Quais são as dietas orais hospitalares e suas características?

Postado em 4 de dezembro de 2023 | Autor: Camila Garcia Marques

Entenda o caminho de uma dieta geral até uma dieta líquida.

Durante o tempo de permanência hospitalar de um paciente, a nutrição é uma etapa fundamental em seu tratamento. Para oferecer uma assistência nutricional individualizada, as dietas orais hospitalares variam de acordo com a doença, os sintomas, as intolerâncias, dentre diversos outros aspectos de cada enfermo.

dietas orais hospitalares

Fonte: Canva.com

Sabendo disso, é imprescindível que os profissionais de saúde conheçam as características de cada tipo de dieta hospitalar, bem como seus objetivos e indicações. 

Nesse artigo, iremos explorar as principais dietas orais adotadas pelos hospitais brasileiros com base em sua consistência. Confira-as a seguir.

Dieta geral, normal ou livre

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Objetivo: suprir as necessidades nutricionais e manter o estado nutricional de pacientes sem alterações metabólicas significativas ou que não estejam em risco nutricional.

Características: inclui todos os alimentos recomendados em uma alimentação saudável, com distribuição normal de todos os nutrientes e sem alterações de consistência. 

Alimentos indicados: pão, leite e derivados, arroz, feijão, carne, frutas, verduras, sucos.

Alimentos evitados: sem restrição, mas seguindo uma alimentação equilibrada.

Energia: 2.200 a 2.500 kcal/dia.

Proteínas: 85 a 105 g/dia.

Nº de refeições diárias: 5 a 6.

Indicações:  paciente com mastigação, deglutição e funções gastrointestinais preservadas, cuja condição clínica não exige modificações na consistência da dieta.

Dieta branda

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Objetivo: fornecer uma dieta com uma quantidade moderada de resíduos, que contenha alimentos de fácil mastigação, deglutição, digestão e absorção. 

Características: composta por alimentos sólidos macios ou abrandados pela cocção ou ação mecânica (subdivisão), sem alteração de nutrientes.

Alimentos indicados: arroz, feijão batido, frutas macias sem casca ou cozidas, legumes e verduras cozidos, suco de frutas, iogurtes, pães macios, carnes cozidas/assadas/grelhadas, ovos cozidos/mexidos/pochê, omeletes.

Alimentos evitados: legumes e verduras cruas, legumes mais duros (quiabo, vagem), frutas duras cruas ou com sementes (maçã, uva, coco), oleaginosas, demais alimentos duros ou crocantes, ovo frito, frituras, embutidos, queijos gordurosos.

Energia: 2.000 a 2.300 kcal/dia.

Proteínas: 75 a 100 g/dia.

Nº de refeições diárias: 5 a 6.

Indicações: pacientes no pós-cirúrgico, com função gastrointestinal debilitada, dificuldade leve de mastigação/deglutição, uso de prótese dentária, presença de gastrite ou úlceras, transição de dieta pastosa para geral.

Dieta pastosa ou semissólida

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Objetivo: fornecer uma dieta que possa ser mastigada e deglutida com pouco ou nenhum esforço, além de facilitar a digestão; prevenir aspiração, sufoco ou engasgamento.

Características: composta por alimentos bem cozidos e/ou macios, na forma de purês, cremes, papas, suflês, moídos, triturados ou desfiados. Sem alteração de nutrientes.

Alimentos indicados: arroz pastoso, feijão batido, sopas, canjas, purês, legumes bem cozidos, macarrão, massas bem cozidas, carne moída/desfiada/ensopada, ovos cozidos/mexidos/pochê, omelete, iogurte, leite, queijos cremosos, pães macios e bisnagas, biscoitos amolecidos, frutas macias/picadas/cozidas/assadas, sucos e vitamina de frutas, curau, mingaus, flans, gelatina.

Alimentos evitados: leguminosas e cereais integrais,  legumes mais duros (quiabo, vagem, jiló), carnes grelhadas/assadas/secas em pedaços grandes, biscoitos secos, pães não macios, torradas, tapioca, frutas cruas com casca, polpa dura, secas ou desidratadas, oleaginosas, queijos duros, frituras, embutidos,  queijos gordurosos.

Energia: 1.800 a 2.100 kcal/dia.

Proteínas: 70 a 95 g/dia.

Nº de refeições diárias: 5 a 6.

Indicações: pacientes com dificuldade de mastigação/deglutição, danos neurológicos, distúrbios neuromotores, retardo mental severo, doença esofágica, alterações anatômicas da boca ou esôfago, insuficiência cardíaca ou respiratória grave, disfagia para sólidos e líquidos, dentição incompleta, uso de prótese dentária, pré ou pós-operatórios,  transição de dieta líquida para branda. 

Dieta pastosa homogênea ou cremosa

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Objetivo: fornecer uma dieta que facilite a deglutição e não necessite de mastigação, auxiliando a digestão. 

Características: composta por alimentos bem cozidos, batidos ou liquidificados, na consistência de purê, formando uma preparação homogênea e espessa. Podem ser ofertadas separadamente. 

Alimentos indicados:  cereais bem cozidos liquidificados ou bem triturados (na forma de mingaus, purês ou cremes); leguminosas liquidificadas ou triturados; legumes e verduras bem cozidos (na forma de purê ou creme); frutas (na forma de purê, vitaminas e sucos espessos); leite, coalhada, iogurte sem pedaços, queijos cremosos; carnes cozidas liquidificadas; gelatina.

Alimentos evitados: pães, biscoitos, torradas, tapioca, cereais e leguminosas integrais e em grãos, legumes e verduras cruas, frutas cruas com casca/com polpa dura/secas/desidratadas, iogurte com pedaços, queijos duros, ovos cozidos/mexidos/pochê, omeletes, qualquer alimento no estado sólido ou muito fibroso, alimentos muito gordurosos ou condimentados, frituras, embutidos.

Energia: 1.350 a 2.100 kcal/dia.

Proteínas: 70 a 95 g/dia.

Nº de refeições diárias: 5 a 6.

Indicações: paciente com dificuldade de deglutição/mastigação, pós operatório de boca, plástica de face e pescoço, fratura de mandíbula, estreitamento esofágico, AVC, neoplasias (principalmente de cabeça e pescoço), miastenia grave, doença de Parkinson, degeneração cerebral, síndrome de Guillain–Barré e outros pacientes com disfagia.

Dieta líquida ou líquida completa

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Objetivo: fornecer uma dieta que seja bem tolerada por pacientes que não podem ingerir alimentos sólidos, mas sem disfagia para líquidos finos. Excluir a função mastigatória, repousar o trato gastrointestinal e amenizar a sintomatologia. 

Características: composta por todos os alimentos e preparações na forma líquida ou que se liquefazem à temperatura corporal, com resíduos mínimos. 

Alimentos indicados: cereais, leguminosas, legumes, verduras e carnes na forma de caldo ou sopas liquidificadas (ex: caldo de feijão); frutas na forma de vitaminas ralas ou sucos; leite in natura ou em preparações líquidas; sobremesas em forma líquida.

Alimentos evitados: qualquer alimento em estado sólido ou cremoso.

Energia: 1.000 a 1.300 kcal/dia.

Proteínas: 50 a 60 g/dia.

Nº de refeições diárias: 6 a 8.

Indicações: grave dificuldade de mastigação/deglutição, disfagia, pré e pós-cirúrgico (principalmente para cirurgias de cabeça e pescoço), doenças agudas, lesões obstrutivas do TGI, preparo de exames, ausência de dentição, risco de aspiração, fratura da mandíbula, estreitamento esofágico, transição de dieta enteral para oral. A progressão para alimentos sólidos deve se completar o mais rápido possível.

Dieta líquida restrita

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Objetivo: fornecer uma dieta para pacientes que não podem ingerir alimentos sólidos nem líquidos finos, de modo a saciar a sede, promover a hidratação, repousar o TGI, evitar a acidose metabólica, manter a função renal, diminuir a presença de resíduos no cólon, e amenizar a sintomatologia (como náuseas e vômitos).

Características: composta por líquidos claros ou translúcidos, coados, sem fibras, pobre em resíduos. Altamente restritiva e nutricionalmente inadequada em todos os nutrientes e em calorias.

Alimentos indicados: caldo coado de legumes e/ou carnes, suco de frutas coado, água de coco, isotônicos, chá de ervas ou frutas, gelatina diet. 

Alimentos evitados: qualquer alimento que esteja na consistência sólida, cremosa ou liquidificada não coada; leite, café, chás ricos em cafeína.

Energia: 300 a 500 kcal/dia.

Proteínas: não se aplica.

Nº de refeições diárias: 6 a 8.

Indicações: pré-preparo de exames (colonoscopia, endoscopia), pré e pós-cirúrgico, infecções graves, diarreia aguda, vômitos frequentes, pancreatite, transição de dieta enteral para via oral. Deve haver precaução naqueles pacientes com disfagia ou risco de broncoaspiração. Não deve ser utilizada por um período maior que três dias, e recomenda-se a transição para uma dieta mais adequada assim que tolerado.

Dietas orais hospitalares: modificações além da textura

Além das modificações de consistências, as dietas orais hospitalares também podem sofrer mudanças no teor de calorias, nutrientes ou outras condições especiais. 

Em relação às calorias, a dieta pode ser hipocalórica (<20 kcal/kg/dia) ou hipercalórica (>30 kcal/kg/dia).

Já quando o assunto é nutriente, as variações são maiores, sendo estas:

  • Dieta reduzida em carboidratos
  • Dieta com baixo teor de lactose
  • Dieta hipo ou hiperproteica
  • Dieta hipolipídica ou cetogênica
  • Dieta líquidos normal ou líquidos restrito
  • Dieta rica ou pobre em fibras
  • Dieta hipossódica
  • Dieta isenta de glúten
  • Dieta obstipante/constipante
  • Dieta laxativa/laxante
  • Dieta pobre em potássio, em fósforo, em iodo ou em vitamina K
  • Dieta pobre em FODMAP

Finalmente, as dietas para condições especiais enquadram uma alimentação específica para cada doença (como diabetes e insuficiência renal), intolerâncias e/ou alergias alimentares, crenças religiosas e estilo de vida (como vegetarianismo).

Vale ressaltar que diversas modificações podem aparecer concomitantemente, exigindo um esforço da equipe de nutrição em fornecer o melhor cuidado nutricional possível.

Mensagem final

Atualmente, no Brasil, não existe uma padronização para os diferentes tipos de dietas orais hospitalares, o que resulta em uma grande divergência de nomenclaturas para prescrição.

As dietas descritas aqui apresentam um panorama geral das principais dietas encontradas nos hospitais brasileiros, mas podem não abarcar todas as particularidades de cada unidade. 

De qualquer modo, independente da dieta prescrita, o nutricionista deve evitar restrições desnecessárias, reduzindo o risco de deficiência energético-protéica e combatendo a desnutrição hospitalar, complicações e mortalidade.

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Referências:

Damásio ABF et al. Manual de Dietas Hospitalares – Vitória: HUCAM – Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, 2020.

Dietas hospitalares. Universidade Federal do Triângulo Mineiro – Hospital de Clínicas, 2022.

Dock-Nascimento, D. B., Campos, L. F., Dias, M. C. G., de Souza Fabre, M. E., Lopes, N. L. A., de Oliveira Junior, P. A., … & van Aanholt, D. P. J. (2023). Dieta oral no ambiente hospitalar: posicionamento da BRASPEN. BRASPEN Journal, 37(3), 207-227.

Gregório MJ, Graça P, Santos L, Mourato A, Albuquerque MD, Pratas J, Abreu S, Matos C, Ferro G, Raimundo G, Alves P, Sousa SM, Brandão S, Nunes AL. Manual de Dietas Hospitalares. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Direção-Geral da Saúde. Lisboa, 2021.

Hospital Geral Dr. César Cals. (2023). Manual de Dietas Hospitalares do Centro de Nutrição e Dietética. [Fortaleza- CE].

Manual de consistências de dietas hospitalares. Hospital Regional do Sertão Central, 2020.

Manual de dietas hospitalares HU UNIVASF [recurso eletrônico] / M294 Organizado por Izabelle Silva de Oliveira e Maiane Alves de Macedo. – Petrolina, PE: HU UNIVASF, 2020.

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