Nova diretriz brasileira reforça os cuidados a saúde cardiovascular da mulher durante o climatério e a menopausa.
Durante a transição menopausal, marcada pela queda dos níveis de estrogênio, há uma série de alterações fisiológicas que aumentam os riscos à saúde cardiovascular no climatério e menopausa.
O estrogênio exerce efeito protetor sobre os vasos sanguíneos, favorecendo o equilíbrio lipídico e a função endotelial. Com sua diminuição, as mulheres tornam-se mais vulneráveis a processos inflamatórios, aumento da rigidez arterial e acúmulo de placas ateroscleróticas.
Considerando esse cenário, em 2024 foi publicada a Diretriz Brasileira sobre a Saúde Cardiovascular no Climatério e na Menopausa. Confira a seguir alguns highlights dessa diretriz:

Fonte: Canva
Perfil lipídico, glicemia e gordura abdominal: o cenário muda
Durante o climatério, há uma redução da função protetora do HDL colesterol e um aumento da lipoproteína(a), que contribui para o risco aterogênico. Com o aumento da adiposidade central, promovido pelas alterações hormonais, a síndrome metabólica com resistência à insulina e alterações no metabolismo glicêmico é favorecida, predispondo ao desenvolvimento de diabetes mellitus também.
Esse conjunto de fatores, especialmente quando combinado à menopausa precoce, amplia significativamente o risco cardiovascular nas mulheres.
Hipertensão e remodelamento cardíaco: uma preocupação crescente
Mulheres com hipertensão arterial sistêmica na pós-menopausa apresentam maior risco de hipertrofia ventricular esquerda e disfunção diastólica. A hipertensão sistólica isolada também se torna mais frequente devido à maior rigidez aórtica, e esses fatores impactam diretamente a saúde cardiovascular no climatério.
Segundo a diretriz, o sedentarismo nessa fase da vida contribui para a piora do condicionamento físico e dificulta o controle de fatores de risco. Mulheres sedentárias apresentam maior incidência de fraturas, mortalidade por todas as causas e desfechos cardiovasculares negativos.
Emoções, estresse e inflamação
O climatério também afeta a saúde emocional. Mulheres enfrentam maior risco de depressão, ansiedade e insônia, o que pode desencadear uma ativação crônica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, resultando em inflamação sistêmica e piora do perfil metabólico.
Esse estado pró-inflamatório acelera a aterosclerose, impactando negativamente a saúde cardiovascular no climatério.
Doenças cardiovasculares na pós-menopausa
Na pós-menopausa, aumentam a incidência de insuficiência cardíaca, tanto sistólica quanto diastólica, e o remodelamento concêntrico do ventrículo esquerdo. A menopausa precoce agrava esse cenário, elevando o risco de fibrilação atrial — condição associada à hipertensão, obesidade, álcool em excesso e múltiplas gestações.
Além disso, há uma maior incidência de acidente vascular cerebral (AVC) em mulheres idosas, especialmente negras e com menor nível socioeconômico, sendo a hipertensão o principal fator de risco. Após um AVC, mulheres costumam apresentar piores desfechos clínicos e maior mortalidade do que os homens.
Efeitos indiretos da menopausa: câncer, osteoporose e demência
Mulheres tratadas para câncer de mama na pós-menopausa apresentam risco cardiovascular aumentado, seja pela cardiotoxicidade do tratamento oncológico, seja pelo controle inadequado de fatores de risco.
A perda de estrogênio também acelera a perda óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas. Além disso, há aumento da incidência de disfunções tireoidianas e demência, especialmente entre mulheres mais velhas.
Conclusão: olhar integral
A estratificação do risco cardiovascular desde o climatério é uma estratégia essencial para prevenir doenças e reduzir a mortalidade entre mulheres. Embora ainda não existam escores específicos para essa fase da vida, os modelos tradicionais podem ser adaptados com a inclusão de marcadores de aterosclerose subclínica e fatores potencializadores de risco.
Mais do que nunca, é preciso fortalecer os pilares da saúde cardiovascular no climatério: alimentação saudável, atividade física, abandono do tabagismo, controle do estresse, monitoramento regular e, quando indicado, uso seguro da terapia hormonal.
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Referência
Oliveira, G. M. M. de ., Almeida, M. C. C. de ., Arcelus, C. M. A., Neto Espíndola, L., Rivera, M. A. M., Silva-Filho, A. L. da ., Marques-Santos, C., Fernandes, C. E., Albuquerque, C. J. da M., Freire, C. M. V., Izar, M. C. de O., Costa, M. E. N. C., Castro, M. L. de ., Lemke, V. de M. G., Lucena, A. J. G. de ., Brandão, A. A., Macedo, A. V. S., Polanczyk, C. A., Lantieri, C. J. B., … Wender, M. C. O.. (2024). Diretriz Brasileira sobre a Saúde Cardiovascular no Climatério e na Menopausa – 2024. Arquivos Brasileiros De Cardiologia, 121(7), e20240478. https://doi.org/10.36660/abc.20240478
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Nutricionista pela PUC Campinas, Especialização em Docência no Ensino Superior - UNINOVE, Especialista em TN pelas BRASPEN, Especialização em TN e Nutrição Clínica Ganep