Recomendações para uso do GLIM em UTI

Postado em 24 de junho de 2025

Conheça as recomendações internacionais atualizadas sobre o uso do diagnóstico de desnutrição pelo GLIM em pacientes críticos.

A desnutrição preexistente pode atingir até 75% dos pacientes internados em UTI, e está associada à diversos desfechos negativos. 

A abordagem da Iniciativa de Liderança Global sobre Desnutrição (GLIM) foi elaborada para ser uma ferramenta diagnóstica simples no reconhecimento da desnutrição, além da classificá-la como moderada ou grave.

Embora não tenha sido concebida para uso em doenças críticas, também possui validade nesta população, com sensibilidade e especificidade >80% em comparação com a Avaliação Subjetiva Global.

GLIM em UTI

Fonte: Canva

Recentemente, um grupo de trabalho com membros de diversas sociedades globais de nutrição clínica (ASPEN, ESPEN, FELANPE e PENSA) desenvolveu diretrizes para o uso do GLIM em UTI. Confira suas orientações a seguir.

Desnutrição preexistente na admissão na UTI

Os especialistas sugeriram que os pacientes sejam avaliados quanto à desnutrição utilizando os critérios fenotípicos (perda de peso, baixo índice de massa corporal e baixa massa muscular) e etiológicos (inflamação e ingestão/assimilação alimentar inadequada) do GLIM, dentro de 48 horas após a admissão na UTI

Quando não for viável, sugere a avaliação em até 4 dias.

Outras abordagens para o diagnóstico de desnutrição que utilizem critérios semelhantes podem ser aplicadas ou integradas a esses critérios GLIM.

Essa recomendação também vale para pacientes com sobrepeso e obesidade, uma vez que o excesso de peso corporal não protege contra a desnutrição; na verdade, às vezes pode mascarar a perda de massa muscular.

Desenvolvimento e progressão da desnutrição durante a internação na UTI

A proteólise e a perda de massa muscular são características de doenças graves. Além disso, o fornecimento inadequado de macronutrientes é uma ocorrência bem documentada na UTI. Por fim, pacientes com internação prolongada podem apresentar maior frequência de intolerância gastrointestinal e/ou metabólica, e atrofia muscular por desuso relacionada à imobilização. 

Juntos, esses fatores contribuem para o comprometimento do estado nutricional durante a internação.

Assim, sugere-se que os pacientes que não foram diagnosticados com desnutrição na admissão na UTI sejam reavaliados dentro de 7 a 10 dias, pois apresentam alto risco de desenvolver desnutrição durante esse período. 

Perda progressiva de massa muscular

A perda significativa de massa muscular é uma característica marcante da doença crítica, resultante de proteólise induzida por inflamação e da inibição da síntese proteica, além de fatores como imobilização e intolerâncias metabólicas ou gastrointestinais. 

Por isso, recomenda‑se avaliar a massa muscular o mais precocemente possível na admissão na UTI e reavaliá‑la em pacientes que permaneçam além de 7–10 dias de internação, utilizando métodos validados de acordo com a disponibilidade local.

Ferramentas de imagem como tomografia computadorizada (avaliação da área de músculo esquelético em L3) e ultrassonografia de quadríceps podem quantificar alterações na massa muscular, embora escores de fluidos e protocolos variáveis exijam interpretação cuidadosa. 

A bioimpedância elétrica oferece uma alternativa rápida, mas depende de normalização do estado de fluidos e de pontos de corte ainda não disponíveis.

Em cenários onde medidas de massa muscular baseadas em tecnologia não são viáveis, as medidas da circunferência da panturrilha ou do meio do braço podem dar uma indicação de baixa massa muscular.

O exame físico que inclui avaliação dos grupos musculares temporal, deltoide, bíceps, tríceps, peitoral, supraescapular, quadríceps e interósseo pode ser aplicado por avaliadores treinados. No entanto, esses métodos podem não identificar todos os pacientes com baixa massa muscular, e sua sensibilidade para medidas repetidas ainda precisa ser avaliada

Desenvolvimento e a progressão da desnutrição antes e após a alta da UTI

Em pacientes com doença crítica, os autores recomendam que o estado nutricional seja reavaliado antes da alta da UTI. Também sugerem que pacientes com alta de uma internação na UTI por mais de uma semana tenham seu estado nutricional reavaliado durante as consultas clínicas subsequentes, conforme a disponibilidade da equipe.

A avaliação imediatamente antes da alta pode informar o suporte nutricional necessário na próxima fase do tratamento, seja a alta para a enfermaria, centro de reabilitação ou domicílio.

Considerações finais

Em suma, o uso do GLIM na UTI, com avaliação de variáveis fenotípicas e etiológicas ao longo da internação e após a alta, é essencial para mapear a trajetória da desnutrição em pacientes críticos e orientar intervenções nutricionais personalizadas. 

Contudo, o grupo de trabalho levantou diversas questões em aberto que demandam investigação, como por exemplo:

  • Pacientes desnutridos devem receber uma intervenção nutricional diferente daquela daqueles em risco de desnutrição?
  • O momento ideal para a avaliação nutricional varia dependendo da gravidade da inflamação relacionada à doença?
  • Após a alta da UTI, qual é o momento ideal para a reavaliação nutricional?

Pesquisas futuras devem investigar estes tópicos, para aprimorar o cuidado nutricional desde a admissão até o longo prazo pós‑UTI.

Para ler a diretriz completa, clique aqui.

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Referência:

Fukushima R, Compher CW, Correia MITD, Gonzalez MC, McKeever L, Nakamura K, Lee ZY, Patel JJ, Singer P, Stoppe C, Ayala JC, Barazzoni R, Berger MM, Cederholm T, Chittawatanarat K, Cotoia A, Lopez-Delgado JC, Earthman CP, Elke G, Hartl W, Hasan MS, Higashibeppu N, Jensen GL, Lambell KJ, Lew CCH, Mechanick JI, Mourtzakis M, Nogales GCC, Oshima T, Peterson SJ, Rice TW, Rosenfeld R, Sheean P, Silva FM, Tah PC, Uyar M. Recognizing malnutrition in adults with critical illness: Guidance statements from the Global Leadership Initiative on Malnutrition. Clin Nutr. 2025 Jun;49:202-208. doi: 10.1016/j.clnu.2025.03.011. Epub 2025 Mar 31. PMID: 40169339.

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