Quais as recomendações nutricionais para o paciente adulto com litíase renal?

Postado em 18 de março de 2024 | Autor: Nicole Perniciotti

Saiba o que orientar aos seus pacientes para prevenir a formação de novos cálculos renais, evitando intervenções cirúrgicas

A litíase renal, popularmente conhecida como pedra nos rins, é uma condição frequentemente trazida pelos pacientes ao consultório e motivo de internações recorrentes no hospital. De acordo com uma pesquisa, existe um grande desconhecimento das pessoas com essa condição sobre as recomendações nutricionais para litíase renal.

recomendações nutricionais para litíase renal

 A dieta, no entanto, é essencial na prevenção da recorrência de cálculos renais e, consequentemente, pode prevenir a intervenção cirúrgica. Por isso, para o nutricionista cabe a responsabilidade de orientar seus pacientes nesse cuidado, atentando-se às recomendações nutricionais para litíase renal para além da ingestão adequada de líquidos.

Recomendações nutricionais para litíase renal

A origem dos cálculos renais é influenciada por diversos fatores, como distúrbios metabólicos, predisposição genética e irregularidades no sistema urinário. E a alimentação desempenha um papel fundamental nesse processo, podendo influenciar a composição da urina e aumentar a concentração de sais que contribuem para a litíase renal.

Consequentemente, a dieta pode alterar o risco de desenvolvimento de cálculos renais, como você verá a seguir:

Ingestão de líquidos

Apesar da existência de diferentes tipos de cálculos renais (oxalato de cálcio, fosfato de cálcio, ácido úrico, estruvita e cistina), a ingestão adequada de líquidos é considerada a recomendação nutricional mais importante para prevenir a recorrência de cálculos, independente dos fatores de risco individuais.

Essa recomendação é primordial para reduzir a supersaturação da urina, sendo necessário ingerir em torno de 2-3L de líquidos por dia para atingir uma produção de pelo menos 2 a 2,5L de urina/24h. É importante considerar na conta dos líquidos que:

  • A ingestão deve ser uniforme ao longo do dia;
  • É recomendado beber líquidos antes de dormir;
  • Existem outras perdas de líquidos por atividade física intensa, ambientes quentes, ocupação, estresse mental e diarreia;
  • Nem todas as bebidas são indicadas, devendo:
    • Moderar o consumo de chá verde, chá preto e café com cafeína a no máximo 500mL/dia;
    • Evitar refrigerantes adoçados com açúcar;
    • Evitar bebidas alcoólicas no geral.

Consumo proteico

Algumas pesquisas sugerem que a alta ingestão de proteínas na dieta pode apoiar a formação de cálculos devido à carga ácida fornecida pelo excesso de proteínas, que pode aumentar o cálcio urinário e reduzir o pH da urina e a excreção de citrato.

Ainda existe inconsistência nos estudos sobre essa relação, mas existem achados que apontam que para pacientes adultos com litíase renal, a recomendação de 0,8g / PTN / kg / dia pode ser benéfica no tratamento. 

Outro ponto importante trazido pelas pesquisas é que uma proporção maior de frutas e hortaliças na dieta, em comparação à proteína, pode reduzir a acidez e a formação de cálculos pelo potencial alcalinizante desses vegetais.

Carboidratos e gorduras na litíase renal

Existem muitas indagações sobre a ação dos carboidratos na formação de cálculos, mas a limitação dos resultados não aponta uma recomendação nutricional para litíase renal em relação a esse nutriente.

Sobre as gorduras, a mesma inconclusão acontece, no entanto, existe um potencial benéfico a ser mais bem avaliado em relação à suplementação de ômega-3. Estudos sugeriram que o padrão de ácidos graxos da dieta, especialmente a proporção de ácidos graxos poliinsaturados ômega-6 : ômega-3, pode afetar o risco de formação de cálculos de oxalato de cálcio através de vários mecanismos complexos.

Existe uma suposição de que o aumento da ingestão dietética de ômega-3 pode diminuir a excreção urinária de cálcio e oxalato, mas ainda são necessários mais estudos para aprofundar e validar essa hipótese. 

Oxalato

O oxalato urinário é um fator de risco importante para a formação de cálculos de oxalato de cálcio. Ele é derivado da síntese endógena de oxalato e da ingestão dietética, sendo encontrado principalmente em vegetais. 

Deve-se, então, considerar o consumo excessivo de oxalato na dieta e buscar reduzir, além de orientar técnicas dietéticas que diminuam o seu teor nos alimentos, como a fervura ou cocção no vapor que poupa outros nutrientes. Os alimentos com maior teor de oxalato são:

  • Espinafre (cru)
  • Batata doce (crua)
  • Quiabo (cru)
  • Beterraba (crua)
  • Carambola
  • Kiwi
  • Figo
  • Farelo de trigo
  • Farinha de trigo integral
  • Pimenta preta moída
  • Amêndoa
  • Avelã
  • Pistache
  • Cacau em pó

Confira mais em: Tabela de teor de oxalato nos alimentos

Cálcio

A excreção elevada de cálcio (hipercalciúria), é um fator de risco crucial para a formação de cálculos de cálcio, não sendo uma recomendação nutricional para litíase renal a restrição dietética desse nutriente, pois pode induzir perda óssea e aumentar a absorção e excreção de oxalato.

A orientação é manter um consumo adequado, sem excesso e sem exageros, de fontes lácteas e não lácteas como preventivo contra a formação de cálculos. Para adultos, recomenda-se uma ingestão total de cálcio na dieta de 1.000 a 1.200 mg / dia.

Considerando a possível deficiência de cálcio em alguns veganos e vegetarianos, é preciso ficar mais atento aos exames desses pacientes e à ingestão dietética caso apresentem litíase renal.

Sal

Como aumenta a excreção urinária de cálcio, o consumo excessivo de sal é contraindicado para a prevenção e tratamento da litíase renal. Deve-se orientar o paciente a uma ingestão moderada, de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde, sendo até 5g de sal / dia.

Avalie minuciosamente os hábitos alimentares do seu paciente para correlacionar adequadamente como a dieta pode interferir na recorrência de cálculos renais. Assim, você poderá apoiar o tratamento e prevenção dessa condição, melhorando a qualidade de vida do seu paciente.

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Referências

Barghouthy Y, Corrales M, Somani B. The Relationship between Modern Fad Diets and Kidney Stone Disease: A Systematic Review of Literature. Nutrients. 2021; 13(12):4270. https://doi.org/10.3390/nu13124270

National Kidney Foundation. Kidney Stone Diet Plan and Prevention

Ramos, C. I., Bronzate, R. T., & Moreira, A. P. N. (2022). Knowledge of the population on the influence of diet on renal lithiasis.

Siener R. Nutrition and Kidney Stone Disease. Nutrients. 2021; 13(6):1917. https://doi.org/10.3390/nu13061917

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