestão diária de mirtilos reduziu a inflamação gengival em pacientes com gengivite.

Alimentos anti bacterianos

As doenças periodontais estão relacionadas ao estresse oxidativo. Os patógenos bacterianos que habitam a placa dental desencadeiam a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), que estimulam a ativação de osteoclastos e aumentam a perda óssea.

Por outro lado, alguns alimentos protegem os tecidos periodontais contra estes danos. Em uma revisão, os autores identificaram vários compostos antibacterianos em alimentos como chá verde, cacau, gengibre, alho, curry, coentro, canela e orégano

Vitamina D

A vitamina D é um dos nutrientes mais importantes para a saúde bucal. Ela desempenha os seguintes papéis:

  • Absorção de cálcio e fosfato, contribuindo para mineralização dos dentes;
  • Regulação do metabolismo ósseo, incluindo ossos que sustentam a dentição;
  • Osseointegração de implantes dentários;
  • Propriedades imunológicas contra patógenos periodontais;
  • Efeito anti-cárie, estimulando a produção de peptídeos antimicrobianos;
  • Propriedades anti-inflamatórias.

De acordo com algumas pesquisas, maiores ingestões de vitamina D durante a gravidez reduzem o risco de cárie. Além disso, a deficiência em adultos está associada com doenças periodontais e perda dentária.

Cálcio

O cálcio é um mineral fundamental para a formação e manutenção de ossos e dentes saudáveis. Junto com o fósforo, ele compõe os cristais de hidroxiapatita, encontrados no esmalte dentário. Além disso, é componente da dentina e da matriz extracelular circundante.

Uma ingestão adequada de cálcio é necessária para garantir que os dentes sejam fortes e resistentes à cárie. Sugere-se que o cálcio presente nos produtos lácteos compense algumas das propriedades cariogênicas da lactose, açúcar presente nesses alimentos. 

Em um ensaio clínico, a suplementação de 500 mg de cálcio e 250 UI de vitamina D aumentou a densidade óssea e reduziu a inflamação gengival de pacientes com periodontite crônica. 

Vitamina C

A vitamina C desempenha um papel importante na síntese de colágeno, proteína essencial para a saúde das gengivas e suporte dos dentes. Sua deficiência leva ao escorbuto, doença ligada ao sangramento e inflamação gengival, e à fragilidade dentária.

Além disso, a vitamina C também é importante para o processo de cicatrização, incluindo as feridas na boca após procedimentos odontológicos.

Saúde bucal: alimentos e nutrientes prejudiciais

Açúcar 

A relação entre o consumo de açúcar e a prevalência de cáries já é amplamente conhecida. Do ponto de vista biológico, a cárie ocorre por uma perda de cálcio e fosfato nos dentes, induzida por ácidos orgânicos provenientes da fermentação dos carboidratos.

A sacarose (açúcar de mesa) é o carboidrato mais cariogênico: uma dieta alta neste açúcar aumenta o risco de cáries em 9 vezes.

Outros açúcares livres, sejam eles naturais ou artificiais, também induzem às cáries, principalmente quando consumidos com frequência. Por isso, a recomendação é evitar o consumo recorrente de doces, e limitar os açúcares livres a <10% do VET.

Alimentos ácidos

Os alimentos ácidos são a principal causa exógena para a erosão dentária. Os refrigerantes, por exemplo, são alimentos com ácidos fosfórico e cítrico, que desgastam o esmalte dos dentes.

Assim, recomenda-se evitar a ingestão frequente de alimentos com pH abaixo 5.5. Além dos refrigerantes, incluem-se nesta lista o suco de laranja, picles, café, vinho e vinagre

Gorduras saturadas

As gorduras saturadas, trans e ômega-6 possuem um potencial pró-inflamatório sistêmico, e parecem promover a inflamação periodontal. Em um estudo com 264 participantes, a ingestão de gordura saturada foi associada à maior ocorrência de  lesões periodontais. 

Sendo assim, evitar alimentos altos neste nutriente pode proteger a saúde bucal. Carnes vermelhas, processadas, embutidos e margarina devem ser limitadas.

Outras recomendações para manter a saúde bucal

Como visto, diversos alimentos e nutrientes possuem uma relação intrínseca com a saúde bucal, podendo beneficiá-la ou não.

Além disso, outras recomendações para manter a higiene oral incluem:

  1. Escovar os dentes após todas as refeições, durante o tempo necessário;
  2. Substituir a escova a cada 3 meses;
  3. Usar fio dental com frequência;
  4. Visitar o dentista com regularidade;
  5. Evitar alimentos pegajosos que grudam nos dentes (pirulitos, caramelo, balas duras);
  6. Beber água fluoretada;
  7. Evitar álcool e tabaco.

Cirurgias odontológicas: como orientar a alimentação do paciente?

Para além da saúde bucal do dia-a-dia, muitas vezes os tratamentos odontológicos mais especializados, como extrações de dentes ou implantes dentários, se fazem necessários.

Nestes casos, os nutricionistas devem ficar atentos: a alimentação dos pacientes afeta diretamente a capacidade cicatrização, inflamação e recuperação pós-cirúrgica.

A principal recomendação é optar por alimentos frios, macios ou líquidos, evitando a irritação da área operada. Além disso, nutrientes essenciais neste período incluem as proteínas (formação de novos tecidos e a recuperação de lesões); a vitamina C (produção de colágeno e cicatrização); e vitamina D e cálcio (manter a saúde óssea). 

Sobretudo, alimentos antioxidantes auxiliam na redução do processo inflamatório. Aqui, as frutas, vegetais, farinhas de castanhas e peixes macios são bem-vindos.

Muitas vezes, os sorvetes industrializados são indicados por dentistas como um alimento que cumprem os principais requisitos (gelados e macios). Embora sejam práticos e saborosos, outras opções podem ser mais interessantes, considerando a composição nutricional e auxílio na recuperação. São exemplos:

  • Iogurtes naturais;
  • Smoothies proteicos;
  • Açaí com poucos ingredientes;
  • Sorvetes caseiros;
  • Frutas picadas ou amassadas;
  • Pastas (homus, cream cheese);
  • Queijos (cottage, ricota);
  • Vegetais bem cozidos;
  • Carnes macias (peixe assado, frango desfiado);
  • Ovos mexidos;
  • Sopas, caldos e purês.

Os alimentos comumente consumidos quentes devem ser consumidos em temperatura ambiente ou fria.

Agora que você já conhece a relação entre a dieta, nutrientes e saúde bucal, fica clara a importância da integração entre diferentes áreas da saúde para um cuidado integral dos pacientes.

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Referências:

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