Aminoácidos intravenosos ajudam a prevenir lesão renal aguda (LRA) após cirurgia cardíaca?

Postado em 21 de outubro de 2024

Nova pesquisa multinacional avalia eficácia da administração de aminoácidos intravenosos para diminuir a ocorrência da LRA após cirurgia cardíaca.

A lesão renal aguda (LRA) é uma complicação grave e comum da cirurgia cardíaca. Nesse sentido, a perfusão renal reduzida é um dos principais fatores contribuintes. 

No contexto da hipoperfusão renal, a infusão de aminoácidos intravenosos pode exercer efeitos protetores nos rins, e ativam a reserva funcional renal. De fato, estudos-piloto mostraram que essa prática é segura e apresenta efeitos benéficos na função renal após cirurgia cardíaca.

aminoácidos intravenosos

Fonte: Canva

Contudo, a eficácia dos aminoácidos em reduzir a ocorrência de LRA após cirurgia cardíaca ainda é incerta. Uma pesquisa inovadora buscou encontrar a resposta para essa questão. Será que os resultados foram positivos? Confira a seguir.

Mais de 3 mil pacientes participaram do estudo

O estudo PROTECTION (Intravenous Amino Acid Therapy for Kidney Protection in Cardiac Surgery) foi um ensaio clínico multinacional, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo.

O objetivo era testar a hipótese de que a terapia com aminoácidos intravenosos resultaria em uma menor ocorrência de LRA pós-operatória em comparação ao placebo.

Para isso, a pesquisa envolveu 3.511 pacientes adultos (acima de 18 anos),  que tinham programação para uma cirurgia cardíaca eletiva com circulação extracorpórea, e esperava-se que permanecessem na unidade de terapia intensiva (UTI) por pelo menos uma noite após a cirurgia.

Os participantes foram divididos em dois grupos:

  1. Grupo de aminoácidos (n=1.759): receberam uma infusão contínua cega de uma mistura balanceada de aminoácidos na dose de 2g/kg de peso corporal ideal por dia (até um máximo de 100g por dia) desde a admissão na sala de cirurgia até 72 horas após o início da infusão, alta da UTI, início da terapia de substituição renal ou morte.
  2. Grupo placebo (n=1.752): receberam uma infusão contínua cega de placebo (solução de Ringer) na mesma taxa e de acordo com o mesmo protocolo.

O desfecho primário foi a ocorrência de LRA, definida de acordo com os critérios de creatinina da Kidney Disease: Improving Global Outcomes

Os desfechos secundários incluíram a gravidade da LRA, o uso e a duração da terapia de substituição renal, e a mortalidade por todas as causas em 30 dias.

A ocorrência de LRA foi menor no grupo de aminoácidos intravenosos

A dose mediana de aminoácidos foi de 1260 ml, correspondendo a 126 g de aminoácidos A duração mediana da infusão foi de 30 horas no grupo de aminoácidos e 31 horas no grupo placebo. A taxa de infusão mediana foi de 40 ml por hora em ambos os grupos.

No momento da alta hospitalar, a lesão renal aguda ocorreu em 474 pacientes (26,9%) no grupo de aminoácidos e em 555 (31,7%) no grupo placebo. Desse modo, a lesão renal aguda ocorreu em menor incidência no grupo que recebeu aminoácidos intravenosos.

Segundo os autores, uma infusão de aminoácidos aumenta a TFG (taxa de filtração glomerular estimada) ao recrutar a reserva funcional renal e pode conferir proteção aos rins. A combinação de melhor perfusão da medula renal e maior fluxo sanguíneo glomerular pode ser um fator-chave na proteção renal.

A maioria dos pacientes com LRA apresentou LRA estágio 1 (430 pacientes no grupo de aminoácidos e 492 no grupo placebo). Já a LRA estágio 3 foi diagnosticada em 29 pacientes no grupo de aminoácidos (1,6%) e em 52 pacientes no grupo placebo (3,0%). 

Não houve diferenças substanciais entre os dois grupos em outros desfechos secundários ou em eventos adversos.

Conclusão

Em resumo, entre pacientes adultos submetidos à cirurgia cardíaca, a infusão de aminoácidos reduziu a ocorrência de lesão renal aguda. Assim, pode-se configurar como uma estratégia protetora contra a LRA. 

Esses achados parecem ser clinicamente e epidemiologicamente importantes, pois podem se aplicar a mais de dois milhões de pacientes que passam por cirurgia cardíaca em todo o mundo anualmente, uma vez que a LRA é um fator de risco independente para doença renal crônica subsequente.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

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Referência:

Landoni, G., Monaco, F., Ti, L. K., Baiardo Redaelli, M., Bradic, N., Comis, M., … & Bellomo, R. (2024). A Randomized Trial of Intravenous Amino Acids for Kidney Protection. New England Journal of Medicine.

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