Vinho tinto: consumo moderado modula microbiota e beneficia saúde cardiovascular

Postado em 29 de março de 2023

Com diversos compostos fenólicos, o vinho pode beneficiar a microbiota e trazer efeitos positivos à saúde

Apesar de ser uma bebida alcoólica, o vinho tinto possui diversos compostos fenólicos benéficos para a saúde. Estudos anteriores apontaram o papel destes polifenóis na diminuição do N-óxido de trimetilamina (TMAO), um metabólito dependente da microbiota e relacionado a doenças cardiovasculares.

Efeitos do vinho tinto na saúde

Para investigar este papel cardioprotetor, uma nova pesquisa avaliou o consumo moderado de vinho tinto, e sua influência na microbiota intestinal e no TMAO plasmático. Continue lendo para descobrir os resultados.

Polifenóis do vinho e seus efeitos na saúde

Os principais compostos fenólicos do vinho são os flavonóides, particularmente os flavan-3-ols, flavonóis e antocianinas. Outros compostos não flavonóides também estão presentes, como os álcoois fenólicos e estilbenos.

Grande parte dos polifenóis obtidos na dieta não são absorvidos no intestino delgado. Como consequência, cerca de 90% chegam intactos ao cólon, onde exercem função reguladora e provavelmente atuam como prebióticos.

Assim, não é à toa que o vinho tinto tem sido associado a uma menor incidência de infarto, AVC, câncer e mortalidade geral. Particularmente em relação à saúde cardiovascular, o vinho tinto também possui uma substância análoga à colina, que pode diminuir as concentrações plasmáticas de TMAO.

Até agora, porém, as relações entre a microbiota intestinal, TMAO e o metaboloma permaneciam pouco estudadas.

42 pacientes com Doença Arterial Coronariana foram investigados

A pesquisa em questão tratou-se de estudo cruzado, randomizado e controlado. Foram recrutados 42 pacientes do Instituto do Coração da USP, sendo estes homens de 46 a 69 anos, com IMC < 30 kg/m², e com Doença Arterial Coronariana, estáveis e assintomáticos.

Duas intervenções foram conduzidas. Em primeiro lugar, os pacientes foram orientados a consumir 250 ml de vinho tinto por dia, 5 dias por semana, durante 3 semanas. Cada amostra continha 109 mg/L de antocianinas totais e 2155 mg/L de polifenóis totais.

Em seguida, orientou-se a abstenção total de álcool por mais 3 semanas. O objetivo primário foi avaliar as mudanças da microbiota intestinal e das concentrações plasmáticas de TMAO entre o consumo de vinho tinto, e o período de abstenção da bebida.

A microbiota intestinal foi analisada por meio de sequenciamento de alto rendimento 16S rRNA. Conteúdo plasmático de TMAO foi avaliado por LC-MS/MS. O metaboloma plasmático foi avaliado por LC-MS/MS de ultra-alta performance. O efeito do consumo de vinho foi avaliado por comparações individuais usando testes pareados.

O vinho tinto beneficiou a microbiota intestinal

Ao contrário do que se esperava, o consumo de vinho tinto não reduziu as concentrações de TMAO. Este resultado foi contrário à uma pesquisa anterior, em que a bebida diminuiu TMAO em camundongos.

Entretanto, o vinho tinto trouxe uma modulação significativa da microbiota, com diferenças na diversidade β e na predominância de Parasutterella, Ruminococcaceae, várias espécies de Bacteroides e Prevotella.

Parasutterella foi o principal gênero responsável por alterações na composição da microbiota intestinal. Este é um gênero considerado benéfico para a digestão de fibras, produção de succinato, metabolismo de aminoácidos aromáticos salutares e metabolismo de ácidos biliares.

O metaboloma plasmático também foi modificado, particularmente as vias que afetam aminoácidos, vitaminas e cofatores, lipídios e carboidratos.

Algumas alterações plasmáticas que reduzem o estresse oxidativo foram encontradas, como o aumento nas concentrações de ribitol e dos metabólitos de tirosina. Outras alterações metabólicas indicaram benefícios para a resistência insulínica, prevenção de DM2 e gasto energético.

Qual foi a conclusão?

Em homens com Doença Arterial Coronariana, o consumo de vinho tinto não diminuiu a concentração de TMAO. Os autores atribuíram este resultado à variabilidade intraindividual, e sugerem mais estudos com amostras maiores e durações mais longas.

Entretanto, o vinho beneficiou a microbiota intestinal e trouxe mudanças vantajosas no metaboloma plasmático.

Sendo assim, embora as mudanças na microbiota possam mediar os efeitos fisiológicos benéficos do consumo de vinho, os mecanismos de proteção cardiovascular devem ser mais investigados.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

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Referência:

HAAS, Elisa A. et al. A red wine intervention does not modify plasma trimethylamine N-oxide but is associated with broad shifts in the plasma metabolome and gut microbiota composition. The American Journal of Clinical Nutrition, v. 116, n. 6, p. 1515-1529, 2022.

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