Sociedade Italiana de Obesidade (SIO) apresenta diretrizes atualizadas sobre obesidade na gestação, abordando diagnóstico, ganho de peso e estratégias nutricionais.
A obesidade gestacional (OG) é uma condição complexa, com uma prevalência que aumenta constantemente com o passar dos anos.
A OG traz diversas consequências, tanto para a saúde da mãe quanto do filho, e que podem se estender para além do período gestacional. Alguns exemplos incluem diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, hipoglicemia neonatal, defeitos congênitos e obesidade infantil.

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Em sua nova declaração de posição, a Sociedade Italiana de Obesidade (SIO) forneceu uma visão geral e abrangente da obesidade gestacional, com foco no diagnóstico e intervenções terapêuticas disponíveis.
Confira os destaques a seguir.
Diagnóstico da obesidade gestacional
Ganho de peso gestacional
A avaliação antropométrica mais comum para medir a composição corporal materna e as mudanças durante a gravidez envolve o ganho de peso gestacional (GPG).
O GPG é definido como o peso ganho durante a gestação até a consulta pré-parto, em relação à primeira consulta pré-natal. Ele é resultante de modificações como aumento do útero, desenvolvimento fetal, formação do líquido amniótico e da placenta, aumento dos fluidos intra e extravasculares, aumento das mamas e estoque de gordura.
As recomendações do Institute of Medicine (IOM) para GPG são baseadas no IMC pré-gestacional, com intervalos de:
- 7 a 11,5 kg para mulheres com sobrepeso
- 5 a 9,0 kg para mulheres com obesidade (IMC > 30 kg/m²)
Embora seja consenso que ganhos de peso acima dessa faixa estejam associados a riscos, a falta de orientação específica para classes de obesidade é um tópico muito debatido entre especialistas na área, e os dados da literatura fornecem resultados contrastantes.
A Sociedade Italiana trouxe uma tabela comparando as recomendações do Institute of Medicine (IOM) de 2009 com sugestões de estudos científicos mais recentes:
Classificação de peso pré-gestacional e IMC (kg/m²) | Faixa de ganho de peso recomendada – Institute of Medicine (2009) | Faixa de ganho de peso recomendada – Voerman E et al. (2019) | Ganho de peso recomendado – Devlieger R et al. (2020) |
Abaixo do peso (< 18,5 kg/m²) | 12.5 a 18 kg | 14 a 16 kg | 21 kg |
Peso normal (18,5–24,9 kg/m²) | 11.5 a 16 kg | 10 a 18 kg | 14 kg |
Sobrepeso (25,0–29,9 kg/m²) | 7 a 11.5 kg | 2 a 16 kg | 8 kg |
Obesidade (≥ 30 kg/m²) | 5 a 9 kg | – | – |
Obesidade Classe 1 (30,0–34,9 kg/m²) | – | 2 a 6 kg | 0 kg |
Obesidade Classe 2 (35,0–39,9 kg/m²) | – | 0 a 4 kg | Perder peso a 4 kg |
Obesidade Classe 3 (≥ 40 kg/m²) | – | 0 a 6 kg | Perder peso a 5 kg |
Vale ressaltar que o Ministério de Saúde Brasileiro indica orientações de GPG diferentes. Saiba mais em: Qual é a recomendação de ganho de peso na gestação?
Avaliação da composição corporal
O IMC e o GPG são usados como triagem para detectar gestações de risco, mas fornecem pouca informação sobre as mudanças na composição corporal materna. Além disso, o crescimento fetal pode estar mais relacionado às alterações mais específicas do tecido materno – massa gorda (MG) e na massa livre de gordura (MLG) – do que ao GPG ou IMC.
No segundo trimestre, o GPG é dominado pelo acúmulo de MG, enquanto no terceiro trimestre, predomina o aumento da MLG e o crescimento fetal.
Vários métodos podem ser usados para avaliar a composição corporal materna e para avaliar as mudanças na MG e MLG antes, durante e depois da gravidez. Seus pontos fortes e fracos foram resumidos pela SIO na tabela abaixo.
Método | Pontos fortes | Pontos fracos |
Dobras cutâneas | Simples, barato | Equações para estimar a gordura corporal total, levando em consideração a mudança na hidratação da MLG, disponíveis apenas para determinadas idades gestacionais |
Bioimpedância elétrica | Simples, barato | Equações para estimar o gordura corporal total disponíveis apenas para determinadas idades gestacionais; incapaz de separar a unidade materno-fetal |
Pesagem subaquática | Preciso | Método que requer equipamento complexo. Incapaz de separar a unidade materno-fetal. Os resultados são influenciados por alterações na hidratação da MLG durante a gravidez |
Pletismografia por deslocamento de ar | Preciso | Caro e requer equipamento complexo. Incapaz de separar a unidade materno-fetal. Resultado influenciado por alterações na hidratação da MLG durante a gestação |
Diluição isotópica | Preciso | Exige coleta frequente de urina. Somente para pesquisa. É caro e requer equipamentos complexos e técnicos experientes |
Contagem de potássio em todo o corpo | Preciso | É caro e requer equipamentos complexos; menos preciso durante a gravidez devido à variação no conteúdo pós-consumo no MLG |
Ressonância magnética | Preciso | Somente para pesquisa. É caro e requer equipamentos complexos e técnicos experientes |
Entretanto, devido ao estado dinâmico da gravidez, não há acordo sobre o método ideal para avaliar quantitativamente a gordura corporal em mulheres grávidas. Os especialistas ressaltam a necessidade de validar algoritmos que regulem as alterações de hidratação observadas nos diversos estágios gestacionais.
Obesidade gestacional: recomendações nutricionais
A intervenção nutricional é essencial para controlar o GPG e reduzir riscos associados. Entretanto, as diferenças metodológicas entre os estudos dificultam o desenvolvimento de diretrizes clínicas e a aplicabilidade das evidências na prática clínica.
Uma das principais estratégias de intervenção de peso envolve o controle de calorias. As metas calóricas geralmente variam de 1200 a 1800 kcal/dia, ajustadas com base em fatores como peso corporal, idade gestacional e nível de atividade física. Essa estratégia demonstra reduzir o GPG, sem efeitos adversos nos resultados maternos ou fetais.
Além do controle de calorias, otimizar a composição de macronutrientes é essencial para controlar a obesidade na gestação. Estudos com 20 a 30% de proteína, 25 a 35% de gordura, e 40 a 55% de carboidratos, demonstraram reduções significativas do GPG.
Ademais, promover padrões e comportamentos alimentares saudáveis é crucial. Intervenções no estilo de vida que incluem dieta e atividade física demonstraram reduzir o risco de hipertensão induzida pela gravidez, parto cesáreo e dificuldade respiratória em neonatos.
Por fim, abordagens mais específicas também foram propostas pela ciência, podendo auxiliar no controle do peso gestacional e resultados de saúde materna e fetal. Estas incluem:
- Dietas ricas em proteínas
- Dietas de baixo índice glicêmico
- Suplementação com mirtilos
- Suplementação com fibras solúveis
- Suplementação de mio-inositol
No entanto, os detalhes da intervenção nutricional mais apropriada para esses tipos de mulheres ainda precisam ser estudados.
Acesse o material completo
No documento na íntegra, os autores detalham os efeitos da obesidade gestacional na saúde da mãe e da criança, além das intervenções farmacológicas disponíveis atualmente.
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Referência:
Barrea L, Camastra S, Garelli S, Guglielmi V, Manco M, Velluzzi F, Barazzoni R, Verde L, Muscogiuri G. Position statement of Italian Society of Obesity (SIO): Gestational Obesity. Eat Weight Disord. 2024 Sep 27;29(1):61. doi: 10.1007/s40519-024-01688-y. PMID: 39331227; PMCID: PMC11436444.
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