Quais as recomendações nutricionais gerais que devem ser feitas para a gestante?

Postado em 14 de setembro de 2020 | Autor: Ana Carolina Costa Vicedomini

A alimentação da gestante tem impacto na vida intra-uterina do feto e saúde do bebê após o nascimento

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todas as mulheres devem receber cuidados de qualidade durante toda a gravidez, parto e período pós-natal, incluindo orientação sobre a alimentação da gestante durante todo esse período, para que possamos garantir uma gestação saudável e um bom crescimento e desenvolvimento do bebê.    Durante a gravidez, as necessidades nutricionais aumentam para apoiar o crescimento e desenvolvimento do bebê bem como o metabolismo materno. Assim, as recomendações alimentares e nutricionais devem adaptar-se a cada mulher, considerando-se as diferenças individuais. Desta forma, recomenda-se adoção de um estilo de vida saudável, que deve iniciar mesmo antes da gravidez, para otimizar a saúde da mãe e reduzir o risco de complicações durante a gravidez e de algumas doenças no bebê.

Alimentação diversificada – importante orientar uma alimentação saudável e diversificada, além da prática de atividade física regular, garantindo assim, a formação e o crescimento adequado do bebê e o ganho de peso adequado da mãe. Uma dieta saudável deve incluir alimentos fonte de energia, proteínas, vitaminas e sais minerais adequados, obtidos através do consumo de alimentos variados, como vegetais verdes e laranja, carne, peixe, feijão, frutos secos, cereais integrais e fruta.

Consumo de proteína – As necessidades de proteína durante a gestação ficam aumentadas, esse aumento deve-se a necessidade proteica para a formação da placenta, crescimento dos tecidos uterinos e desenvolvimento e crescimento do bebê. A recomendação da oferta proteica para gestantes é de 60g/dia, sendo que pelo menos 50% seja de proteínas de alto valor biológico. Algumas fontes proteicas:

  • Origem animal (carne, pescado e ovos), com consumo moderado
  • Laticínios (leite, queijo, iogurte)
  • Leguminosas verdes e secas (feijão, grão de bico, favas, ervilhas, lentilhas)

Suplementação de Acido Fólico e Ferro– Importante na redução do risco de desenvolvimento de malformações do tubo neural do bebê. A suplementação oral é recomendada: com 30mg a 60mg de ferro elementar e 400µg (0,4mg) de ácido fólico para as mulheres grávidas, a fim de evitar anemia das mães, infecção puerperal, baixo peso à nascença e parto prematuro. Além disso, deve-se estimular o consumo de alimentos fonte, como de frutas e vegetais ricos em acido fólico, bem como a utilização de cereais integrais (pão integral, massa e arroz integrais) e leguminosas (lentilhas, ervilhas, feijão, grão-de-bico, favas).

Hidratação – A hidratação adequada é essencial para uma gravidez saudável, dado que a grávida acumula cerca de 6-9 L de água durante a gestação. A ingestão adequada de água durante a gravidez [incluindo a ingestão de água e de outras bebidas (como leite, sucos naturais e infusões) e de alimentos ricos em água (sopas, saladas e fruta)] é de 3 L/dia. Isso inclui cerca de 2,3 L (cerca de 10 copos) como total proveniente de bebidas.

Evitar o excesso de sal – A utilização de sal deve ser restrita a, no máximo, 2g/dia. Em alternativa, pode ser orientada a utilização de ervas aromáticas, como os orégãos, a salsa, o coentro, o cebolinho, o tomilho, o manjericão. Importante orientar e limitar o consumo dos seguintes alimentos:

  • Carnes e peixes salgados
  • Caldos industriais
  • Molhos e temperos prontos
  • Aperitivos salgados
  • Batatas fritas
  • Enlatados
  • Produtos de charcutaria e salsicharia
  • Frutos gordos salgados

Não ingerir bebidas alcoólicas – O consumo de bebida alcoólica não deve ser estimulado, isso porque, a mãe pode sofrer com síndrome alcoólica fetal, que combina dismorfismo facial, retardo de crescimento e comprometimento do sistema nervoso central levando a deficiência intelectual, ocorre em cerca de 5% das crianças que são regularmente expostas a pelo menos cinco unidades padrão por dia (cerca de 50 g de álcool por dia). Além de impactar e afetar negativamente a qualidade e a quantidade do suprimento adequado de nutrientes e da ingestão de energia também durante o período preconcepção.

Reduzir a ingestão de cafeína – Os efeitos da cafeína sobre o bebê não estão ainda bem estabelecidos. A cafeína pode facilmente atravessar a placenta, e a ingestão materna de cafeína, portanto, tem um efeito no crescimento fetal. Estudo demonstrou que o consumo de cafeína acima de ≥4 porções/dia ou > 400 mg/dia,  se associou a um risco aumentado de aborto espontâneo entre a 8º e a 19ª semanas de gestação.

O café contém cerca de duas vezes mais cafeína quando comparado ao chá, o cacau e os refrigerantes, que apresentam uma quantidade bem parecida. A posição atual da “American College of Obstetricians and Gynecologists” é que as mulheres grávidas devem evitar a ingestão de cafeína acima de 200 mg/dia.

Evitar alimentos com risco potencial de contaminação (maionese, cremes, patês) e carnes cruas ou mal cozidas – Os cuidados com higiene e manipulação dos alimentos devem ser rigorosamente orientados, a fim de evitar contaminação.

Uma das contaminações comuns na gestação é através do vírus da toxoplasmose, que em gestantes, pode ocasionar aborto espontâneo, nascimento prematuro, morte neonatal, ou sequelas severas no feto, caso a infecção seja adquirida durante a gestação, principalmente durante os primeiros dois trimestres.

Durante a gestação as gestantes devem evitar o consumo de carne mal cozida, lavar as mãos ao manipular carne crua, evitar o consumo de água não filtrada e de leite não pasteurizado, assim como de alimentos expostos à moscas, baratas, formigas e outros insetos, lavar bem as frutas e legumes e evitar contato com gatos ou com o solo ou, pelo menos, usar luvas apropriadas durante a jardinagem, ao lidar com materiais potencialmente contaminados com fezes de gatos ou ao manusear caixas de areia dos gatos. Essas medidas devem ser continuamente enfatizadas durante a gravidez, especialmente para as gestantes não reagentes, levando também em consideração seus hábitos e costumes.

Os cuidados com a alimentação da gestante deve incluir também a preocupação com o adequado ganho de peso e prevenção de complicações, como hipertensão e diabetes gestacional. O nutricionista deve, então, oferecer a gestante todo apoio e informações necessárias visando o adequado aporte nutricional da mãe e do bebê.

Referências

Recomendações da OMS sobre cuidados pré-natais para uma experiência positiva na gravidez, 2016.

Pregnancy and alcohol: occasional, light drinking may be safe. Prescrire Int. 2012;21(124):44-50.

Sebastiani G, et al. The Effects of Alcohol and Drugs of Abuse on Maternal Nutritional Profile during Pregnancy. Nutrients. 2018;10(8):1008. Published 2018 Aug 2.

Gaskins AJ, et al.  Pre-pregnancy caffeine and caffeinated beverage intake and risk of spontaneous abortion. Eur J Nutr. 2018;57(1):107-117.

Amendoeira MRR, et al. Uma breve revisão sobre toxoplasmose na gravidez. Scientia Medica, 20 (1), 113-119, 2010.

Teixeira D, et al. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Alimentação e Nutrição na Gravidez, 2015, Lisboa Portugal.

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