Essas ciências auxiliam a construção de uma dieta personalizada que evite doenças, promova a saúde e a longevidade.
Desde a virada do século XXI, a nutrigenética e a nutrigenômica são tidas como o futuro da nutrição personalizada. Essas especialidades ganham cada vez mais espaço nas pesquisas, principalmente por sua capacidade de prevenir e tratar doenças. Neste artigo, reunimos tudo o que você precisa saber para estar por dentro do assunto. Confira a seguir!
Nutrigenética: o que é?
A nutrigenética nada mais é do que o estudo das interações entre os fatores nutricionais e os fatores genéticos, bem como o modo que essas interações influenciam na etiologia das doenças.
O principal objetivo é investigar o impacto das variações genéticas na resposta de um indivíduo à ingestão alimentar, especialmente em termos de influência no estado metabólico. A principal variação genética que se investiga são os polimorfismos de nucleotídeo único (SNP), ou seja, quando uma única base nucleotídica é substituída ao longo de uma sequência de DNA.
Em suma, a nutrigenética se preocupa em saber como a composição genotípica de um indivíduo influencia a resposta fenotípica à ingestão alimentar. Assim, pode-se criar uma recomendação individualizada em termos de componentes dietéticos ou um padrão alimentar mais indicado para o paciente.
E a nutrigenômica?
Em relação à nutrigenômica, esta tem suas raízes no Projeto Genoma Humano. Seu principal objetivo é investigar o impacto da dieta nos genes e na alteração do fenótipo, ou seja, na expressão gênica.
Assim, a nutrigenômica irá voltar seu olhar para compreender como os componentes alimentares podem aumentar ou suprimir a expressão de determinados genes. Desse modo, é possível reduzir o risco de doenças ou até melhorar a resposta individual no tratamento de certas condições.
E qual é a relação entre nutrigenética e nutrigenômica?
A relação da nutrigenética com a nutrigenômica é complementar. Enquanto a nutrigenética se preocupa com os polimorfismos genéticos, utilizando estudos de associação do genoma completo (GWAS), a nutrigenômica se concentra na expressão gênica com relação à dieta por meio da tecnologia ômica de alto rendimento.
Consequentemente, a nutrigenética pode equiparar a nutrigenômica com informações relevantes a serem investigadas, em termos de identificação dos mecanismos envolvidos no impacto que a dieta pode ter na expressão gênica.
Por meio dessas interações recíprocas, ambas se complementam para fornecer uma visão abrangente do metabolismo de um indivíduo, a fim de construir uma dieta personalizada que evite doenças, além de promover a saúde e a longevidade.
Nutrigenética e nutrigenômica no combate à doenças
As altas taxas de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis são preocupantes. Obesidade, diabetes mellitus, câncer e doenças cardiovasculares e pulmonares entram nesta classe.
Já se sabe que a interação entre genes e fatores ambientais nestas enfermidades contribuem para a patologia. Dentre esses fatores ambientais, temos o fumo, o alto uso de medicamentos, aspectos socioeconômicos e etc. Porém, a alimentação merece destaque pela sua capacidade de modular a expressão gênica.
Apesar de mais pesquisas serem necessárias, a contribuição da nutrigenética e da nutrigenômica neste quesito é notável. Exemplos dessas contribuições são descritos a seguir.
- Câncer
No câncer, estudos anteriores sugeriram que os polifenóis dietéticos estão envolvidos na prevenção e reversão de uma variedade de cânceres através de mecanismos epigenéticos. Além disso, estudos baseados em nutrigenômica sugerem que micronutrientes e macronutrientes (como a fibra alimentar) são eficazes na prevenção e no tratamento da enfermidade.
Dietas contendo linhaça, por exemplo, demonstraram auxiliar no tratamento do câncer de mama. O mecanismo envolve uma lignana da semente de linhaça, que é capaz de reduzir o crescimento celular.
Assim, a nutrigenética e a nutrigenômica podem ser usadas para desenvolver dietas que amenizem os efeitos colaterais associados à quimioterapia e à radioterapia.
- Doenças cardiovasculares
O impacto da dieta na saúde cardiovascular é mediado por uma complexa rede de genes para os quais a nutrigenética/nutrigenômica fornece meios eficazes para investigar. Muitos deles estão envolvidos no metabolismo lipídico.
Por exemplo, estudos recentes sugerem que dietas ricas em gorduras poliinsaturadas ômega-3, como encontradas em óleos de peixe, podem reduzir o risco de aterosclerose regulando vários genes envolvidos no metabolismo lipídico, particularmente APOA1, APOA5 e APOE.
- Diabetes
Embora o diabetes mellitus tipo 2 seja multigenética, um dos principais genes candidatos à suscetibilidade à doença é o gene do fator de transcrição 7-like 2 (TCF7L2), envolvido na regulação da secreção e sensibilidade à insulina.
Estudos baseados em nutrigenética/nutrigenômica estão fornecendo informações sobre o impacto de nutrientes (como gorduras poliinsaturadas) em genes como o TCF7L2. Infelizmente, a complexidade da diabetes tipo 2 ainda é um grande desafio para o desenvolvimento de dietas personalizadas preventivas e terapêuticas.
Conclusão
Como visto, a nutrigenética e a nutrigenômica são especialidades promissoras para prevenir e tratar doenças e otimizar a saúde, oferecendo uma nutrição personalizada.
Entretanto, sua implementação na prática clínica ainda é limitada, pois mais pesquisas ainda são necessárias de modo a oferecer uma base de conhecimentos robusta que auxilie os profissionais de saúde a aconselhar seus pacientes.
Leia também:
Lançamento do livro: Nutrição Esportiva – genética, estratégias e suplementação – Nutritotal PRO
Referências:
FERGUSON, Lynnette; BARNETT, Matthew. Nutrigenomics and Nutrigenetics Research in New Zealand, and Its Relevance and Application to Gastrointestinal Health. Nutrients, v. 14, n. 9, p. 1743, 2022.
KOROMINA, Maria et al. Nutrigenetics and nutrigenomics: ready for clinical use or still a way to go? Personalized Medicine, v. 17, n. 3, 2020.
MARCUM, James A. Nutrigenetics/nutrigenomics, personalized nutrition, and precision healthcare. Current nutrition reports, v. 9, n. 4, p. 338-345, 2020.