Quando a suplementação de vitamina D é indicada?

Postado em 16 de setembro de 2025

A vitamina D vai muito além da saúde óssea: saiba em quais situações a suplementação é necessária e como as evidências científicas orientam essa prática.

Há muito tempo, a vitamina D é reconhecida como essencial para a saúde óssea, prevenindo doenças como raquitismo e osteomalácia. 

Contudo, o interesse científico sobre esse micronutriente cresceu ao se descobrir que seus receptores estão distribuídos em praticamente todos os tecidos humanos, influenciando também a imunidade, a inflamação e até a prevenção de algumas doenças crônicas.

suplementação de vitamina D

Fonte: Canva

Ainda assim, definir quando suplementar não é tão simples: a síntese cutânea depende da exposição solar, fatores individuais influenciam a resposta do organismo, e as diretrizes internacionais não são totalmente unânimes.

Sol, dieta e estoques corporais: é suficiente?

A principal fonte de vitamina D para os seres humanos é a síntese na pele induzida pela radiação ultravioleta-B (UV-B) da luz solar. 

Alimentos como peixes e cogumelos desempenham um papel secundário no fornecimento total de vitamina D,  contribuindo pouco para o aporte diário. Isso faz com que a exposição solar seja determinante. 

No entanto, depender apenas do sol pode não ser suficiente. Variações sazonais, uso de protetor solar, pigmentação da pele, obesidade e até altas latitudes reduzem a síntese cutânea. 

Por exemplo: na primavera e no verão, a quantidade de vitamina D produzida pode chegar a ser ainda maior do que a dose diária recomendada (1.000 UI). Já no inverno, essa quantidade é de apenas um quarto da dose recomendada (cerca de 220 UI/dia).

Estudos indicam que mesmo após verões ensolarados, os níveis séricos de 25(OH)D podem cair durante o inverno, comprometendo a manutenção de valores adequados ao longo do ano.

Embora o corpo armazene o excesso de vitamina D para liberá-lo gradualmente em sua forma hidroxilada, essa capacidade de “estoque interno” pode não ser suficiente para durar por um longo período, principalmente em pessoas com sobrepeso ou obesidade, onde a vitamina é supostamente sequestrada ou retida no tecido adiposo. 

Por fim, a resposta à vitamina D pode variar significativamente entre indivíduos, um conceito chamado “índice de resposta pessoal à vitamina D” (PRI). Isso significa que a necessidade de suplementação de uma pessoa depende de seu status de vitamina D em relação ao seu PRI, e não apenas de seu status isolado. 

Como avaliar a necessidade de suplementação de vitamina D?

O marcador mais confiável do status de vitamina D é a concentração sérica de 25-hidroxivitamina D (25(OH)D), que representa o estoque total de vitamina D no corpo.

Valores abaixo de 25 a 30 nmol/L (10 a 12 ng/mL) indicam deficiência, mas ainda há debate se o ponto de suficiência deve ser ≥50 nmol/L (20 ng/mL) ou ≥75 nmol/L (30 ng/mL). 

A maioria dos estudos associa melhores desfechos clínicos com níveis iguais ou superiores a 30 ng/mL, com redução do risco de doenças e mortalidade.

Quem deve suplementar a vitamina D?

A suplementação de vitamina D é indicada sempre que houver presença de deficiência ou insuficiência, detectada por exame laboratorial.

Alguns grupos estão em maior risco de deficiência de vitamina D, que deve ser avaliada e corrigida. São estes: 

  • Indivíduos em baixa exposição solar (inverno prolongado, vida urbana, uso frequente de protetor solar, pessoas institucionalizadas)
  • Indivíduos de pele escura
  • Em condições de obesidade, pela maior retenção da vitamina em tecido adiposo
  • Pessoas com uma doença debilitante/crônica (diabetes, doença renal crônica, síndromes de má absorção gastrointestinal, distúrbios da paratireoide, doenças hepáticas)
  • Pacientes após cirurgia bariátrica
  • Durante a gestação e lactação, devido à maior demanda
  • Bebês de mães com deficiência de vitamina D
  • Em idosos, que apresentam menor capacidade de síntese cutânea
  • Pessoas em uso de medicamentos que aumentam o catabolismo da vitamina D (fenobarbital, carbamazepina, dexametasona, rifampicina, nifedipina, espironolactona, ritonavir, acetato de ciproterona)

Doses de suplementação: o que dizem as evidências?

Apesar de décadas de intensa pesquisa, ainda existem lacunas no conhecimento sobre a definição precisa de deficiência e suficiência de vitamina D, assim como as doses de suplementação necessárias. Isso resulta em recomendações heterogêneas, publicadas por diversas sociedades e grupos de especialistas. 

As recomendações tradicionais variam entre 400 a 800 UI/dia, mas estudos recentes sugerem que essas doses podem ser insuficientes para grande parte da população. 

Com base em evidências, uma dose diária de 2000 UI (50 µg) de vitamina D pode ser considerada uma dosagem segura e eficaz para prevenir e tratar a deficiência na população adulta em geral. Essa dose é suficiente para elevar e manter as concentrações séricas de 25(OH)D acima de 20 ng/mL em mais de 99% e acima de 30 ng/mL em mais de 90% da população adulta. 

Uma meta-análise de ensaios clínicos randomizados de vitamina D em pessoas de pele escura residindo em altas latitudes estimou que as ingestões de vitamina D atingiriam níveis séricos de ≥20 ng/mL em 90%, 95% e 97,5% da população em 2.008, 2.364 e 2.672 UI, respectivamente.

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Para pessoas com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30 kg/m², classificadas com obesidade, a dose diária de vitamina D pode precisar ser duas vezes maior do que a recomendada para indivíduos com peso normal.

Além disso, pesquisas mostram que a vitamina D3 (colecalciferol) é mais eficaz que a vitamina D2 (ergocalciferol) na suplementação da deficiência. Estudos comparando os perfis farmacocinéticos das duas formas indicaram que a D3 oral resulta em um aumento rápido e sustentado dos níveis séricos de 25(OH)D por até 90 dias, enquanto o declínio da D2 é mais rápido, retornando ao nível basal após 60 dias.

Segurança do uso

O risco clássico da intoxicação por vitamina D é a hipercalcemia, geralmente associada a doses muito altas (acima de 20.000 UI/dia, por longos períodos). 

A dose de 2000 UI/dia, usada em grandes ensaios, não demonstrou aumento de efeitos adversos, mesmo em indivíduos que já tinham níveis suficientes no início.

Entretanto, doses intermitentes muito altas (como megadoses mensais) estão associadas a maior risco, sugerindo que o regime diário é o mais seguro. Deve-se atentar para o nível máximo tolerável de ingestão de vitamina, de 4.000 UI/dia. 

Outra questão importante de segurança é que algumas evidências argumentam que indivíduos mais velhos e doentes podem ser mais propensos a efeitos adversos da superdosagem de vitamina D. 

Também deve ser mencionado que existem mutações patogênicas hereditárias do CYP24A1 (24-hidroxilase) que levam ao catabolismo prejudicado da vitamina D e, portanto, predispõem à hipercalcemia em indivíduos que recebem a suplementação.

É preciso monitoramento contínuo do status de vitamina D?

Em geral, não. O monitoramento de rotina dos níveis de 25(OH)D é desnecessário para pacientes em doses de manutenção de vitamina D de longo prazo, de até 2.000 UI/dia. 

Contudo, um novo teste após 8 a 12 semanas do início da suplementação é apropriado quando houver suspeita de baixa adesão, em caso de sintomas sugestivos de deficiência de vitamina D e para pacientes em risco de nível persistente (25(OH)D < 30 ng/mL).

Conclusão

A suplementação de vitamina D é indicada quando a produção endógena e a dieta não garantem níveis adequados de 25(OH)D. 

A evidência atual aponta que 2.000 UI/dia de vitamina D3 é uma dose eficaz e segura para a maioria dos adultos. Ainda assim, a decisão deve considerar fatores individuais como idade, índice de massa corporal, hábitos de vida e condições clínicas.

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Referências

Pludowski P, Grant WB, Karras SN, Zittermann A, Pilz S. Vitamin D Supplementation: A Review of the Evidence Arguing for a Daily Dose of 2000 International Units (50 µg) of Vitamin D for Adults in the General Population. Nutrients. 2024;16(3):391. doi:10.3390/nu16030391nutrients-16-00391

Gruber-Bzura BM. Vitamin D—is the sun enough for us? Nutr Metab. 2025;22:70. doi:10.1186/s12986-025-00962-9

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