Obesidade gestacional: posicionamento da Sociedade Italiana de Obesidade (SIO)

Postado em 14 de fevereiro de 2025

Sociedade Italiana de Obesidade (SIO) apresenta diretrizes atualizadas sobre obesidade na gestação, abordando diagnóstico, ganho de peso e estratégias nutricionais.

A obesidade gestacional (OG) é uma condição complexa, com uma prevalência que aumenta constantemente com o passar dos anos. 

A OG traz diversas consequências, tanto para a saúde da mãe quanto do filho, e que podem se estender para além do período gestacional. Alguns exemplos incluem diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, hipoglicemia neonatal, defeitos congênitos e obesidade infantil.

obesidade na gestação

Fonte: Canva

Em sua nova declaração de posição, a Sociedade Italiana de Obesidade (SIO) forneceu uma visão geral e abrangente da obesidade gestacional, com foco no diagnóstico e intervenções terapêuticas disponíveis. 

Confira os destaques a seguir.

Diagnóstico da obesidade gestacional

Ganho de peso gestacional

A avaliação antropométrica mais comum para medir a composição corporal materna e as mudanças durante a gravidez envolve o ganho de peso gestacional (GPG)

O GPG é definido como o peso ganho durante a gestação até a consulta pré-parto, em relação à primeira consulta pré-natal. Ele é resultante de modificações como aumento do útero, desenvolvimento fetal, formação do líquido amniótico e da placenta, aumento dos fluidos intra e extravasculares, aumento das mamas e estoque de gordura.

As recomendações do Institute of Medicine (IOM) para GPG são baseadas no IMC pré-gestacional, com intervalos de:

  • 7 a 11,5 kg para mulheres com sobrepeso 
  • 5 a 9,0 kg para mulheres com obesidade (IMC > 30 kg/m²)

Embora seja consenso que ganhos de peso acima dessa faixa estejam associados a riscos, a falta de orientação específica para classes de obesidade é um tópico muito debatido entre especialistas na área, e os dados da literatura fornecem resultados contrastantes.

A Sociedade Italiana trouxe uma tabela comparando as recomendações do Institute of Medicine (IOM) de 2009 com sugestões de estudos científicos mais recentes:

Classificação de peso pré-gestacional e IMC (kg/m²)Faixa de ganho de peso recomendada – Institute of Medicine (2009)Faixa de ganho de peso recomendada – Voerman E et al. (2019)Ganho de peso recomendado – Devlieger R et al. (2020)
Abaixo do peso

(< 18,5 kg/m²)

12.5 a 18 kg14 a 16 kg21 kg
Peso normal

(18,5–24,9 kg/m²)

11.5 a 16 kg10 a 18 kg14 kg
Sobrepeso

(25,0–29,9 kg/m²)

7 a 11.5 kg2 a 16 kg8 kg
Obesidade

(≥ 30 kg/m²)

5 a 9 kg
Obesidade Classe 1 (30,0–34,9 kg/m²)2 a 6 kg0 kg
Obesidade Classe 2 (35,0–39,9 kg/m²)0 a 4 kgPerder peso a 4 kg
Obesidade Classe 3 (≥ 40 kg/m²)0 a 6 kgPerder peso a 5 kg

Vale ressaltar que o Ministério de Saúde Brasileiro indica orientações de GPG diferentes. Saiba mais em: Qual é a recomendação de ganho de peso na gestação?

Avaliação da composição corporal

O IMC e o GPG são usados como triagem para detectar gestações de risco, mas fornecem pouca informação sobre as mudanças na composição corporal materna. Além disso, o crescimento fetal pode estar mais relacionado às alterações mais específicas do tecido materno – massa gorda (MG) e na massa livre de gordura (MLG) – do que ao GPG ou IMC.

No segundo trimestre, o GPG é dominado pelo acúmulo de MG, enquanto no terceiro trimestre, predomina o aumento da MLG e o crescimento fetal.

Vários métodos podem ser usados ​​para avaliar a composição corporal materna e para avaliar as mudanças na MG e MLG antes, durante e depois da gravidez. Seus pontos fortes e fracos foram resumidos pela SIO na tabela abaixo.

MétodoPontos fortesPontos fracos
Dobras cutâneasSimples, baratoEquações para estimar a gordura corporal total, levando em consideração a mudança na hidratação da MLG, disponíveis apenas para determinadas idades gestacionais
Bioimpedância elétricaSimples, baratoEquações para estimar o gordura corporal total disponíveis apenas para determinadas idades gestacionais; incapaz de separar a unidade materno-fetal
Pesagem subaquáticaPrecisoMétodo que requer equipamento complexo. Incapaz de separar a unidade materno-fetal. Os resultados são influenciados por alterações na hidratação da MLG durante a gravidez
Pletismografia por deslocamento de arPrecisoCaro e requer equipamento complexo. Incapaz de separar a unidade materno-fetal. Resultado influenciado por alterações na hidratação da MLG durante a gestação
Diluição isotópicaPrecisoExige coleta frequente de urina. Somente para pesquisa. É caro e requer equipamentos complexos e técnicos experientes
Contagem de potássio em todo o corpoPrecisoÉ caro e requer equipamentos complexos; menos preciso durante a gravidez devido à variação no conteúdo pós-consumo no MLG
Ressonância magnéticaPrecisoSomente para pesquisa. É caro e requer equipamentos complexos e técnicos experientes

Entretanto, devido ao estado dinâmico da gravidez, não há acordo sobre o método ideal para avaliar quantitativamente a gordura corporal em mulheres grávidas. Os especialistas ressaltam a necessidade de validar algoritmos que regulem as alterações de hidratação observadas nos diversos estágios gestacionais.

Obesidade gestacional: recomendações nutricionais

A intervenção nutricional é essencial para controlar o GPG e reduzir riscos associados. Entretanto, as diferenças metodológicas entre os estudos dificultam o desenvolvimento de diretrizes clínicas e a aplicabilidade das evidências na prática clínica.

Uma das principais estratégias de intervenção de peso envolve o controle de calorias. As metas calóricas geralmente variam de 1200 a 1800 kcal/dia, ajustadas com base em fatores como peso corporal, idade gestacional e nível de atividade física. Essa estratégia demonstra reduzir o GPG, sem efeitos adversos nos resultados maternos ou fetais.

Além do controle de calorias, otimizar a composição de macronutrientes é essencial para controlar a obesidade na gestação. Estudos com 20 a 30% de proteína, 25 a 35% de gordura, e 40 a 55% de carboidratos, demonstraram reduções significativas do GPG.

Ademais, promover padrões e comportamentos alimentares saudáveis ​​é crucial. Intervenções no estilo de vida que incluem dieta e atividade física demonstraram reduzir o risco de hipertensão induzida pela gravidez, parto cesáreo e dificuldade respiratória em neonatos.

Por fim, abordagens mais específicas também foram propostas pela ciência, podendo auxiliar no controle do peso gestacional e resultados de saúde materna e fetal. Estas incluem: 

  • Dietas ricas em proteínas 
  • Dietas de baixo índice glicêmico
  • Suplementação com mirtilos
  • Suplementação com fibras solúveis
  • Suplementação de mio-inositol

No entanto, os detalhes da intervenção nutricional mais apropriada para esses tipos de mulheres ainda precisam ser estudados.

Acesse o material completo

No documento na íntegra, os autores detalham os efeitos da obesidade gestacional na saúde da mãe e da criança, além das intervenções farmacológicas disponíveis atualmente.

Para acessar o material completo, clique aqui.

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Referência:

Barrea L, Camastra S, Garelli S, Guglielmi V, Manco M, Velluzzi F, Barazzoni R, Verde L, Muscogiuri G. Position statement of Italian Society of Obesity (SIO): Gestational Obesity. Eat Weight Disord. 2024 Sep 27;29(1):61. doi: 10.1007/s40519-024-01688-y. PMID: 39331227; PMCID: PMC11436444.

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