A gestação vegana pode ser segura e benéfica para mãe e bebê quando acompanhada por um nutricionista qualificado.
A gestação é um período no qual há muitas mudanças fisiológicas e de necessidades nutricionais. Por isso pode causar dúvidas nas futuras gestantes veganas. A gestação vegetariana é reconhecida como segura para mãe e bebê pelos principais órgãos nacionais e internacionais.
Gestantes veganas podem, inclusive, ter benefícios como um ganho de peso adequado, menor risco de diabetes gestacional, de pré-eclâmpsia e menores taxas de cesárea. Assim, a gestação vegana deve ser acolhida e respeitada.
Como deve ser a dieta para a gestante vegana?
A alimentação deve ser variada e baseada em leguminosas (feijões, soja e derivados, ervilha, lentilhas, grão de bico), cereais integrais (arroz, quinoa, trigo, aveia, milho), legumes, verduras, frutas e oleaginosas.
Ainda assim, como no caso de gestação onívora, é essencial que o nutricionista que acompanhe a paciente seja um profissional qualificado para tal, pois dados mostram que mesmo tomando suplementos, muitas gestantes não atingem as recomendações nutricionais dessa fase.
Para além da suplementação de ferro e ácido fólico que possuem diretrizes bem estabelecidas de suplementação para todas as gestantes, outros nutrientes merecem atenção por poderem ter maior risco de deficiência nesse período, como proteína, vitamina B12, zinco, ômega 3.
Entenda como garantir esses nutrientes na dieta da gestante vegana:
Proteínas
Esse nutriente é um ponto de atenção para todas as gestantes, pois, por existir uma demanda proteica maior durante a gestação é estimado que 38% das gestantes (onívoras e veganas) não têm ingestão proteica satisfatória.
Assim, é importante que a gestante vegana consuma um bom volume de leguminosas em pelo menos 3, ideal 4 refeições do dia. Os parâmetros que podem ser usados para analisar se a ingestão está adequada são o recordatório alimentar e o exame de sangue de ureia que deve estar com valor mínimo 20.
Ferro
As gestantes são grupo de risco para desenvolvimento de anemia ferropriva, em especial no terceiro trimestre, quando chega a atingir cerca de 40% das gestantes. A anemia traz risco aumentado de baixo peso ao nascer, prematuridade, menor desenvolvimento físico e neurológico do bebê, aumento do risco de doenças infecciosas (maior risco de mortalidade materna).
Importante ajustar a dieta com o alto consumo de leguminosas associadas a boas fontes de vitamina C e técnicas culinárias como remolho e um bom cozimento para eliminar algumas substâncias que atrapalham a absorção do ferro. Além dos vegetais verde-escuros que também são boas fontes.
Deve-se evitar alimentos muito ricos em cálcio na mesma refeição. Essencial suplementar todas gestantes a partir do segundo trimestre para evitar deficiência ou, a partir do primeiro semestre se os níveis já estiverem baixos.
Ácido fólico
Sua deficiência pode ocasionar doenças do tubo neural, anencefalia, hidrocefalia, espinha bífida, aborto espontâneo, anemia megaloblástica, pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino, baixo peso ao nascer e parto prematuro.
Por isso é tão importante consumir boas fontes e a suplementar todas as gestantes (veganas ou não), durante todo o período pré, durante e após a gestação.
As principais fontes alimentares são vegetais verde-escuros como espinafre, aspargos, couve, couve de bruxelas e leguminosas.
B12
Baixos níveis de B12 elevam os níveis de homocisteína que vai aumentar risco de pré-eclâmpsia e restrição do crescimento uterino, aborto espontâneo, danos neurológicos no bebê, prematuridade, modificações epigenéticas – resistência à insulina nos filhos.
A recomendação é acompanhar os valores séricos e suplementar durante toda a gestação e lactação vegana.
Zinco
Papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e função cerebral, metabolismo ósseo, regulação das células T-helper (imunidade). A deficiência durante a gestação causa déficit neurológico, parto prematuro, prejuízo no sistema imunológico.
Ideal consumir boas fontes como sementes, oleaginosas e leguminosas e, se necessário, suplementar. Atenção à suplementação junto com a de ferro, pois um interfere na absorção do outro.
Ômega-3 (DHA)
Importante para o neurodesenvolvimento, modula o sistema imunológico, causando menos ocorrência de infecções nas vias aéreas do bebê. As principais fontes vegetais são as sementes (linhaça, chia) e as nozes.
A suplementação mais recomendada é o DHA de algas. Com uma dieta vegana balanceada e bem variada, somada às suplementações ajustadas individualmente por um nutricionista especializado, alimentação vegana na gestação e lactação é considerada segura e saudável de acordo com o parecer do CFN (Conselho Federal de Nutricionistas) de 2022, seguindo os mesmos protocolos para a suplementação necessária nestes ciclos da vida.
Assim a dieta vegana é segura para a mãe e para o bebê, podendo inclusive trazer diversos benefícios ao longo da vida, como na prevenção e no tratamento de doenças.
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Referências
Conselho Federal de Nutricionistas. Parecer Técnico n. 9/2022: Alimentação Vegetariana na atuação do nutricionista. 30 set, 2022.
Baroni L, Rizzo G, Goggi S, Giampieri F, Battino M. Vegetarian diets during pregnancy: effects on the mother’s health. A systematic review. Food Funct. 2021;12(2):466–93.Pistollato F, Cano SS, Elio I, Vergara
MM, Giampieri F, Battino M. Plant-Based and Plant-Rich Diet Patterns during Gestation: Beneficial Effects and Possible Shortcomings. Adv Nutr. 2015;6(5):581–91.
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Nutricionista pela UFPR. Coordenadora da Pós graduação em Nutrição e Medicina Vegetariana (Plenitude Educação/SVB). Mestre e especialista em Saúde Coletiva pela Universidade de Santa Catarina. Pós graduada em Nutrição Clínica, em Fitoterapia e em Nutrição Materno infantil. Capacitada em avaliação metabólica (Eric Slywitch). Diretora da área materno-Infantil da SVB. Autora do livro (Org): Nutrição Vegetariana e plant-based diet, Ed. Plenitude.