Intolerância à lactose em terapia nutricional enteral

Postado em 26 de agosto de 2021

Nessa aula, Tomás Navarro e Dan Waitzberg, médicos especialistas fomentam uma discussão relacionada a dieta para intolerância a lactose em pacientes sob terapia nutricional enteral, ressaltando também, a diferença entre intolerância e alergia.

Os médicos destacam ainda, cautela no tratamento da intolerância, lembrando que existem níveis de tolerância aceitáveis, que não causam reações sintomáticas no paciente, evitando assim a exclusão total desse alimento da dieta.

Guia para prescrição de dieta parenteral: confira detalhes!

Qual diferença entre alergia e intolerância à lactose?

O Mestre e Doutor Tomás Navarro, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo, inicia o seminário web com a seguinte questão: existem diferenças entre alergia à lactose e a intolerância? E a resposta é, sim, as condições são distintas e apresentam diferentes cuidados.

Navarro destaca que, alergia é o processo que resulta em reação alérgica do sistema imunológico contra determinado alimento considerado inofensivo para a maioria das pessoas. O doutor em nutrição ressalta que intolerância alimentar, por sua vez, é a resposta anormal a um alimento ou aditivo sem envolvimento de mecanismos imunes.

Navarro cita também, o fato do ser humano ser o único mamífero que consome leite de outros animais, bem como, a habilidade de digestão da lactose ser relativamente recente, datando a cerca de 7500 a 10 000 anos atrás. Entre adultos, a lactase diminui 10% do nível original em 2/3 a 3/4 da população mundial, variando também conforme a etnia.

Nova rotulagem de alimentos: cuidados na interpretação

A lactase persistente pode ser dividida didaticamente naqueles que podem e os que não podem digerir a lactose. Logo, restam dois questionamentos importantes respondidos na sequência:

  • Por que alguns indivíduos desenvolvem o status de lactase persistente?
  • Como essa divisão afeta o ser humano?

Por que alguns indivíduos desenvolvem o status de lactase persistente?

A cerca de 100.000 anos atrás, ancestrais do Homo sapiens migraram da África para a Europa, posteriormente para países como a Rússia, a Índia, a China e regiões do Pacífico Sul. Alguns autores defendem que, pela síntese de vitamina D pela pele, a habilidade de digerir a lactose aumentou, permitindo maior absorção de cálcio da dieta rica em leite de vaca in natura.

Como essa divisão afeta o ser humano?

A noção das consequências sintomáticas da intolerância à lactose é uma obsessão estabelecida pela população. São calculadas mais de 1 milhão de pesquisas relacionadas ao tema. Porém, 1 a 2 copos de leite para lactase não persistente são tolerados.

Existem estudos que sugerem a relação da intolerância com traços psicológicos como depressão, ansiedade, somatização, enquanto evitar a lactase em indivíduos sem necessidade, podem causar inúmeros problemas de saúde (NIH em 2010). Segundo estudos, os sintomas mais frequentes da intolerância à lactose são:

  • Dores abdominais: 100%;
  • Distensão: 100%;
  • Diarreia: 70%;
  • Náuseas: 78%;
  • Cefaleia: 86%;
  • Falha de memória: 82%;
  • Fraqueza crônica: 63%;
  • Mialgia: 71%;
  • Alergias (eczema, rinite, sinusite, asma): 24%;
  • Aftas: 30%.

Refluxo gastroesofágico: como orientar a alimentação?

O professor associado ao Departamento de Gastroenterologia da FMUSP e Coordenador Clínico EMTNs, Dan Waitzberg, destaca que, a diferença entre a lactose e a lactase, é que, a primeira é um dissacarídeo do leite, que precisa ser degradado em monossacarídeos, glicose e galactose para absorção adequada.

Já a lactase, é a enzima presente no intestino, responsável pela quebra da ligação que une os monossacarídeos da lactose. Waitzberg relata a importância do consumo de alimentos lácteos, e deficiências nutricionais causadas pela exclusão destes.

Vale lembrar que, segundo o especialista, pacientes com má-absorção a lactose podem tolerar pequenas quantidades de lactose.

Na ausência dos alimentos com lactose, a substituição é possibilitada em:

  • Cálcio: sementes de gergelim;
  • Oleaginosas: avelã, amêndoas, castanhas, nozes, flocos de aveia;
  • Fósforo e Proteína: carnes, ovos, soja, lentilha, feijão;
  • Vitamina D e E: atum, sardinha, milho, cogumelo, 10 minutos de sol, gema de ovo, amendoim;
  • Vitamina A: abacate, caju, brócolis, manga, mamão, pêssego, cenoura, melão;
  • Potássio: nozes, farelo, figo, damasco, grão-de-bico, batata, passas, lentilha.

Quais exames devem acompanhar de pacientes com nutrição enteral e parenteral?

Crianças podem utilizar lactase?

Sim, o especialista Dan Waitzberg afirma ser possível administrar lactase em casos de intolerância à lactose infantil. No caso de recém-nascidos, o consumo é vetado, mas entre as crianças com introdução alimentar, a lactase pode ser adicionar.

Existe relação entre doença celíaca e intolerância à lactose?

Não, o especialista Tomás Navarro afirma que a doença celíaca e intolerância à lactose são condições distintas, com origens não correlacionadas. Portanto, um exame positivo para alergia ao glúten, não necessariamente é acompanhado de um positivo para intolerância aos alimentos lácteos.

Cadastre-se e receba nossa newsletter