Alto risco de morte, disfunção de órgãos vitais, e mais: conheça os critérios que definem se um paciente é crítico ou não.
Ao redor do mundo, estima-se que haja de 30 a 45 milhões de casos de doenças críticas a cada ano. Entretanto, o que define uma doença crítica? Afinal, como classificar um paciente como sendo crítico?
O que é um paciente crítico?
Embora possa parecer óbvio que um paciente crítico é aquele com doenças muito graves, há uma falta de consenso mundial em torno da sua definição precisa.
Para os profissionais de saúde isso é particularmente preocupante, pois interpretações discordantes de quando um paciente está gravemente doente podem levar a diferentes avaliações clínicas e tratamentos.
Apesar de não haver uma definição universal única, no Brasil, seguimos a definição preconizada pela Resolução Nº 2271/2020 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que diz:
“Define- se como paciente crítico ou gravemente enfermo aquele que apresenta instabilidade ou risco de instabilidade de sistema vital com risco de morte. Esses pacientes podem sofrer deterioração de um ou mais funções dos órgãos vitais, apresentando instabilidade cardiovascular, respiratória, neurológica, renal, metabólica ou patologias que possam levar à instabilidade desses sistemas.”
Pesquisa investigou critérios para definição da doença crítica
Um estudo de 2022 buscou reunir os principais atributos da doença crítica, a partir de uma revisão de escopo da literatura científica, e uma pesquisa online de 114 especialistas clínicos globais.
Em primeiro lugar, foram encontrados 4 grandes critérios para classificar um paciente como crítico:
- Alto risco de morte iminente
- Disfunção de órgãos vitais (como instabilidade hemodinâmica, falha respiratória, convulsão, distúrbios de consciência, etc)
- Necessidade de tratamento para evitar a morte
- Potencial reversibilidade
Sendo assim, os autores definiram a doença crítica como “um estado de saúde precário com disfunção de órgãos vitais, alto risco de morte iminente se os cuidados não forem fornecidos, e o potencial de reversibilidade”.
Nesta pesquisa, foi notado um amplo consenso na literatura e em fontes especializadas de que a doença crítica liga-se ao risco de vida e a disfunção de órgãos vitais – como a própria definição brasileira preconiza.
Já para o critério da reversibilidade, não há concordância. Algumas definições defendem que deve haver uma possível chance de recuperação, pois sem isso, todos os pacientes graves iriam morrer (o que não é verdade).
Já outras definições deixam esse atributo de lado, por conta da dificuldade de identificá-lo no âmbito clínico, além da dependência do contexto hospitalar. Em outras palavras, intervenções de altos recursos podem reverter algumas doenças críticas, o que não seria possível em cuidados de saúde de poucos recursos.
Níveis de cuidado do paciente crítico
Na maioria das vezes, o cuidado de pacientes críticos se realiza no ambiente das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) hospitalares.
Segundo o CFM, o nível de cuidado do paciente crítico depende do grau de complexidade e gravidade da condição de saúde, e podem ser estratificados da seguinte forma:
Nível | Tipos de pacientes | Exemplos de intervenções |
Nível de atenção III (muito alto) | Pacientes críticos, com instabilidade fisiológica, risco de morte elevado. Requerem monitorização e/ou intervenções invasivas altamente complexas. |
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Nível de atenção II (alto) | Pacientes críticos, instabilidade fisiológica, risco de morte. Requerem monitorização e/ou intervenções invasivas complexas. |
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Classificação de pacientes críticos
Alguns sistemas se propõem a identificar o critério de gravidade do paciente gravemente enfermo, de modo a definir o melhor tratamento e racionalizar os recursos hospitalares.
Nesse contexto, especialistas desenvolveram índices de gravidade e prognósticos para auxiliar na indicação e acompanhamento dos resultados do tratamento na UTI. Conheça-os a seguir.
Critérios por prioridade
- Prioridade 1: Pacientes críticos instáveis que dependem de tratamento e monitorização intensiva na UTI.
- Prioridade 2: Pacientes com prioridade 1 e com menor probabilidade de recuperação.
- Prioridade 3: Pacientes instáveis com disfunção orgânica.
- Prioridade 4: Pacientes com prioridade 3 e com menor probabilidade de recuperação ou sobrevivência.
- Prioridade 5: Pacientes terminais ou sem possibilidade de recuperação.
Critérios por diagnóstico
- Sistemas acometidos: cardiovascular, pulmonar, nervoso, gastrointestinal, metabólico-renal, intoxicações exógenas, cirúrgicos, miscelânea.
Parâmetros clínicos
Além dos critérios citados, os parâmetros clínicos são considerados na avaliação do nível de prioridade do paciente crítico, sente estes
- Sinais vitais (pulso, pressão arterial sistêmica);
- Exames laboratoriais recentes (sódio sérico, glicemia)
- Alterações radiológicas, ultrassonográficas ou tomográficas (dissecção de aneurisma de aorta, hemorragia cerebral, contusão cerebral, ruptura de vísceras abdominais vista ou suspeitas) e eletrocardiográficas (ECG de IAM, taquicardia ventricular (TV), BAVT com instabilidade hemodinâmica)
- Achados clínicos de início agudo (anúria, obstrução das vias aéreas, coma, crises convulsivas)
Conclusão
Em resumo, no Brasil definimos um paciente crítico como aquele que apresenta instabilidade ou risco de instabilidade de sistema vital com risco de morte.
Na literatura científica, os critérios para a doença grave incluem alto risco de morte iminente, disfunção de órgãos vitais, necessidade de tratamento para evitar a morte e potencial reversibilidade.
A estratificação e classificação de pacientes críticos pode orientar o melhor tratamento, além de promover o gasto adequado de recursos hospitalares.
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- Paciente crítico: quais são as alterações metabólicas?
- E na prática, como faz? Cuidando do paciente crítico
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Referências:
Martinez RH, Liu KD, Aldrich JM. Overview of the Medical Management of the Critically Ill Patient. Clin J Am Soc Nephrol. 2022 Dec;17(12):1805-1813. doi: 10.2215/CJN.07130622. Epub 2022 Nov 18. PMID: 36400435; PMCID: PMC9718009.
Jackson M, Cairns T. Care of the critically ill patient. Surgery (Oxf). 2021 Jan;39(1):29-36. doi: 10.1016/j.mpsur.2020.11.002. Epub 2020 Dec 16. PMID: 33776181; PMCID: PMC7985681.
Resolução CFM Nº 2.271/2020. Define as unidades de terapia intensiva e unidades de cuidado intermediário conforme sua complexidade e nível de cuidado, determinando a responsabilidade técnica médica, as responsabilidades éticas, habilitações e atribuições da equipe médica necessária para seu adequado funcionamento.
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