De suma importância para a síntese de colágeno, a deficiência de vitamina C torna a fibra do colágeno muito instável para a sustentabilidade dos tecidos, prejudicando a cicatrização
A pele é a primeira barreira de proteção do organismo contra agentes externos. Por isso, na ocorrência de lesões ou feridas, é fundamental que sua integridade seja restaurada, através da cicatrização. Neste processo, nutrientes específicos se mostram como grandes aliados: dentre eles, a vitamina C têm um importante papel na capacidade de restauração do tecido lesionado.
Entendendo a cicatrização
A cicatrização nada mais é do que um processo de reparação tecidual dinâmico e imediato do organismo, em resposta a uma lesão. Assim, o principal intuito é restituir a homeostasia tecidual da área lesada, num processo de reparação que acontece em três fases sequenciais.
1.Fase da inflamação
Na fase da inflamação, com duração de 4 a 6 dias, temos a presença de células inflamatórias do tecido cicatricial com finalidade de diminuir a perda de sangue decorrente da lesão de vasos, e criar um arcabouço para onde posteriormente migrarão os fibroblastos. Assim, ocorre a reparação do tecido conjuntivo e do epitélio.
2. Fase proliferativa
Nesta fase, há uma neovascularização a partir de vasos ao redor do local da ferida. Estes novos vasos irão possibilitar o suprimento de energia e oxigênio para a cicatrização, aumentando a resistência da ferida à infecção. Além disso, tem-se a proliferação de fibroblastos, com formação de tecido róseo, mole e granular na superfície da ferida. O início desta fase se dá no 3º dia e pode durar por semanas.
3. Fase de maturação
Esta fase é caracterizada pela estabilização do colágeno e aumento da força de tensão da cicatriz, além da diminuição de seu tamanho e do eritema. Os elementos reparativos da cicatrização são transformados em tecido maduro de características bem diferenciadas. Sua duração pode se entender por até dois anos.
E qual é o papel da vitamina C?
A maior parte das células do nosso organismo é banhada por uma porção de tecido conjuntivo, a matriz extracelular. Essa matriz é formada basicamente por três proteínas estruturais: o colágeno, a elastina e a fibrilina, em proporções distintas em cada tecido.
Especificamente para a pele, ossos e cartilagens, os colágenos dos tipos I e II desempenham os papéis mais importantes, sendo proteínas fibrosas constituídas por uma cadeia polipeptídica com cerca de 1.000 aminoácidos.
A formação de colágeno requer blocos de construção de aminoácidos, vitaminas e minerais. A vitamina C está envolvida na biossíntese de colágeno, catalisando a hidroxilação de resíduos de prolina e lisina do procolágeno, promovendo o adequado dobramento da conformação de tripla hélice do colágeno estável.
Sem a formação da hidroxiprolina e da hidroxilisina, tanto a tripla hélice tripla quanto as ligações cruzadas ficam prejudicadas, tornando a fibra do colágeno muito instável para a sustentabilidade dos tecidos. Dessa forma, os vasos sanguíneos são facilmente rompidos provocando hemorragias, surgindo edemas nos ossos e articulações, e levando à baixa cicatrização de feridas.
Além da síntese de colágeno, a vitamina C também aumenta a migração de neutrófilos e a ativação de linfócitos, fortalece a síntese de ceramidas para formar fortes lipídios de barreira na epiderme, e participa da maturação dos fibroblastos.
Desse modo, as deficiências de vitamina C diminuem a resistência da ferida à tensão e atrasam a cicatrização das lesões.
A vitamina C é essencial na cicatrização
Segundo a Academia Nacional de Medicina e a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, a ingestão diária de vitamina C necessária para prevenir patologias relacionadas ao colágeno está na faixa de 75 a 110 mg por dia. A ingestão média diária de 95 mg/d é necessária para evitar a baixa força da cicatriz em 97,5% da população.
A partir das considerações acima, fica claro que o papel da vitamina C é crucial na cicatrização. Desse modo, nota-se a importância de uma alimentação saudável e o impacto da deficiência nutricional no processo de reparação tecidual, sendo que um único nutriente deficiente poderá prejudicar todo o processo.
Referências:
CARVALHO, Katharina Barros de; GOMES, Nair Augusta de Araújo Almeida. A nutrição no processo de cicatrização: um estudo de revisão. Trabalho de Conclusão de Curso – Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 2021.
Deficiência da vitamina C e a molécula do colágeno no escorbuto. Capítulo 3. Livro “Biomoléculas e metabolismo celular”.
HUJOEL, Philippe P.; HUJOEL, Margaux LA. Vitamin C and scar strength: analysis of a historical trial and implications for collagen-related pathologies. The American journal of clinical nutrition, v. 115, n. 1, p. 8-17, 2022.
PALMIERI, Beniamino; VADALÀ, Maria; LAURINO, Carmen. Nutrition in wound healing: investigation of the molecular mechanisms, a narrative review. Journal of Wound Care, v. 28, n. 10, p. 683-693, 2019.