Estudo de revisão teve comoobjetivo discutir o papel da microbiota intestinal na regulação da pressãoarterial.…
A disbiose intestinal pode influenciar a patogênese do autismo, influenciando os sintomas gastrointestinais e o comportamento autista.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido objeto de estudo e debate em diversas áreas da ciência, com pesquisadores buscando compreender suas causas, sintomas e possíveis tratamentos.
Nos últimos tempos, o papel da microbiota intestinal no TEA tornou-se um assunto de interesse. Mas afinal, qual é a relação entre estes dois tópicos, que à primeira vista parecem estar tão distantes? Vamos entender!
Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que é?
O transtorno do espectro autista (TEA) agrupa uma série de distúrbios do neurodesenvolvimento, caracterizados pela deficiência na comunicação social e na linguagem, além de padrões restritivos de comportamento e interesses.
Geralmente, o TEA inicia na infância, durante os primeiros 5 anos de vida, e persiste durante a adolescência e idade adulta.
Os principais sintomas do transtorno do espectro autista incluem:
- Atrasos na fala
- Desinteresse com pessoas e objetos
- Dificuldade em interagir, preferindo realizar atividades sozinho(a)
- Dificuldades em interpretar gestos e expressões faciais
- Falta de filtro social (sinceridade em excesso)
- Incômodo diante situações sociais
- Seletividade alimentar
- Movimentos repetitivos e incomuns
- Interesse obsessivo por assuntos incomuns ou “excêntricos”
- Problemas gastrointestinais
- Acessos de raiva
- Déficit de atenção
- Dentre outros
Até então, a etiologia do TEA permanece desconhecida. Supõe-se que a causa seja heterogênea, envolvendo tanto fatores genéticos quanto ambientais. Dentre os fatores ambientais, pesquisas apontam o papel da disbiose intestinal como um fator de risco para o desenvolvimento do autismo.
Diferenças na microbiota do paciente com TEA
Atualmente, muitos estudos destacaram uma conexão bidirecional entre o intestino e o cérebro, conhecida como “eixo intestino-cérebro”. Sendo assim, o desequilíbrio da microbiota (ou disbiose intestinal) poderia alterar a função, o humor e a cognição, levando ao desenvolvimento de condições neurológicas, como o autismo.
De fato, diversas pesquisas concordam com essa hipótese, uma vez que a microbiota intestinal do paciente com autismo parece ser bastante diferente daquela em pacientes sem a condição.
Por exemplo, algumas bactérias aparentam estar elevadas ou diminuídas no transtorno do espectro autista, gerando efeitos consideráveis para os pacientes. Veja na tabela a seguir:
Micróbios | Aumento/diminuição | Efeito em pacientes com TEA |
Proteobacteria | Aumento | Inflamação, redução nos níveis de GSH e maior produção de LPS (principal causa da desregulação imunológica no autismo) |
Bacteroides | Aumento | Produz endotoxinas e propionato (associados à gravidade dos sintomas) |
Candida albicans | Aumento | Excesso de produção de GABA (relacionado ao aparecimento de sintomas comportamentais) |
Clostridium | Aumento | Produção de endotoxinas e propionato (associados à gravidade dos sintomas) |
Sutterella | Aumento | Impactos na barreira mucosa do intestino |
Bifidobacterium | Diminuição | Síntese de GABA diminuída |
Blautia | Diminuição | Como a bactéria é responsável por sintetizar triptofano (precursor da serotonina), níveis diminuídos podem induzir à sintomas comportamentais do TEA |
Prevotella | Diminuição | Como a bactéria se envolve no metabolismo de sacarídeos, níveis diminuídos prejudicam o metabolismo de carboidratos |
Akkermansia | Diminuição | Níveis baixos aumentam a permeabilidade intestinal |
Além das diferenças na composição, pacientes com TEA podem apresentar diminuição nos níveis de alguns ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), como o butirato.
Embora se associe principalmente à saúde intestinal, há um interesse crescente nos efeitos neuromoduladores do butirato. Portanto, sua falta pode se relacionar aos sintomas gastrointestinais e comportamentais do TEA.
Como a disbiose contribui para o transtorno do espectro autista?
A microbiota desequilibrada pode contribuir para a patogênese da TEA através de três formas principais:
Via neuroimune: a disbiose em crianças cm autismo leva a uma ativação excessiva do sistema imunológico, liberando citocinas e quimiocinas inflamatórias que regulam o SNC. Estudos apontam que a inflamação cerebral tem um papel significativo na fisiopatologia do autismo.
Via neuroendócrina: os microorganismos intestinais controlam a síntese de moléculas neuroativas, como 5-HT, dopamina, GABA e histamina. O nível de neurotransmissores está alteradas em pacientes com autismo.
Metabólitos: no TEA, pesquisas mostraram níveis aumentados de metabólitos como aminoácidos livres, p-cresol e amônia, que podem levar a sintomas comportamentais no autismo.
Tratamento dietético do paciente com autismo
Como visto, o desequilíbrio dos microorganismos intestinais pode causar efeitos prejudiciais para o paciente com TEA, agravando seus sintomas gastrointestinais e comportamentais.
Portanto, uma abordagem dietética que vise a restauração da microbiota adequada pode ser um bom caminho de atuação por parte dos nutricionistas.
Nesse sentido, a administração de pre- e probióticos já demonstrou resultados animadores na ciência, como melhorias na sociabilidade e na composição da microbiota, embora mais pesquisas sejam necessárias.
Em um estudo envolvendo 30 crianças com transtorno do espectro autista, a suplementação de probióticos (Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacteria longum), por 3 meses, resultou em aumentos destes gêneros, bem como melhorias nas pontuações comportamentais e nos sintomas gastrointestinais.
Por fim, outras opções de manejo dietético incluem a dieta sem glúten e sem caseína (DSGSC), a dieta cetogênica, a suplementação de ácidos graxos poli-insaturados e micronutrientes.
Para saber mais, acesse: Como deve ser a alimentação para quem tem autismo?
Conclusão
A relação entre a microbiota intestinal e o transtorno do espectro autista é estreita. Por conta do eixo intestino-cérebro, evidências sugerem que uma microbiota em desequilíbrio contribui para a patogênese do TEA, através das vias neuroimunes, neuroendócrinas e da produção de metabólitos.
Se você gostou deste artigo, leia também:
- Saúde mental e alimentação: qual é a relação?
- Papel da Nutrição no Estado Mental Saudável
- Existe relação entre disbiose e doenças neurodegenerativas?
Referências:
Korteniemi, J., Karlsson, L., & Aatsinki, A. (2023). Systematic review: autism spectrum disorder and the gut microbiota. Acta Psychiatrica Scandinavica, 148(3), 242-254.
Mehra A, Arora G, Sahni G, Kaur M, Singh H, Singh B, Kaur S. Gut microbiota and Autism Spectrum Disorder: From pathogenesis to potential therapeutic perspectives. J Tradit Complement Med. 2022 Mar 8;13(2):135-149. doi: 10.1016/j.jtcme.2022.03.001. PMID: 36970459; PMCID: PMC10037072.
Transtorno do espectro autista. Organização Pan-Americana de Saúde.
Transtorno do Espectro Autista – TEA (autismo). Biblioteca Virtual em Saúde (Ministério da Saúde).
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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