A má qualidade do sono evidencia impacto negativo na qualidade de vida, aumentando chances de doenças cardiovasculares e metabólicas.
Existem cada vez mais evidências de que o sono tem influência sobre os hábitos alimentares e consequentemente sobre o balanço energético e regulação do peso corporal. A má qualidade do sono evidencia impacto negativo na qualidade de vida, sendo assim um fator de risco aumentado para doenças cardiovasculares e metabólicas. Indivíduos que relatam ter curta duração de sono (<7 horas por noite) apresentam maior prevalência de aumento do IMC, comparado a indivíduos que relatam ter rotina diária de sono adequado.
Diversas explicações são atribuídas a relação entre redução de horas de sono e obesidade: maior tempo acordado pode ser uma oportunidade para comer mais; aumento dos níveis de hormônio que sinalizam fome e diminuição dos níveis de hormônios que sinalizam saciedade; alterações na termorregulação e aumento da fadiga, implicando na baixa prática de atividade física.
Segundo estudo feito por Spiegele colaboradores, foi pesquisado o impacto da privação de sono na regulação dos hormônios reguladores da saciedade e sensação de fome. Foi observado que um grupo saudável de homens jovens, quando submetidos a restrição do período de sono, tiveram aumento nos níveis de grelina em 28% e redução nos níveis de leptina em 18%. Os participantes do presente estudo relataram aumento da sensação de fome e apetite ao longo do dia, além do aumento da preferência por alimentos ricos em carboidratos e de alta densidade calórica, o que poderia ocasionar no aumento do índice da massa corporal e aumento da porcentagem de gordura corporal.
Outro fator importante que relaciona horas de sono a obesidade é o fato de que o aumento da ingestão alimentar conduz ao aumento dos níveis de cortisol ao final do dia, podendo fazer com que a sensibilidade a insulina seja diminuída na manhã seguinte. O aumento dos níveis de cortisol pode promover o consumo de alimentos com alta densidade energética e consequente aumento da adiposidade abdominal. A ingestão de comida em períodos mais tardios do dia, pode levar a um aumento da secreção de insulina, causando uma maior eficácia na transformação de glicose em gordura visceral, aumentando a acumulação de tecido adiposo intra-abdominal.
Baseado nas evidências encontradas nos estudos feitos até o momento presente, observa-se que a privação do sono pode levar a balanço energético positivo, aumentando o consumo calórico e contribuindo para o desenvolvimento da obesidade. A diminuição do tempo dormido também pode alterar sinalizações relacionadas a fome e saciedade por meio da diminuição dos níveis da leptina e aumento nos níveis da grelina, possivelmente influenciado escolhas alimentares.
Referências
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