A doença inflamatória intestinal (DII)representa um grupo de afecções intestinais inflamatórias crônicas idiopáticas,ou seja, sem…
A conduta nutricional é aplicada de acordo com as fases da doença
A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória que acomete homens e mulheres de diferentes idades, apesar ser mais comum na terceira década da vida. Pode se manifestar em diferentes partes do trato-gastrointestinal (TGI), sendo os locais mais comuns: o íleo e o cólon. A sua causa ainda é desconhecida, apesar de ter uma grande ligação com fatores genéticos, doenças autoimunes, aspectos ambientais e emocionais.
Por ser uma doença crônica, não tem cura, alternando entre fase de remissão, ou seja, períodos em que não há manifestações clínicas da doença, e a fase ativa. Os sintomas mais comuns são: diarreia, dor abdominal, lesões retais, incluindo hemorroidas, fissuras, fístulas e abscessos, febre, perda de peso, falta de apetite e fadiga, além do surgimento de sintomas extra intestinais, envolvendo os olhos, sistema hematológico, articulações e pele.
Apesar de ser uma doença que não tem ligação direta com a alimentação, a conduta nutricional adequada é de suma importância para a recuperação do estado nutricional do paciente, logo que em 65 a 75% observa-se quadro de desnutrição.
Mas quais são as recomendações nutricionais para pacientes com doença de Crohn?
Quando falamos de intervenções nutricionais em pacientes com DC, muitas diretrizes recomendam a utilização de terapia nutricional enteral (NE) e parenteral (NP).
A nutrição enteral é principalmente recomendada na fase recidiva da doença, ou seja, quando ela volta a se manifestar, sendo utilizada por 6 a 8 semanas até o período de resseção. Normalmente a NE é ofertada via oral, em formas de bebidas, soluções em pó, lanche semelhante a uma sobremesa ou por meio do tubo de alimentação. Além disso, ela pode ser recomendada como uma dieta de manutenção durante a fase de estabilidade, como complemento da dieta oral usual.
Já a nutrição parenteral, segundo as recomendações, é ofertada ao paciente com DC para otimizar o estado nutricional no pós cirúrgico, ou quando a NE não for indicada. Contudo, é comumente recomendada em pacientes desnutridos, que estão na fase aguda da doença a fim de trazer um repouso intestinal a esses indivíduos.
Segundo as diretrizes ESPEN de 2017, as terapias de nutrição enteral e parenteral são recomendadas apenas quando a ingestão oral é insuficiente, servindo como uma terapia de suporte.
Além dessas condutas, algumas dietas com modificações dietéticas trazem inúmeros benéficos a esses pacientes, sendo o caso da dieta de carboidratos específicos e a dieta de baixo FODMAP.
A dieta de carboidratos específicos (DCE) foi desenvolvida primeiramente para atender pacientes com doença celíaca, mas, segundo estudos, auxiliaria na melhora de sintomas da DC e qualidade de vida do paciente, provendo também a cicatrização da mucosa, assim reduzindo os índices inflamatórios. A DCE consiste na ingestão de monossacarídeos, excluindo dissacarídeos e a maioria dos polissacarídeos, sendo orientado o consumo de carne, ovos, óleo, vegetais ricos em amilose, laticínios com baixo teor de lactose, nozes e frutas. Já os que deve ser evitados são alimentos ricos em sacarose, maltose, lactose, como, quiabo, batata, milho, leite fluido e queijos, como o queijo fresco, aditivos alimentares e conservantes. A dieta é recomendada por um período de um ano após a remissão dos sintomas, entretanto, pesquisadores mostram que muitas vezes devido às atividades do dia a dia, como trabalho, eventos sociais, a dieta apresentaria dificuldade de adesão completa.
Já a dieta de baixo FODMAP, é um manejo dietético que exclui carboidratos de cadeia curta, que são mal absorvidos pelo intestino promovendo uma alta fermentação das baterias intestinais, ocasionando a diarreia, inchaço, distensão e dor abdominal. A sigla FODMAP significa fermentável, oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis, ou seja, a dieta consiste na baixa ingestão desses alimentos. Podemos ver abaixo os alimentos recomendáveis e os que devem ser evitados:
Grupo de alimentos | Alimentos ricos em FODMAP | Alternativas alimentares |
Fruta | Maçãs, damascos, cerejas, amoras, manga, nectarinas, pêssegos, peras, caqui, ameixas, melancia. | Banana, mirtilos, melão, toranja, uvas, limão, lima, tangerina, laranja, maracujá, framboesa, ruibarbo, morango
|
Verduras | Alcachofras, aspargos, couve-flor, alho, cogumelos, cebola, chalota, vagens, cebolinha verde (parte branca) | Cenoura, pimentão, cebolinho, pepino, berinjela, gengibre, ervilhas, alface, azeitonas, nabos, pimentos, batata, espinafre, tomate, abobrinha |
Fontes de proteínas
Oligossacarídeos | Legumes/leguminosas
Pistache, castanha de caju
| Toda a carne fresca de vaca, frango, cordeiro, porco, vitela, Ovos, Tempeh, Tofu Macadâmia, amendoim, nozes e pinhões |
Pães e cereais | Trigo, centeio, cevado | Trigo mourisco, milho, aveia, polenta, quinoa, arroz |
Lácteos | Leite condensado ou evaporado, queijo cottage ou ricota, creme, sorvetes, leite, iogurte | Mantega, leite sem lactose, iogurte sem lactose, outros queijos, leite de arroz |
Outros | Mel, sorbitol ou manitol, xarope de milho rico em frutose, frutose
| Xarope de frutose dourada, xarope de bordo, açúcar comum (sacarose), glicose |
Adaptado de Dieta e intestino, 2018.
A dieta pobre em FODMAPS, embora apresente benefícios no controle de sintomas, é aconselhável na fase remissão na doença.
Além dessas alternativas, há evidências, também, acerca da dieta semi-vegetariana, ingestão de probióticos, prebióticos e simbióticos e a utilização da Nutrigenômica como alternativas terapêuticas para esses pacientes.
Confira também o Podcast: Dieta de exclusão da Doença de Crohn: como fazer na prática?
Referência
Caio, G.; Lungaro, L.; Caputo, F.; Zoli, E.; Giancola, F.; Chiarioni, G.; De Giorgio, R.; Zoli, G. Nutritional Treatment in Crohn’s Disease. Nutrients 2021, 13, 1628.
Dieta e intestino, 2018.
OLIVEIRA, Carina et al. SUPORTE NUTRICIONAL NA DOENÇA DE CROHN. Acta Portuguesa de Nutrição, Portugual, v. 10, n. 0, p. 44-48, set. 2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. PORTARIA SAS/MS N° 966, DE 2 DE OUTUBRO DE 2014.: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Doença de Crohn. Brasil: Ministério da Saúde, 2014.
Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN. Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e inovação do Ganep Educação e Nutritotal
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Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN. Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e inovação do Ganep Educação e Nutritotal