Gorduras nos alimentos: entenda como elas influenciam o risco de mortalidade em adultos

Postado em 13 de janeiro de 2025

Gorduras saturadas são vilãs e insaturadas são boas? Novo estudo mostra que nem tudo é tão simples!

Sabemos que as gorduras nos alimentos podem ser categorizadas em diferentes tipos: ácidos graxos saturados, monoinsaturados e poliinsaturados. 

Há décadas, o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas é desincentivado, visto que seu excesso pode aumentar o risco para doenças cardiovasculares. Por outro lado, os ácidos graxos poliinsaturados desempenham um papel vital na prevenção de doenças e saúde geral.

Considerando que os ácidos graxos essenciais são obtidos exclusivamente de fontes alimentares, suas concentrações no sangue, também conhecidas como ácidos graxos livres (AGL), poderiam servir como indicadores da ingestão alimentar. 

Gorduras nos alimentos

Fonte: Canva

Entretanto, a relação entre diferentes AGL e o risco de mortalidade permanece obscura – pelo menos, até um recente artigo científico preencher essa lacuna. Confira a seguir!

30 ácidos graxos foram avaliados

A pesquisa tratou-se de um estudo de coorte, baseado na  Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES), que avalia o estado de saúde e nutrição dos cidadãos dos Estados Unidos.

Para a análise, os autores incluíram adultos com 18 anos ou mais, que participaram do NHANES durante 2011 a 2014, e que tinham dados disponíveis sobre medições de AGL séricos. Um total de 30 ácidos graxos, incluindo 11 ácidos graxos saturados e 19 ácidos graxos insaturados foram medidos.

No grupo de ácidos graxos poliinsaturados (AGP), foram incluídas 3.719 pessoas, com seguimento médio de 6.7 anos (5.8 a 7.8 anos). No grupo de ácidos graxos saturados (AGS), incluiu-se 3.900 pessoas, com acompanhamento médio de 6.9 ​​anos (5.9 a 8 anos). 

Para apuração dos resultados de mortalidade, utilizou-se o arquivo de mortalidade do NHANES até 31 de dezembro de 2019. Os dados sobre a causa básica de morte foram utilizados com base na 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).

A calibração do modelo múltiplo foi realizada usando análise de regressão de Cox para fatores de risco conhecidos para explorar as associações entre AGL e mortalidade cardiovascular e por todas as causas.

Resultados

Ácidos graxos insaturados

No grupo de ácidos graxos insaturados, ácido miristoléico (14:1 n-5), ácido palmitoléico (16:1 n-7), ácido cis-vacênico (18:1 n-7), ácido nervoso (24:1 n-9), ácido eicosatrienóico (20:3 n- 9), ácido docosatetraenóico (22:4 n-6) e ácido docosapentaenóico (22:5 n-6) foram positivamente associados com todas as causas mortalidade.

Por outro lado, o ácido docosahexaenóico – DHA (22:6 n-3) apresentou um risco estatisticamente menor de mortalidade por todas as causas.

Embora as diretrizes recomendem o aumento no consumo de ácidos graxos ômega-3, ensaios recentes não confirmaram isso, demonstrando impacto mínimo na mortalidade por todas as causas e na mortalidade cardiovascular. 

Como visto, nesta recente pesquisa, apenas o DHA sérico 22:6 n-3 foi associado a um menor risco de mortalidade por todas as causas e mortalidade cardiovascular. Esse ácido está presente principalmente em peixes gordurosos de água fria, como salmão e cavala.

Em contraste, uma meta-análise revelou que o consumo de ácidos graxos ômega-3, abrangendo 20:5 n-3 (EPA), DHA e 18:3 n-3 derivado de plantas (ALA), está ligado a uma diminuição do risco de mortalidade cardiovascular e por todas as causas entre indivíduos com doença cardiovascular aterosclerótica. Porém, nenhuma associação significativa foi observada entre a ingestão de ômega-6 ou AGP total e esses eventos.

Ácidos graxos saturados

Entre o grupo dos ácidos graxos saturados, o ácido palmítico (16:0) demonstrou maior risco de mortalidade por todas as causas, enquanto o ácido tricosanóico (23:0) e ácido lignocérico (24:0) foram associados a um menor risco de mortalidade por todas as causas

Desse modo, a pesquisa mostrou que diferentes tipos de AGS podem demonstrar diferentes efeitos nos fatores de risco cardiovascular, embora a maioria das recomendações dietéticas preconize a diminuição no consumo das gorduras saturadas.

Corroborando tais achados, um estudo recente enfatizou que os indivíduos que apresentavam níveis séricos mais elevados de AGS de cadeia muito longa (especificamente 22:0 e 24:0) experimentaram uma redução nos riscos associados a mortalidade por todas as causas, doença coronariana e por DCV. 

Vale ressaltar que a maioria dos ácidos graxos saturados de cadeia muito longa é derivado principalmente da ingestão de amendoim e nozes de macadâmia.

Conclusões

Os resultados desta pesquisa destacam a complexidade das relações entre os diferentes tipos de gorduras nos alimentos e os riscos de mortalidade. No geral, os achados sublinham a importância de individualizar as recomendações dietéticas, mas a promoção de alimentos como peixes gordurosos e oleaginosas parece benéfica.

Ainda assim, o estudo possui limitações. Por exemplo, os níveis de ácidos graxos circulantes são afetados por vários fatores, como obesidade, gordura visceral, resistência à insulina, etc. Portanto, a relação entre os níveis de AGL e a mortalidade ainda necessita ser mais aprofundada. 

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

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Referência:

Li, M., Zhang, L., Huang, B., Liu, Y., Chen, Y., & Lip, G. Y. (2024). Free fatty acids and mortality among adults in the United States: a report from US National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES). Nutrition & Metabolism, 21(1), 72.

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