Alimentação cardioprotetora e uso de estatina estão entre as recomendações para redução do risco de doença cardiovascular.
A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte em todo o mundo, sendo responsável por quase 18 milhões de óbitos ao ano. Nos últimos anos, novas descobertas para reduzir o risco desta enfermidade foram estabelecidas.
Pensando nisso, o NICE (National Institute for Health and Care Excellence) atualizou sua diretriz de avaliação e redução de risco de doenças cardiovasculares. O objetivo é ajudar profissionais de saúde a identificar pessoas com risco de problemas cardiovasculares, a fim de aplicar as estratégias de prevenção necessárias.
A seguir, confira as principais recomendações desta diretriz.
Como identificar o risco cardiovascular?
Os profissionais NICE indicam a ferramenta “QRISK3” para identificar o risco cardiovascular dos próximos 10 anos, em pacientes com 25 a 84 anos sem DCV.
Para alguns indivíduos, tal ferramenta não precisa ser aplicada, uma vez que o alto risco de DCV já está estabelecido. Se encaixam nesta recomendação:
- Diabéticos do tipo 1;
- Maiores de 85 anos, principalmente fumantes e/ou com pressão arterial elevada;
- Pessoas com taxa de filtração glomerular estimada < 60 ml/min/1,73 m² e/ou albuminúria;
- Pessoas com hipercolesterolemia familiar ou outros distúrbios hereditários do metabolismo lipídico.
Em outras pessoas, contudo, as ferramentas podem subestimar o risco cardiovascular, com valores menores do que a realidade. Por isso, uma avaliação minuciosa é necessária. Nesta recomendação, se encaixam aqueles:
- Tratados para HIV;
- Ex-fumantes recentes;
- Com doenças mentais graves;
- Com distúrbios autoimunes e outros distúrbios inflamatórios sistêmicos.
- Que já tomam medicamentos para tratar fatores de risco cardiovascular;
- Que tomam medicamentos causadores de dislipidemia, como imunossupressores
- Com doenças mentais graves;
- Com distúrbios autoimunes e outros distúrbios inflamatórios sistêmicos.
Além da QRISK3 o acompanhemento dos níveis lipídicos no sangue também é recomendado, incluindo colesterol total, colesterol HDL, colesterol LDL, e triglicerídeos.
Como podemos prevenir doença cardiovascular?
Para prevenção de doença cardiovascular, os autores da diretriz recomendam principalmente as mudanças de estilo de vida. São elas:
Adotar uma dieta cardioprotetora
A dieta cardioprotetora consiste em escolhas alimentares que promovem a saúde cardiovascular, equilibrando nutrientes importantes e evitando alimentos que possam prejudicar o coração.
Os autores da diretriz focam principalmente na gordura como macronutriente que pode aumentar ou reduzir o risco vascular. Neste sentido, eles aconselham:
- Reduzir gordura total: os lipídios devem representar 30% ou menos das calorias diárias;
- Reduzir gordura saturada: devem representar 7% ou menos das calorias diárias;
- Aumentar gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas: incluir azeite de oliva, óleo de colza ou cremes vegetais à base destes óleos no preparo de alimentos.
Praticar atividade física
A atividade física, principalmente aeróbicas e de fortalecimento muscular, é aconselhada para diminuir o risco de DCV. Exercícios como caminhada, corrida, natação e bicicleta fortalecem a capacidade cardiovascular, controlam os níveis de colesterol e triglicerídeos, e reduzem a pressão arterial.
Controle de peso
Os pacientes com obesidade e sobrepeso devem adotar uma intervenção que ajude no controle de peso corporal. O excesso de peso pode aumentar a sobrecarga no coração e os níveis de gordura no sangue, contribuindo para o desenvolvimento de condições como aterosclerose e hipertensão arterial.
Evitar tabaco e bebidas alcóolicas
O tabaco contém substâncias tóxicas que podem danificar os vasos sanguíneos e aumentar a pressão arterial, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
Da mesma forma, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode elevar a pressão arterial e causar danos ao músculo cardíaco, prejudicando o bom funcionamento do coração.
Estatina como prevenção primária e secundária
Quando mudanças de estilo de vida são insuficientes ou ineficazes para prevenir o risco cardiovascular, o NICE indica o uso de estatinas.
A atorvastatina 20 mg é indicada como prevenção primária para pacientes com:
- Diabetes tipo 1 com mais 40 anos, ou que tiveram diabetes por mais de 10 anos, ou com nefropatia, ou ainda com outros fatores de risco;
- Diabetes tipo 2 com pontuação QRISK3 ≥10%, ou maiores de 85 anos;
- Doença renal crônica (DRC).
Já a atorvastatina 80 mg é indicada para casos de prevenção secundária, a menos que o paciente curse com DRC (em que permanece a dosagem de 20 mg).
Estratégias não indicadas
Por fim, o NICE não indica determinadas estratégias para prevenir o risco cardiovascular. Dentre elas, está o uso de aspirina, fibratos, ácido nicotínico (niacina), sequestrantes de ácidos biliares (resinas de troca aniônica), e compostos de ômega-3.
Conclusão
Diante da prevalência mundial das doenças cardiovasculares, é essencial que todos os profissionais de saúde estejam atentos à identificação de riscos e à aplicação de estratégias preventivas adequadas.
A nova diretriz NICE destaca as mudanças de estilo de vida como forma de prevenir a DCV. Ademais, o uso de estatinas também é posto como opção de prevenção primária e secundária. De todo modo, qualquer que seja a intervenção adotada, é importante que haja uma avaliação individualizada e um acompanhamento adequado.
Clique aqui para ler a diretriz completa.
Se você gostou deste artigo, leia também:
- Como promover a prevenção de doenças cardiovasculares?
- Hipertensão arterial: como orientar o paciente para prevenção e tratamento?
- Vinho tinto: consumo moderado modula microbiota e beneficia saúde cardiovascular
Referência:
National Institute for Health and Care Excellence (NICE). CG181: Cardiovascular disease: risk assessment and reduction, including lipid modification. 2023.
Leia também
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.