Diretriz ESPEN e EASO para diagnóstico de obesidade sarcopênica

Postado em 2 de maio de 2022

Diferente da existência isolada de obesidade ou sarcopenia, a obesidade sarcopênica deve ser tratada como uma condição clínica única

A obesidade sarcopênica (OS) é uma condição cada vez mais conhecida, que influencia negativamente os resultados clínicos e funcionais dos pacientes acometidos. Contudo, a falta de critérios diagnósticos universais afeta a identificação da doença, além de dificultar o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento.

De forma a mudar esse cenário, a Sociedade Européia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN), em parceria com a Associação Européia para o Estudo da Obesidade (EASO), lançou uma nova diretriz para definição e critérios diagnósticos da Obesidade Sarcopênica.

Para isso, 38 pesquisadores de 16 países diferentes realizaram uma revisão sistemática sobre o tema. O comitê contou com especialistas em obesidade, sarcopenia e composição corporal, além de nutricionistas, geriatras e dietistas. Confira os consensos estabelecidos a seguir.

diagnóstico obesidade sarcopênica

Fonte: Shutterstock

Definição: o que é a obesidade sarcopênica?

A obesidade sarcopênica foi definida como a coexistência entre a obesidade (excesso de adiposidade) e a sarcopenia (baixa massa e função muscular). Nesta condição, foi enfatizado o alto risco de fragilidade, comorbidades e mortalidade que ela gera, especialmente na população idosa.

O grupo defende que esta é uma condição clínica única, diferente da existência isolada de obesidade ou sarcopenia. Isso se dá por dois motivos principais:

  1. Interação patogênica entre o acúmulo de gordura e a perda de massa e função do músculo esquelético;
  2. Interações clínicas negativas entre obesidade e sarcopenia, levando a um risco sinergicamente maior de doenças metabólicas e prejuízo funcional, quando comparado com o risco cumulativo de cada condição separada.

 

Primeira etapa do diagnóstico: a triagem

Segundo os especialistas, o procedimento de diagnóstico deve ser dividido em etapas. A primeira delas, que corresponde à triagem, é caracterizada pela presença concomitante de:

  1. Massa corporal elevada – indicada por IMC ou circunferência de cintura elevados (pontos de corte específicos para cada etnia);
  2. Marcadores de sarcopenia – sintomas clínicos, fatores de risco ou resultado positivo em questionários validados (por exemplo, SARC-F para idosos).

Dentre os fatores de risco para a obesidade sarcopênica, salienta-se que todas as pessoas com sobrepeso ou obesidade acima de 70 anos devem ser regularmente rastreadas por meio de testes funcionais musculares.

 

Segunda etapa: o diagnóstico de obesidade sarcopênica

Após uma triagem positiva para ambos os fatores descritos anteriormente, deve-se iniciar a etapa do diagnóstico em si, composto por dois níveis:

1) Alterações na função do músculo esquelético

Para avaliar a força do músculo, indica-se os seguintes métodos: força de preensão manual, força extensora do joelho, ou teste de sentar e levantar.

Embora a velocidade da marcha tenha relevância clínica como medida de desempenho físico, o grupo ESPEN/EASO não recomenda sua inclusão como ferramenta primária, devido a potenciais fatores clínicos de confusão que podem afetar os resultados dos testes.

2) Alterações na composição corporal

Para avaliar a composição corporal, sugere-se a avaliação por densitometria por dupla emissão de raios X (DXA), ou bioimpedância elétrica (BIA) como uma segunda escolha alternativa. A tomografia computadorizada (TC) também deve ser usada quando possível.

As medidas antropométricas para estimar a massa muscular não são recomendadas rotineiramente, pois são afetadas pelo excesso de gordura subcutânea ou acúmulo de líquido, como comumente observado na obesidade.

 

Terceira etapa: definir o estágio da OS

Após o diagnóstico, é necessário estratificar os pacientes com base na gravidade clínica e maior risco de desfechos ruins. Assim, dividiu-se a obesidade sarcopênica em dois estágios:

Estágio I: quando há ausência de complicações clínicas.

Estágio II:  presença de pelo menos uma complicação atribuível à alteração da composição corporal e dos parâmetros funcionais do músculo (exemplo: doenças metabólicas, cardiovasculares e respiratórias). Aqui há, portanto, necessidade de tratamento e acompanhamento mais incisivos.

 

Indicou-se a necessidade de estudos futuros

O grupo de especialistas ESPEN/EASO defende que as propostas de definição e diagnóstico de obesidade sarcopênica sejam implementadas na prática clínica.

Além disso, incentivou-se fortemente que estudos de validação, acompanhamento prospectivo e análises secundárias de coortes sejam feitos, com o objetivo de aumentar as evidências científicas. Desse modo, em um prazo de 3 a 5 anos, as associações deixam claras suas intenções de renovação da diretriz.

Para ler o material na íntegra, clique aqui.

Referências:

DONINI, Lorenzo M. et al. Definition and diagnostic criteria for sarcopenic obesity: ESPEN and EASO consensus statement. Clinical Nutrition, 2022.

Leia também



Cadastre-se e receba nossa newsletter