A vitamina D3, via oral e em regime diário, é a melhor estratégia de suplementação.
A vitamina D é um micronutriente que ainda enfrenta muitas controvérsias: qual é seu status ideal? Qual é a melhor forma de suplementar? Existem riscos de toxicidade?
Sabendo disso, um novo consenso de avaliação e suplementação de vitamina D foi recentemente publicado, com base na 6ª Conferência Internacional “Controvérsias em Vitamina D”. A seguir, confira os principais tópicos abordados por esse material.
Qual é o status ideal de vitamina D?
Até o momento, o 25(OH)D sérico total (a soma de 25(OH)D3 e 25(OH)D2) é o biomarcador aceito do status da vitamina D.
Nesse sentido, as diretrizes de vitamina D emitidas por grandes organizações mundiais recomendam que níveis ideais de 25(OH)D estejam na faixa de 50 a 75 nmol/L (20-30 ng/mL).
No entanto, os níveis ideais ainda são tema de debate na ciência. As diferenças nos níveis ideais dependem de vários fatores, como estação, latitude, exposição à luz UVB, pigmentação da pele, IMC, sexo, idade, nível de exercício físico, forticação alimentar, uso de suplementos e fatores genéticos.
Uma meta mais alta (30 ng/mL) pode ser necessária no final do verão, para permitir a queda prevista durante os meses de inverno.
Quando avaliar o status de vitamina D?
Segundo os autores do consenso, a triagem para o status ideal de vitamina D na população em geral deve ser evitada, pois não é informativa e tem um fardo econômico considerável.
No entanto, várias características e condições patológicas podem colocar os indivíduos em risco de déficits graves. Por isso, recomenda-se a medição de 25(OH)D em pacientes em risco de deficiência, sendo estes:
- Adultos mais velhos (>50 anos)
- Pessoas institucionalizadas
- Pessoas confinadas em casa, e/ou que trabalham longas horas em ambientes fechados, e/ou trabalhadores noturnos
- Pessoas com pele escura
- Baixos níveis de atividade física
- Pessoas com uma doença debilitante/crônica (diabetes, doença renal crônica, síndromes de má absorção gastrointestinal, distúrbios da paratireoide, doenças hepáticas, obesidade)
- Pacientes após cirurgia bariátrica
- Pessoas que tomam medicamentos que aumentam o catabolismo da vitamina D (fenobarbital, carbamazepina, dexametasona, rifampicina, nifedipina, espironolactona, ritonavir, acetato de ciproterona)
- Bebês de mães com deficiência de vitamina D
Qual a melhor maneira de suplementar vitamina D?
De acordo com o material, a melhor forma de suplementar vitamina D é a partir de doses diárias de colecalciferol (vitamina D3) por via oral.
A dose dietética recomendada para vitamina D pela Academia Nacional de Medicina é de 400 a 800 UI por dia, que parece ser adequada para evitar deficiência clínica de vitamina D e manter a homeostase do cálcio em indivíduos saudáveis. Por outro lado, o nível máximo de ingestão tolerável é de 4000 UI por dia.
No entanto, a dose “ótima” de vitamina D varia de acordo com o resultado desejado. Por exemplo, sugere-se que a dosagem para pessoas com obesidade precise ser três vezes maior.
Em relação à administração oral, os autores ressaltam que tomar suplementos com uma refeição rica em gordura pode melhorar a absorção de vitamina D, sendo esta uma vitamina lipossolúvel.
Por fim, indica-se a administração parenteral intermitente em pacientes com hipovitaminose D que não são adequados para ingestão oral, ou com doenças intestinais de má absorção, incluindo doença inflamatória intestinal, doença celíaca, insuficiência pancreática, síndrome do intestino curto e cirurgia pós-bariátrica.
É seguro suplementar vitamina D?
Geralmente, a suplementação de vitamina D é um tratamento seguro com eventos adversos mínimos, e sem necessidade de monitoramento rigoroso. No entanto, os efeitos colaterais existem e podem resultar em toxicidade da vitamina D.
A toxicidade (hipervitaminose D) resulta em hipercalcemia grave, que pode persistir por um período prolongado de tempo. Os sinais e sintomas abrangem eventos adversos nos sistemas cardiovascular, renal, gastrointestinal, neurológico e musculoesquelético.
Contudo, este é um evento raro, causado principalmente por overdose não intencional devido a produtos farmacêuticos. Por isso, o acompanhamento de um profissional de saúde é imprescindível.
É preciso monitoramento contínuo do status de vitamina D?
Em geral, não. O monitoramento de rotina dos níveis de 25(OH)D é desnecessário para pacientes em doses de manutenção de vitamina D de longo prazo, de até 2000 UI/dia.
Resumidamente, o colecalciferol pode manter os níveis séricos fisiológicos dentro de um nível seguro (30 a 50 ng/mL) por um longo período, independentemente da dosagem administrada (diária ou intermitente).
Isso acontece por conta da sua lenta eliminação farmacocinética, causada pelo armazenamento prolongado e liberação sob demanda de acordo com as necessidades fisiológicas.
Contudo, um novo teste após 8 a 12 semanas do início da suplementação é apropriado quando houver suspeita de baixa adesão, em caso de sintomas sugestivos de deficiência de vitamina D e para pacientes em risco de nível persistente (25(OH)D < 30 ng/mL).
Isso inclui indivíduos institucionalizados ou hospitalizados, pessoas nas quais a terapia com vitamina D revela hiperparatireoidismo primário subclínico, indivíduos obesos, indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica, indivíduos que usam certos medicamentos concomitantes e pacientes com má absorção.
Mais informações
Outras informações discutidas no consenso incluem o metabolismo e o mecanismo de ação da vitamina D no corpo, além de resultados clínicos da sua deficiência.
Para ler o material completo, clique aqui.
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Referência:
Andrea Giustina, John P Bilezikian, Robert A Adler, Giuseppe Banfi, Daniel D Bikle, Neil C Binkley, Jens Bollerslev, Roger Bouillon, Maria Luisa Brandi, Felipe F Casanueva, Luigi di Filippo, Lorenzo M Donini, Peter R Ebeling, Ghada El-Hajj Fuleihan, Angelo Fassio, Stefano Frara, Glenville Jones, Claudio Marcocci, Adrian R Martineau, Salvatore Minisola, Nicola Napoli, Massimo Procopio, René Rizzoli, Anne L Schafer, Christopher T Sempos, Fabio Massimo Ulivieri, Jyrki K Virtanen, Consensus Statement on Vitamin D Status Assessment and Supplementation: Whys, Whens, and Hows, Endocrine Reviews, 2024;, bnae009, https://doi.org/10.1210/endrev/bnae009
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