Terapia nutricional no Diabetes tipo 1: Diretrizes SBD

Postado em 13 de novembro de 2024

Conheça as recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes para orientar o cuidado nutricional ao paciente com diabetes tipo 1.

Atualmente, o tratamento nutricional do diabetes tipo 1 não se baseia mais em restrições alimentares, mas sim em um planejamento alimentar saudável, com possibilidade de flexibilização nas escolhas alimentares.

Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Diabetes atualizou suas diretrizes de terapia nutricional no diabetes tipo 1, auxiliando profissionais de saúde a promoverem o bem-estar para os pacientes com esta doença crônica. 

diabetes tipo 1

Fonte: Canva

A seguir, confira as principais recomendações.

Quantidade de carboidratos no diabetes tipo 1

Em pessoas com DM1, é recomendado que a quantidade de carboidratos seja individualizada de acordo com o peso, o controle glicêmico, as preferências, o risco de hipoglicemia, além de considerar condições metabólicas, socioeconômica e culturais do paciente.

Segundo os especialistas, ainda não é possível afirmar uma proporção específica desse nutriente para pessoas com diabetes, e se essa proporção é diferente da população em geral.

De qualquer forma, o Guia alimentar para a População Brasileira deve ser o referencial de padrão alimentar saudável para pessoas com diabetes. 

Além disso, a ingestão de carboidratos deve enfatizar fontes de carboidratos densas em nutrientes, ricas em fibras, minimamente processadas e com baixo índice glicêmico. Exemplos incluem vegetais, legumes, frutas, laticínios (leite e iogurte) e grãos integrais.

Por outro lado, pessoas com diabetes devem minimizar a ingestão de carboidratos refinados e açúcares adicionados.

Restrição de carboidratos no DM1

A restrição de carboidratos (dieta low-carb) em pessoas com DM1, como ferramenta para controle glicêmico no curto prazo, pode ser considerada com cautela

Vale ressaltar que as definições para as dietas low carb variam, incluindo desde uma restrição moderada (26 a 45% do VET por dia), até restrições mais intensas, como a dieta very Low Ketogenic (<10% do VET por dia). 

Mesmo que na prática clínica as dietas low carb possam melhorar o controle glicêmico para alguns pacientes com DM1, há evidências limitadas para apoiar seu uso rotineiro no tratamento destes pacientes. Além disso, os desfechos a longo prazo são desconhecidos, com possíveis efeitos adversos à saúde.

Contagem de carboidratos, proteína e gorduras

Em pessoas com DM1, recomenda-se o método de contagem de carboidratos para melhora do controle glicêmico, devendo ser considerado as peculiaridades, o custo e as preferências de cada pessoa. Este método permite maior flexibilidade nas escolhas alimentares do paciente com DM1. 

O método básico (ou equivalentes) pode ser usado por qualquer indivíduo com DM. Já o método avançado (por contagem de carboidratos em gramas) é indicado apenas para pacientes que estão em uso de múltiplas aplicações diárias de insulina ou bomba de insulina, em esquema basal-bolus, possibilitando calcular a dose de insulina rápida ou ultrarrápida a ser administrada em função da quantidade de carboidratos da refeição.

Em relação à contagem de proteínas e gorduras, este método também deve ser considerado com objetivo de melhorar o controle glicêmico pós prandial.

Diversos estudos têm demonstrado que a gordura e a proteína da dieta podem afetar significativamente o perfil glicêmico após 2 a 8 horas da refeição. Dessa forma, ajustar a dose de insulina prandial para estes macronutrientes pode ser benéfico.

Os efeitos de gorduras e proteínas na terapia de contagem de carboidratos são descritos abaixo:

Efeitos da GorduraEfeitos da Proteína
  • Redução da resposta glicêmica pós-prandial de 2-3 horas.
  • Atraso da resposta máxima de glicose devido ao esvaziamento gástrico tardio.
  • Risco de hiperglicemia tardia a partir de 3-5 horas.
  • Alimentos com maior concentração de gorduras (>35g/porção) podem requerer ajuste da insulina.
  • A resposta do efeito da gordura na glicemia pós-prandial é individual.
  • Efeito tardio sobre a glicemia (> 100 minutos).
  • Diferentes efeitos com e sem carboidratos.
  • Ajuste da insulina necessário para consumo de: ≥ 30 g de proteína com carboidratos (Ex: ≥ 150g de carne); ≥ 75 g de proteína isolada (Ex: em média ≥ 300g de carne).

Índice glicêmico e diabetes tipo 1

O consumo de alimentos de baixo índice glicêmico (IG) pode ser considerado para reduzir a glicemia pós-prandial, sobretudo quando consumidos de maneira isolada, sem outros alimentos, por indivíduos com DM1. 

Entretanto, a dificuldade para a aceitação da dieta do índice glicêmico em longo prazo é uma desvantagem, pois há uma lista limitada de alimentos com os seus respectivos IG.

Além disso, vários fatores podem alterar o índice glicêmico do alimento ou a carga glicêmica da refeição:

  • A gordura e a proteína lentificam a velocidade de esvaziamento gástrico, retardando a elevação da glicemia. 
  • A presença de fibras solúveis no alimento aumenta o tempo de contato do carboidrato com a superfície de absorção intestinal, enquanto as fibras insolúveis diminuem esse tempo de contato, resultando ambas em menor IG devido à diminuição da sua resposta glicêmica pós-prandial. 
  • O tempo e forma de cocção dos alimentos pode alterar o IG, porque, quanto mais gelatinizado é o amido, maior é o IG do alimento devido à disponibilização do carboidrato para absorção.

A sequência em que se consome os alimentos também pode interferir no pico glicêmico pós prandial. Iniciar a refeição pelas fibras e proteínas pode favorecer o controle e a velocidade do esvaziamento gástrico, podendo reduzir a elevação da glicose.

Ingestão de fibras e micronutrientes no DM1

Para pessoas com DM1, recomenda-se a ingestão mínima de fibras 14g a cada 1000 Kcal por dia para melhorar o risco cardiovascular e o controle glicêmico. Uma quantidade adicional de fibras pode ter efeitos benéficos metabólicos e glicêmicos.

Para populações especiais, incluindo gestantes ou lactantes, vegetarianos e pessoas que seguem dietas muito restritivas, um multivitamínico pode ser necessário. 

Contudo, o painel de especialistas considera que não há evidências de que a suplementação dietética com vitaminas e minerais possa melhorar os resultados glicêmicos em pessoas que não apresentem deficiências subjacentes.

Leia a diretriz na íntegra

Na diretriz completa, os profissionais comentam todas as recomendações de forma detalhada, com resultados de estudos científicos que as embasaram. 

Além disso, a Sociedade Brasileira de Diabetes disponibiliza todas as suas diretrizes online para consulta. Aproveite para conferir e aprofundar seus conhecimentos!

Clique aqui para ler o material na íntegra.

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Referência:

Tarcila Ferraz de Campos, Silvia Ramos, Letícia Fuganti Campos, Débora Bohnen Guimarães, Deise Regina Baptista, Daniela Lopes Gomes, Débora Lopes Souto, Maristela Strufaldi, Marlice Marques, Natália Fenner Pena, Sabrina Soares de Santana Sousa. Terapia Nutricional no Diabetes tipo 1. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2024). DOI: 10.29327/5412848.2024-4, ISBN: 978-65-272-0704-7.

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