Intervenções abrangentes são necessárias para melhorar o quadro de fragilidade
Idosos com Síndrome de Fragilidade enfrentam um maior número de déficits de saúde, além de possuírem uma menor capacidade de resistir a consequências negativas. As Diretrizes de Prática Clínica são de suma importância para orientar os profissionais no processo de atendimento destes idosos, bem como na melhora de seu funcionamento físico e qualidade de vida.
Por isso, hoje trouxemos informações coletadas de duas publicações recentes, que reúnem as estratégias mais atualizadas para gerenciar a fragilidade do adulto idoso no ambiente clínico, baseadas em revisões sistemáticas e metanálises. Vamos conferir?
Em primeiro lugar, o que é a fragilidade?
Em suma, a Síndrome de Fragilidade é definida como uma condição geradora de maior vulnerabilidade aos resultados de saúde, proveniente do declínio fisiológico do indivíduo, e tem sido associada a muitos resultados adversos, incluindo: quedas, delírio, institucionalização, maus resultados após cirurgia, dependência funcional, incapacidade e morte.
Apesar de ser passível de melhora, são muitos os contribuintes para a sua progressão, tais como a perda de peso, o baixo nível de atividade física, e a falta de suporte social.
O que dizem as diretrizes?
A seguir, estão indicados os procedimentos mais indicados para melhora do status de fragilidade na prática clínica, baseados em evidências científicas e consensos de especialistas.
- Identificação precoce
A diretriz canadense “British Columbian Guideline” recomenda uma abordagem de identificação precoce dos primeiros sinais de alerta da fragilidade entre os idosos, especialmente entre aqueles que acessam regularmente serviços sociais e de saúde.
Os sinalizadores incluem a perda de peso não intencional (superior a 5% do peso corporal), quedas, delírio, imobilidade, polifarmácia e problemas de deglutição.
Após a triagem nutricional, aqueles identificados como estando em risco de fragilidade devem passar por uma avaliação de fragilidade adicional, utilizando uma ferramenta validada.
- Prática de atividade física
Sugere-se que a prática de atividade física reduza (e até mesmo reverta) o nível de fragilidade do idoso, além de melhorar a mobilidade (velocidade de caminhada, sentar e ficar em pé, equilíbrio, etc), as atividades da vida diária, a qualidade de vida e as funções cognitivas.
Em especial, as atividades físicas multicomponentes (ou seja, combinação de exercícios aeróbicos, de resistência, de equilíbrio, flexibilidade e reabilitação) parecem ter um grande efeito na redução da gravidade da fragilidade.
A prescrição das atividades deve ser adaptada às necessidades do indivíduo, seu estado de saúde, suas preferências e seu estado cognitivo. Encaminhamentos para especialistas em exercício e integração de estratégias de mudança de comportamento podem ser apropriadas para garantir um apoio personalizado.
- Otimização da ingestão alimentar
Diversas autoridades (tal como a Sociedade Europeia para Nutrição Parenteral e Enteral) sugerem dietas de alta densidade energética, bem como o uso de fortificadores alimentares e a suplementação oral energética e proteica, especialmente quando a perda de peso não intencional ou a desnutrição estão presentes.
Particularmente para as proteínas, sabe-se que o consumo bem distribuído desses nutrientes, em porções de 25 a 30 g por refeição, é importante para maximizar a absorção de aminoácidos e promover a síntese proteica em adultos idosos.
Doses entre 2 a 2,8 g de leucina (um aminoácido essencial) fornecido em cada refeição diária foram mostradas como estimuladoras da síntese de proteínas musculares e inibidoras do catabolismo muscular.
Dentre os resultados positivos destas recomendações, têm-se a melhora no estado de fragilidade, nos resultados físicos e na mobilidade.
Para a suplementação de vitamina D, embora algumas evidências sugiram seu uso, elas são insuficientes para concluir se há melhora do estado nutricional ou do desempenho físico.
Em relação à educação nutricional, as evidências não são consensuais em relação à melhora do estado nutricional, apesar de parecer benéfica para o status da fragilidade, desempenho e capacidade funcional.
- Estratégias combinadas de nutrição e atividade física
É fortemente recomendado que as estratégias alimentares e físicas sugeridas anteriormente sejam integradas, a fim de se construir intervenções com resultados mais garantidos.
Além disso, os riscos potenciais de iniciar o exercício físico quando a nutrição está inadequada incluem a capacidade de exercício limitada, ganhos de força muscular atenuados e perda de peso, consequências nada agradáveis para idosos com fragilidade.
- Intervenções multicomponentes
Para um tratamento completo, as intervenções devem ser multifatoriais. Além de alimentação e atividade física, estratégias voltadas para a saúde bucal, redução da polifarmácia, tratamento psicológico, promoção de habilidades sociais, gestão de sarcopenia, entre outros, foram consideradas mais eficazes para melhorar a fragilidade e a capacidade funcional de idosos nestas condições.
Deste modo, intervenções mais apropriadas para gerenciar a fragilidade, aumentar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir os custos de saúde e assistências social são aquelas que:
- Entregam estratégias simultâneas;
- Envolvem profissionais de diversas áreas de conhecimento, ou seja, uma equipe multidisciplinar;
- São centradas no paciente;
- Incluem uma avaliação abrangente e uma abordagem bem coordenada e proativa.
Então, qual é o papel dos profissionais no tratamento de idosos com fragilidade?
A partir das diretrizes analisadas, fica claro o importante papel dos profissionais da saúde na adoção de estratégias multifatoriais, incluindo intervenções alimentares e de atividade física, que consideram o nível de fragilidade do idoso no momento da avaliação.
Para ler as publicações analisadas por completo, clique nos links abaixo:
Referências:
LORBERGS, A. L. et al. Nutrition and Physical Activity Clinical Practice Guidelines for Older Adults Living with Frailty. The Journal of Frailty & Aging, p. 1-9, 2021.
KHOR, Phay Yean; VEARING, Rebecca M.; CHARLTON, Karen E. The effectiveness of nutrition interventions in improving frailty and its associated constructs related to malnutrition and functional decline among community‐dwelling older adults: A systematic review. Journal of Human Nutrition and Dietetics, 2021.
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Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN. Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e inovação do Ganep Educação e Nutritotal