Nitrato de creatina e cafeína parecem melhorar cognição de atletas de resistência

Dentre os suplementos alimentares famosos na nutrição esportiva, creatina e cafeína figuram entre aqueles que mais possuem evidências científicas quanto às suas propriedades ergogênicas. 

Fonte: Canva.com

Entretanto, ainda não se sabe ao certo quais são os efeitos da combinação dessas duas substâncias. Por isso, uma pesquisa inovadora buscou examinar o uso de creatina a cafeína no desempenho esportivo e na função cognitiva de atletas de resistência. Confira os desdobramentos a seguir. 

Cafeína e creatina: o que há de especial nestes suplementos?

Em primeiro lugar, vamos entender o porquê da escolha destes dois suplementos. Afinal, o que eles possuem de especial? 

Cafeína

Começando pela cafeína, essa substância tem sido bem documentada por melhorar a força máxima e a resistência muscular, bem como o desempenho anaeróbico, com efeitos no sistema nervoso central.

A semelhança da cafeína com a adenosina permite que ela se ligue aos receptores de adenosina. Essa ligação diminui as sensações de dor e cansaço, ao mesmo tempo em que aumenta a excitabilidade neural.

Sendo assim, a capacidade da cafeína de melhorar a função cognitiva, como atenção, vigilância e tempo de reação, a tornou um suplemento valioso para atletas em esportes que exigem concentração sustentada e tomada de decisão rápida. 

Creatina

O papel da creatina na reposição rápida de ATP durante exercícios anaeróbicos está bem estabelecido, com vários estudos corroborando sua eficácia na melhoria da produção de energia a curto prazo, e facilitando maior volume de treinamento. Isso se traduz em melhorias na força, capacidade de corrida e massa muscular.

Além de seus benefícios físicos, as influências da creatina no metabolismo energético do cérebro levaram a novos caminhos de pesquisa sobre seus potenciais benefícios cognitivos, particularmente sob alta demanda de energia ou condições de estresse.

O nitrato de creatina é de particular interesse para os atletas, pois ele apresenta uma vantagem adicional de produção aprimorada de óxido nítrico. Por sua vez, o óxido nítrico é fundamental na modulação do fluxo sanguíneo, oxigenação muscular e fornecimento de nutrientes. 

Quatro regimes de suplementação foram empregados

Em um recente estudo duplo-cego, cruzado e randomizado, os autores recrutaram 12 atletas masculinos entre 18 e 40 anos. Os participantes eram elegíveis para o estudo se tivessem pelo menos dois anos de experiência em treinamento de resistência multiarticular.

A intervenção consistiu em 4 tratamentos distintos:

1. Nitrato de creatina [CN: (4 g de creatina; 1 g de nitrato), 5 g/d + 0,675 g/d de maltodextrina)]
2. Cafeína (CAF: 400 mg/d + 5 g/d de maltodextrina)
3. Combinação de CN e CAF (CO: 5 g/d de nitrato de creatina + 400 mg/d de cafeína)
4. Placebo (PL: 5,4 g/d de maltodextrina)

Durante a semana de suplementação, os participantes consumiram seu suplemento em dois horários diferentes: cerca de 45 minutos antes do treino (em dias de exercícios) e por volta do meio-dia em dias sem exercícios. Após um período de washout de uma semana, eles trocaram os suplementos e repetiram o processo de forma randomizada.

Quarenta e cinco minutos após a suplementação, os participantes eram testados quanto ao desempenho físico e cognitivo. Para isso, os atletas realizavam exercícios de resistência padronizados — supino e leg press a 70% 1RM — e um teste de potência anaeróbica Wingate, bem como o teste Stroop Word-Color (avalia controle atencional, velocidade de processamento e flexibilidade cognitiva).

Outros parâmetros de avaliação incluíram:

• Monitoramento dietético
• Avaliação bioquímica do sangue
• Qualidade do sono
• Hemodinâmica cardiovascular
• Efeitos colaterais

Melhorias na função cognitiva, mas não no desempenho esportivo

Como principal resultado, os cientistas descobriram que a co-ingestão de nitrato de creatina e cafeína melhorou significativamente a função cognitiva, particularmente em tarefas de interferência cognitiva, conforme indicado por pontuações melhoradas nos testes aplicados. 

Nesse sentido, a suplementação conjunta foi mais eficaz do que a creatina ou a cafeína isoladas na melhora do desempenho cognitivo. 

Tais achados estão de acordo com outros estudos. Pesquisas anteriores indicaram  que a suplementação de creatina pode elevar seus níveis no cérebro, potencialmente melhorando o desempenho cognitivo, particularmente em tarefas que exigem memória e função executiva.

Além disso, estudos demonstraram que a creatina está associada a um melhor desempenho neuropsicológico, particularmente sob condições de estresse mental, como privação de sono ou envelhecimento, semelhante às demandas colocadas na função cognitiva durante esportes competitivos.

Em relação à combinação da creatina com a cafeína, o efeito sinérgico pode estar atrelado ao aumento da ativação no córtex pré-frontal, uma área do cérebro crítica para funções executivas.  

Esses efeitos combinados podem ser particularmente vantajosos para atletas cujos esportes exigem destreza física, pensamento estratégico e tomada de decisão rápida sob pressão.

Por outro lado, não foram observadas melhoras significativas no desempenho do exercício. Além disso, não houve efeitos significativos na hemodinâmica celular ou em parâmetros bioquímicos. Também não foram relatados efeitos colaterais. 

Conclusão

Segundo os autores, o estudo fornece evidências dos benefícios cognitivos da co-ingestão de cafeína e nitrato de creatina em atletas treinados em resistência. 

Pesquisas futuras são necessárias para explorar de forma abrangente esses suplementos por um período mais longo, e em um grupo demográfico mais diverso para verificar seu papel no desempenho cognitivo e do exercício.

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

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Referência:

Mabrey G, Koozehchian MS, Newton AT, Naderi A, Forbes SC, Haddad M. The Effect of Creatine Nitrate and Caffeine Individually or Combined on Exercise Performance and Cognitive Function: A Randomized, Crossover, Double-Blind, Placebo-Controlled Trial. Nutrients. 2024; 16(6):766. https://doi.org/10.3390/nu16060766

Redação Nutritotal PRO

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