O medicamento femproporex (no inglês, fenproporex) é um inibidor do apetite derivado da anfetamina, que…
Esses fármacos podem agir no trato gastrointestinal, no sistema nervoso central, ou simular o efeito de hormônios.
As mudanças de estilo de vida são as abordagens primordiais para o tratamento da obesidade. Contudo, os medicamentos para tratamento da obesidade estão em ascensão. Por que?
Isso acontece pois muitos pacientes não conseguem alcançar resultados significativos apenas com dieta e exercício físico, devido a fatores fisiológicos e comportamentais que dificultam a perda de peso e promovem o seu reganho. Assim, a terapia farmacológica é indicada como uma estratégia adicional.
Mas afinal, quais são os fármacos anti-obesidade, e como eles funcionam? A seguir, compreenda o mecanismo por trás dos principais medicamentos para obesidade disponíveis no Brasil atualmente.
Medicamentos intragastrointestinais: Orlistate
Na classe dos medicamentos intragastrointestinais, o único aprovado é o Orlistate. Este fármaco atua bloqueando a absorção de gordura no trato gastrointestinal.
No lúmen do estômago e intestino delgado, o orlistate forma uma ligação covalente com as lipases intestinais, bloqueando a digestão e a absorção de aproximadamente 30% da gordura dietética, e levando ao déficit calórico.
Em relação à sua eficácia, uma meta-análise relatou uma redução de peso 3,1% maior que o placebo com o uso de orlistate, entre adultos com obesidade. Além disso, quase 70% dos participantes conseguiram uma perda de peso de 5% ou mais.
Embora a maioria das diretrizes apoie seu uso no tratamento da obesidade, a American Gastroenterological Association (AGA) não recomendam o orlistate devido ao seu pequeno efeito na perda de peso e aos efeitos adversos gastrointestinais.
Apesar de seus efeitos modestos na perda de peso, o orlistat geralmente apresenta benefícios cardiometabólicos, e se associa à prevenção do diabetes tipo 2.
Medicamentos de ação central
Certos medicamentos antiobesidade podem atuar no sistema nervoso central, com diversos mecanismos de ação no cérebro. Confira-os abaixo.
Fentermina
A fentermina é um medicamento anti-obesidade recomendado por sociedades de saúde para tratar obesidade em adultos sem doença cardiovascular. Seu principal mecanismo de ação envolve a liberação de neurotransmissores no sistema nervoso central, reduzindo o apetite e aumentando a saciedade.
Há poucas evidências sobre os desfechos cardiometabólicos com a fentermina. Além disso, poucos ensaios clínicos testaram sua eficácia e segurança por mais de 3 meses.
Entretanto, um ensaio clínico de 6 meses relatou uma perda de peso de 6,1%, com o uso de fentermina, significativamente maior que o placebo. Mais de 40% dos participantes conseguiram uma perda de peso de 5% ou mais com qualquer dose de fentermina após 6 meses.
Efeitos adversos comuns da fentermina incluem xerostomia, insônia, dor de cabeça, e constipação, que podem melhorar com a redução da dose. Contudo, efeitos adversos graves são incomuns.
Naltrexona-Bupropiona
A naltrexona e a bupropiona reduzem o apetite e os desejos alimentares por meio de diferentes mecanismos que estimulam os neurônios proopiomelanocortina.
Em relação à sua eficácia, uma meta-análise com quase 10 mil adultos com obesidade relatou uma perda de peso 4,1% maior do que o placebo. Além disso, quase metade dos participantes que usaram naltrexona-bupropiona alcançaram uma perda de peso de 5% ou mais em outra investigação.
Comparado a outros medicamentos para tratamento da obesidade, a naltrexona-bupropiona tem menos efeitos sobre fatores de risco cardiovascular.
Investigações sugeriram que a redução de peso é maior quando a naltrexona-bupropiona é combinada com terapia comportamental intensiva. Portanto, pode ser mais adequado para pacientes que participam destes programas.
Efeitos adversos comuns da naltrexona-bupropiona incluem náusea, constipação, dor de cabeça, vômito, tontura, insônia e xerostomia.
Medicamentos à base de hormônios
Com a descoberta do papel do eixo intestino-cérebro no controle do apetite, desenvolveu-se novas medicações baseadas em hormônios estimulados por nutrientes, que simulam os efeitos metabólicos dos hormônios entero-pancreáticos, incluindo o peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1).
Nesse sentido, os medicamentos agonistas do receptor de GLP-1 também possuem um efeito incretínico (ou seja, secreção amplificada de insulina após administração oral) e outras ações cardiometabólicas pleiotrópicas (como a redução da pressão arterial e inflamação).
Inicialmente, os agonistas de GLP-1 foram introduzidos para o tratamento do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, para o tratamento da obesidade.
Os principais fármacos que fazem parte desta classe são:
– Liraglutida
– Tirzepatida
No geral, tais medicamentos mostram um bom perfil de segurança e boa eficácia, apesar de envolverem frequência considerável de efeitos adversos gastrointestinais, como náusea, diarreia, vômito e constipação.
Especificamente, a semaglutida alcança e mantém uma redução de peso superior a 10% enquanto a terapia é continuada. Assim, indica-se a semaglutida para pacientes que precisam atingir essa meta, especialmente entre aqueles com múltiplas condições relacionadas ao peso.
Semelhante à semaglutida, a tirzepatida também é prescrita para adultos que precisam alcançar maiores reduções de peso, particularmente pacientes com maior morbidade relacionada ao peso.
Medicamentos para tratamento da obesidade: o papel da nutricionista
Embora os medicamentos para o tratamento da obesidade desempenhem um papel importante, é fundamental ressaltar que nutricionistas não prescrevem medicamentos.
O trabalho da nutricionista é focado em oferecer suporte por meio de orientações alimentares e mudanças no estilo de vida, além de ajudar os pacientes a minimizar e controlar os possíveis efeitos adversos dos medicamentos.
Abaixo, estão descritas algumas estratégias nutricionais que ajudam a minimizar os efeitos adversos destes medicamentos e contribuir para a adesão da terapia farmacológica.
Náusea: consumir biscoitos, maçãs, hortelã, e bebidas de gengibre 30 minutos após a administração do medicamento.
Vômitos: hidratação adequada; refeições mais frequentes em porções menores.
Diarreia: hidratação adequada; evitar bebidas esportivas, laticínios, café, álcool, refrigerantes; consumir caldo de galinha, arroz, cenoura, frutas cozidas.
Constipação: aporte de fibras adequado; hidratação adequada; dieta saudável e balanceada.
Conclusão
Em suma, os medicamentos para o tratamento da obesidade possuem mecanismos de ação distintos, e o contexto geral de cada paciente deve ser levado em consideração para escolha da melhor terapia farmacológica.
Além disso, é fundamental combinar estes medicamentos à mudanças de estilo de vida, bem como trabalhar questões comportamentais que possam estar ligadas à doença.
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Referências
Gudzune KA, Kushner RF. Medications for Obesity: A Review. JAMA. 2024 Aug 20;332(7):571-584. doi: 10.1001/jama.2024.10816. PMID: 39037780.
Gorgojo-Martínez JJ, Mezquita-Raya P, Carretero-Gómez J, Castro A, Cebrián-Cuenca A, de Torres-Sánchez A, García-de-Lucas MD, Núñez J, Obaya JC, Soler MJ, Górriz JL, Rubio-Herrera MÁ. Clinical Recommendations to Manage Gastrointestinal Adverse Events in Patients Treated with Glp-1 Receptor Agonists: A Multidisciplinary Expert Consensus. J Clin Med. 2022 Dec 24;12(1):145. doi: 10.3390/jcm12010145. PMID: 36614945; PMCID: PMC9821052.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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