Prebióticos: para quem devemos indicar?

Postado em 3 de maio de 2023

Os prebióticos são componentes alimentares que, a partir da modulação da microbiota intestinal, promovem inúmeros benefícios à saúde. Anteriormente, já discutimos sobre os tipos de fibras prebióticas: FOS, GOS, frutanos, fibra solúvel de milho e inulina, mas para quem devemos indicar os prebióticos?

Todas as pessoas se beneficiam com a inclusão de alimentos prebióticos na dieta. Entretanto, apesar de estarem presentes em muitos alimentos, a suplementação têm sido amplamente estudada, e indicada para condições clínicas específicas.

Para quem indicar prebióticos?

Foto: canva.com

Neste artigo, você irá descobrir para quem indicar os prebióticos, e quais são seus principais benefícios.

A ação dos prebióticos na microbiota intestinal

Milhares de microrganismos residem no trato gastrointestinal humano, formando a microbiota intestinal.

Nestes locais (estômago, intestino delgado e intestino grosso), os prebióticos servem como fonte de energia e sobrevivência para os microorganismos benéficos, que fermentam estas substâncias e produzem os ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs).

Os AGCCs (como acetato, propionato e butirato) exercem diversos efeitos no nosso corpo. Uma vez difundidos para a circulação sanguínea, estes ácidos atingem muitos órgãos e sistemas diferentes, onde são capazes de modular a expressão gênica, melhorar a imunidade, exercer efeitos protetores contra doenças, dentre outras vantagens.

Além deste efeito sistêmico, os prebióticos também exercem ações na própria microbiota, ao modificar o ambiente. Por exemplo, os prebióticos diminuem o pH intestinal, mudando a composição e a população da microbiota (aumento dos microrganismos benéficos, e diminuição dos microorganismos patogênicos).

Para quem indicar os prebióticos?

Muitas condições clínicas podem se beneficiar do consumo de prebióticos dietéticos, ou até mesmo da sua suplementação. A seguir, descubra os principais grupos para quem devemos indicar os prebióticos.

Distúrbios gastrointestinais

Prebióticos são muito úteis no tratamento de distúrbios gastrointestinais, ao passo que melhoram a motilidade, reduzem a inflamação e regulam a microbiota intestinal.

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) e a doença de Crohn, por exemplo, são duas condições patológicas em que o uso de prebióticos pode ser útil. Em pacientes com SII, foi relatada a diminuição de sintomas após o consumo de 5 g/dia de FOS por 6 semanas, ou 3.5 g/dia de GOS por 12 semanas.

Esses alimentos também podem ajudar na constipação, pois aumentam a frequência e a regularidade das evacuações. Além disso, melhoram a consistência das fezes e reduzem o desconforto ao evacuar. A capacidade umectante de retenção de água dos prebióticos tem o efeito de amolecer as fezes, facilitando a passagem.

Até mesmo no câncer colorretal, estudos indicam os possíveis efeitos dos prebióticos. Foi demonstrado que o butirato (AGCC derivado dos prebióticos) pode ter efeitos protetores contra o risco deste tumor, bem como sua progressão, por meio da indução da apoptose.

Inflamação, obesidade e diabetes

A partir de mecanismos relacionados, os prebióticos têm um efeito positivo na inflamação, no controle do peso e na homeostase da glicose.

Na obesidade e diabetes, a função de barreira pode estar prejudicada, permitindo a translocação de mediadores inflamatórios. Os AGCCs, provenientes dos prebióticos, podem melhorar a função de barreira do intestino, contribuindo para a redução da inflamação crônica de baixo grau associada a essas condições.

Os AGCCs também regulam o apetite ao produzir hormônios anorexígenos como leptina, GLP-1 e PYY, além de estimular a gliconeogênese, gerando mais saciedade.

Por fim, as fibras solúveis viscosas (como a fibra de milho) retardam a absorção de nutrientes energéticos no intestino delgado, como glicose e colesterol. Isso contribui para retardar o processo de obesidade, diabetes mellitus tipo 2, hiperlipidemia e outras doenças metabólicas.

Melhora da imunidade

Para quem busca melhorar a imunidade, os prebióticos podem ser uma boa opção. Como sabemos, a produção de AGCCs resulta na redução do pH luminal, inibindo o crescimento de patógenos e aumentando a população de microrganismos protetores.

Além disso, os prebióticos também estimulam a proliferação e a atividade de elementos imunológicos. Em estudos com idosos, 10 semanas de consumo diário de GOS aumentou a atividade fagocítica, e a efetividade das células natural killer (NK). Em adultos, a GOS também aumentou os níveis sanguíneos de citocinas (IL-8, IL-10 e PCR).

Em estudos com lactentes, estes efeitos são ainda mais notáveis. Nos bebês, GOS e FOS podem reduzir a incidência de dermatite atópica, eczema, sibilância, urticária e alergias no geral.

Deficiência de micronutrientes

Pacientes com deficiências de micronutrientes podem se beneficiar do consumo de prebióticos.

Ao reduzir o pH luminal, aumenta-se a solubilidade do cálcio, proporcionando uma maior força motriz para sua absorção passiva. Estudos com adolescentes demonstraram que a suplementação prebiótica aumentou de forma significativa a absorção e mineralização de cálcio nos ossos.

Além disso, as fibras solúveis viscosas têm a capacidade de se ligar a nutrientes como cálcio, magnésio e ferro, e transportá-los para o cólon distal. Com a degradação destas fibras pela microbiota, estes nutrientes são liberados e podem ser absorvidos pelo organismo em maior quantidade.

Saúde mental

O trato gastrointestinal está conectado ao sistema nervoso central através do “eixo intestino-cérebro”. A microbiota intestinal afeta a saúde mental através de três vias: neural, endócrina e imune.

Pesquisas anteriores apontaram a capacidade dos prebióticos em influenciar o humor, a memória, o aprendizado e alguns distúrbios psiquiátricos. Em um estudo com adultos de meia-idade, a administração de polissacarídeos não amiláceos (3,6 g por dia) por 12 semanas melhorou os processos de recordação e memória.

Em algumas condições neurológicas, os prebióticos também demonstraram efeitos benéficos. No autismo, vários prebióticos (tal como a fibra de trigo), podem ter efeitos terapêuticos, diminuindo a população de Clostridium e aumentando a taxa de Bifidobacteria.

Já na encefalopatia hepática, foi demonstrado que a lactulose e o lactitol poderiam diminuir o nível de amônio do intestino dos pacientes, auxiliando o tratamento.

Doenças cardiovasculares

Os prebióticos são capazes de diminuir o risco cardiovascular, reduzindo os elementos inflamatórios. Várias investigações demonstraram uma melhora no perfil lipídico com o consumo destas substâncias.

Em um estudo com indivíduos saudáveis, 10 g/dia de inulina por três semanas diminuiu o triacilglicerol sanguíneo e a lipogênese hepática.

Diversas condições se beneficiam com os prebióticos

Ao alimentar a microbiota intestinal, tornando-a mais forte e saudável, os prebióticos exercem inúmeros efeitos benéficos na nossa saúde.

Por isso, são diversas as condições que se beneficiam com o uso destas substâncias. Em particular, é uma boa estratégia indicá-los para distúrbios gastrointestinais, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, deficiências de micronutrientes, ou para pacientes que desejam melhorar a imunidade e a saúde mental.

Assim, ao tratar o paciente que possui uma destas condições, considere indicar o uso de prebióticos.

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Referências:

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Gibson, G. R., Hutkins, R., Sanders, M. E., Prescott, S. L., Reimer, R. A., Salminen, S. J., … & Reid, G. (2017). Expert consensus document: The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on the definition and scope of prebiotics. Nature reviews Gastroenterology & hepatology, 14(8), 491-502.

Guan, Z. W., Yu, E. Z., & Feng, Q. (2021). Soluble dietary fiber, one of the most important nutrients for the gut microbiota. Molecules, 26(22), 6802.

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