Suplementação de glicina e N-acetilcisteína pode retardar o envelhecimento?

Postado em 12 de maio de 2022

A suplementação desses compostos pode desempenhar um papel importante no aumento da expectativa de vida

Embora haja uma busca crescente para retardar o envelhecimento, encontrar intervenções realmente eficazes continua sendo um desafio. Neste sentido, uma pesquisa recente se propôs a testar o uso combinado de glicina e N-acetilcisteína para aumentar a expectativa de vida. Mas quais foram os resultados dessa estratégia? Confira a resposta a seguir se suplementação retarda o envelhecimento?

suplementação envelhecimento

Fonte: Shutterstock

Por que investigar glicina e N-acetilcisteína?

Alguns dos fatores biológicos que mais contribuem para o processo de envelhecimento incluem:

 

I –  Estresse oxidativo elevado – tóxico para a saúde de células e órgãos;

II – Disfunção mitocondrial – resulta na diminuição da geração de energia, afetando processos celulares, e causando anormalidades na mitofagia, na detecção de nutrientes e danos genômicos.

 

Em contrapartida, o Antioxidante Endógeno de Glutationa (GSH) desempenha um papel criticamente importante de proteger as células da toxicidade promovida pelo estresse oxidativo, além de ser fundamental na oxidação ideal do combustível mitocondrial.

 

Como os níveis de GSH diminuem com a idade, estudos anteriores já haviam indicado que a suplementação de GlyNAC (glicina e N-acetilcisteína, como doador de cisteína) corrigiria a deficiência de GSH, melhorando o estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial, e retardando o envelhecimento prematuro.

 

A pesquisa foi feita em roedores

Para confirmar a hipótese de que GlyNac seria eficaz na longevidade, o ensaio clínico avaliou o impacto da suplementação em camundongos selvagens, a partir de dois estudos paralelos:

 

  1. Duração da vida: 32 camundongos foram alimentados com uma dieta regular. Na 65ª semana, 16 deles passaram para uma dieta suplementada com glicina e N-acetilcisteína.

 

  1. Mecanismos de longevidade: com um grupo diferente de outros 15 camundongos, 5 deles foram eutanasiados ainda jovens; 5 foram envelhecidos por mais 8 semanas (grupo controle); e outros 5 foram envelhecidos, além de receberam uma dieta suplementada com GlyNac. Após as 8 semanas, os camundongos foram sacrificados e o coração, fígado e rins foram coletados para analisar medidas de interesse.

 

O motivo para a pesquisa ter sido realizada em roedores se deu pelo fato de que, para comprovar a teoria a longo prazo, a realização de ensaios clínicos em humanos seria limitada pelo grande período de tempo que levaria para confirmar ou refutar a intervenção.

 

A suplementação de GlyNAC realmente promoveu a longevidade

Alinhado a resultados de pesquisas anteriores, o primeiro estudo paralelo (acerca da “duração de vida”) corroborou para a hipótese de que a suplementação de glicina e N-acetilcisteína promove a longevidade. De fato, camundongos que receberam dieta suplementada aumentaram a duração de vida em 23,7%.

 

Mas por que isso acontece?

 

Esse efeito está diretamente relacionado à correção das principais alterações ligadas ao envelhecimento nos órgãos vitais (coração, fígado e rins), demonstrado no estudo paralelo detalhado a seguir.

 

Glicina e N-acetilcisteína corrigiram defeitos do envelhecimento

No segundo estudo paralelo conduzido pelos autores, acerca dos “mecanismo de longevidade”, observou-se que os camundongos velhos apresentaram diversas alterações negativas relacionadas ao envelhecimento, quando comparados aos roedores mais novos.

Contudo, a suplementação de GlyNAC por 8 semanas corrigiu essas alterações no coração, fígado e rins destes camundongos mais velhos:

 

  • Correção da deficiência de GSH: melhora nos níveis de enzimas de síntese (GCLC, GCLM, GSS), promovendo maior síntese de concentrações de GSH.
  • Redução do estresse oxidativo: diminuição das concentrações de TBARS (subproduto da peroxidação lipídica) em 43.7% no coração, 44.2% no fígado e 52.2% nos rins.
  • Reversão da disfunção mitocondrial: maior expressão de reguladores-chave da biogênese mitocondrial, metabolismo energético e síntese de ATP.
  • Mitofagia melhorada: melhora significativa na expressão de PINK1 (proteína quinase de proteção contra a disfunção mitocondrial) no coração, fígado e rins.
  • Danos genômicos diminuídos.
  • Restauração na detecção de nutrientes.

 

Estudos precedentes em humanos também mostraram benefícios similares, além de bons resultados em relação à genotoxicidade, resistência à insulina, força muscular, capacidade de exercício, composição corporal, pressão arterial, cognição e qualidade de vida.

 

Limitações e conclusões

O número pequeno de camundongos e os dados restritos a apenas três órgãos do corpo foram reconhecidos pelos autores como principais limitações. Assim, indica-se a necessidade de estudos futuros em maior número de camundongos, com avaliação dos efeitos em mais órgãos.

Por fim, concluiu-se que os resultados do estudo com roedores indicam que a suplementação de GlyNAC realmente aumenta a duração da vida. Além disso, é capaz de corrigir a deficiência de GSH, OxS e vários outros sinais de envelhecimento nos órgãos vitais.

Portanto, a utilização combinada de glicina e N-acetilcisteína pode ter implicações importantes para retardar o envelhecimento precoce, e melhorar a vida útil e a saúde em humanos.

 

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Referência

KUMAR, Premranjan; OSAHON, Ob W.; SEKHAR, Rajagopal V. GlyNAC (Glycine and N-Acetylcysteine) Supplementation in Mice Increases Length of Life by Correcting Glutathione Deficiency, Oxidative Stress, Mitochondrial Dysfunction, Abnormalities in Mitophagy and Nutrient Sensing, and Genomic Damage. Nutrients, v. 14, n. 5, p. 1114, 2022.

 

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