Nutrição enteral precoce em UTI é efetiva para todos os pacientes?

Postado em 8 de abril de 2024

O lactato sérico pode ser decisivo para indicar (ou não) a NE precoce na UTI.

A nutrição enteral precoce pode trazer benefícios notáveis para pacientes de UTI, como modulação das respostas imunológicas e preservação da microbiota intestinal. Portanto, as atuais diretrizes recomendam o início da NE dentro de 48 horas após a admissão na UTI, se não houver contraindicação.

nutrição enteral precoce

Fonte: Canva.com

Porém, fica a dúvida: a NE precoce é indicada para todos os pacientes? Muitas evidências se opõem a essa estratégia no caso de pacientes hemodinamicamente instáveis, sendo o aumento do lactato sérico um marcador para essa restrição. 

Por outro lado, faltam evidências sobre as respostas à NE precoce, em pacientes com ou sem aumento de lactato. Nesse sentido, uma nova pesquisa buscou sanar esta questão. Confira os detalhes a seguir. 

Metodologia: dados de 90 UTIs

Em uma recente investigação chinesa, foi realizada uma análise post hoc de dados de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado e controlado (o estudo NEED).

Nesse sentido, os autores coletaram dados de 90 UTIs, que foram randomizadas para implementar uma diretriz de nutrição enteral precoce (n=45) ou seguir uma prática de rotina (n=45). 

As metas nutricionais da NE precoce eram de 25 kcal/kg do peso corporal ideal (PCI) para energia, e 1,2 g/kg do PCI para proteína. 

Ao total, coletou-se informações de 1.322 pacientes, de 49 a 76 anos, que permaneceram na UTI por pelo menos 7 dias e receberam NE exclusiva durante a primeira semana de inscrição. O nível de lactato mais recente estava disponível. 

Por fim, o desfecho primário foi a mortalidade em 28 dias.

Nutrição enteral precoce diminuiu a mortalidade, mas não em todos pacientes

Após a análise de dados, os pesquisadores chegaram a alguns achados interessantes. Em primeiro lugar, a maioria dos pacientes recebeu a NE dentro de 48 horas após a admissão na UTI, em um tempo médio de 2 dias. 

Em média, na primeira semana, os pacientes receberam 14,6 kcal/kg/d de energia e 0,6 g/kg/d de proteína. Isso representa apenas 58,5% de adequação de energia e 44% de proteínas. Estes resultados estão alinhados com outras pesquisas, sugerindo uma lacuna entre as diretrizes e a realidade da prática clínica. 

Em seguida, os cientistas notaram uma mortalidade em 28 dias em 13,2% dos participantes (175 de 1.322). Nesse sentido, cada aumento de 5 kcal/kg diminui em 14% a mortalidade, enquanto cada aumento de 0,2 g/kg de proteína também se associou a uma mortalidade igualmente reduzida

Porém, há uma ressalva: essa associação não permaneceu significativa em pacientes com nível de lactato acima de 2 mmol/L. 

Por que isso aconteceu?

Segundo os autores, uma possível explicação é que os níveis de lactato se relacionam à hipoperfusão intestinal, e um risco aumentado de intolerância alimentar. Isso dificulta os potenciais benefícios da nutrição enteral.

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Além disso, o início de NE atrasou no grupo com alto lactato, conforme exigido pelas diretrizes (que não indicam o início da NE quando o nível de lactato estiver acima de 4,0 mmol/L)

Devido ao atraso, os pacientes podem precisar de mais tempo de nutrição para obterem seus benefícios. Contudo, a janela de análise do estudo, de 7 dias, limitou a capacidade de testar essa possibilidade,

Conclusão

Em resumo, o fornecimento de nutrição enteral precoce em UTI durante a primeira semana reduz a mortalidade em 28 dias. Contudo, este benefício pode ser limitado para pacientes com lactato ≤ 2 mmol/L.

De acordo com os cientistas, mais estudos prospectivos são necessários para confirmar tais achados, além de superar as limitações da atual pesquisa.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

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Referência:

Chen, Y., Liu, Z., Wang, Q. et al. Enhanced exclusive enteral nutrition delivery during the first 7 days is associated with decreased 28-day mortality in critically ill patients with normal lactate level: a post hoc analysis of a multicenter randomized trial. Crit Care 28, 26 (2024). https://doi.org/10.1186/s13054-024-04813-6

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