Estudo avaliou a efetividade de um protocolo de dieta enteral oligomérica na melhora do estado…
Saiba em que situações clínicas o uso de espessantes pode ser indicado.
Os agentes espessantes são substâncias geralmente utilizadas para modificar a textura de líquidos e alimentos, tornando-os mais viscosos, sem alterar significativamente seu sabor ou valor nutricional.
A maioria dos espessantes são carboidratos naturais, como as gomas carragena, gomas guar, arábica e xantana, e carboidratos quimicamente modificados, como o amido.
Nesse sentido, a goma xantana tem se tornado cada vez mais a fração espessante de escolha, substituindo a base de amido (por exemplo, milho e batata modificados) em produtos espessantes comerciais devido à melhor percepção de textura, mais coesão e melhor estabilidade.
Mas afinal, você já se perguntou em quais contextos clínicos faz sentido adaptar a consistência da dieta utilizando um espessante? A seguir, vamos explorar os cenários em que essa estratégia pode ser uma grande aliada.
Quando usar espessante na dieta?
De modo geral, espessantes podem ser usados para aumentar a viscosidade de fluidos para pessoas com disfagia.
Por definição, a disfagia é um distúrbio da deglutição ou qualquer dificuldade do trânsito do bolo alimentar da boca até o estômago, e afeta cerca de 8% da população mundial.
Existe uma quantidade expressiva de patologias associadas a à disfagia, tais como acidente vascular cerebral (AVC), paralisia cerebral ou traumatismo crânio-encefálico.
Espessar um fluido pode retardar seu tempo de trânsito pela boca e garganta, obtendo uma deglutição mais segura para aqueles que sofrem com disfagia. Fluidos espessados fluem mais lentamente do que líquidos finos (por exemplo, água), permitindo um tempo de resposta reflexa adaptado durante a deglutição.
Além disso, a aspiração nas vias aéreas pode ser uma característica comum da disfagia, e o uso de espessantes pode ajudar a reduzir seu risco.
Esta adaptação de fluidos visa preservar a via oral o máximo possível, evitando a desidratação e a desnutrição.
Quem prescreve os espessantes?
Os espessantes devem ser prescritos somente mediante recomendação de um fonoaudiólogo após o diagnóstico de disfagia.
O conselho para engrossar o fluido dependerá do grau de disfagia da pessoa e da consistência do fluido recomendada pelo profissional.
Quais as possíveis consistências de fluidos espessados?
Há duas principais formas de classificar a consistências dos fluidos atingidas com o uso de espessante: a padronização da National Dysphagia Diet (NDD), e a International Dysphagia Diet Standardisation Initiative (IDDSI).
Segundo a NDD, os líquidos podem ser espessados em três consistências: néctar, mel e pudim, essas são definidas pelo fonoaudiólogo de acordo com o grau da disfagia do paciente.
A viscosidade dos líquidos espessados é medida em centipoise (cP) e são categorizadas em: líquido fino (1-50 cP), néctar (51-350 cP), mel (351-1750 cP) e pudim (superior a 1750 cP). A quantidade de espessante indicada para cada consistência dependerá das diferentes marcas presentes no mercado.
Já IDDSI sugeriu categorizar fluidos espessados por níveis usando o teste de fluxo de seringa ou o teste de gotejamento de garfo. Assim, fluidos espessados são descritos em cinco níveis diferentes (0 a 4): níveis 0 (fino), 1 (ligeiramente espesso), 2 (levemente espesso), 3 (moderadamente espesso) e 4 (extremamente espesso).
A comparação entre as diferentes comparações são descritas na tabela abaixo.
Classificação | Nível de espessura | Classificações | Valores de referência |
National Dysphagia Diet (NDD) | 1 | Fino | 1∼50 mPa・s |
2 | Néctar | 51∼350 mPa・s | |
3 | Mel | 351∼1,750 mPa・s | |
4 | Pudim | >1,750 mPa・s | |
International Dysphagia Diet Standardisation Initiative | 0 | Fino | <1 mL |
1 | Ligeiramente espessado | 1∼4 mL | |
2 | Levemente espessado | 4∼8 mL | |
3 | Moderadamente espessado | >8 mL | |
4 | Extremamente espessado | 10 mL |
Limitações no uso de espessante
Apesar dos benefícios que os espessantes podem oferecer no manejo da disfagia, é importante estar atento a algumas limitações e cuidados associados ao seu uso.
O espessamento de fluidos não impede necessariamente a aspiração, embora diminua seu risco. A aspiração de fluidos espessados não é isenta de riscos.
Além disso, pessoas que tomam fluidos espessados tendem a beber menos, aumentando assim o risco de desidratação e comorbidades.
Vale ressaltar que a adesão dos pacientes ao consumo de espessantes é variável, com estudos mostrando taxas de 21,9 a 84%. A ingestão de líquidos espessados parece ser percebida como desagradável, e os pacientes prescritos com líquidos muito espessos podem apresentar menor adesão.
Por fim, a adição de espessantes na dieta pode aumentar a ingestão diária total de sódio, dado que esse elemento participa ativamente do processo de espessamento. Assim, deve-se levar em conta essa adição, principalmente para paciente em dietas com restrição de sódio, como cardiopatas.
Portanto, o uso de espessante requer uma abordagem individualizada para maximizar os benefícios sem comprometer a segurança ou o conforto do paciente.
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Referências:
Healthcare professional guide: Thickeners & thickening ONS. Hertfordshire and West Essex Integrated Care Board.
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A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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