Níveis de vitamina D maternos e o risco de atopias na infância

Postado em 18 de julho de 2022

As atopias, também conhecidas como doenças atópicas, se referem às enfermidades que levam à produção de anticorpos imunoglobulina E (IgE) em resposta ao contato com alérgenos ambientais. Na literatura científica, o status de vitamina D na gravidez tem sido sugerido como parte da patogênese das atopias na infância. Porém, os estudos até o momento são contraditórios: enquanto alguns culpam a deficiência, outros culpam o excesso.

Pensando nisso, um novo estudo observacional buscou investigar as associações entre a vitamina D materna no início e no final da gestação, e o desenvolvimento de doenças atópicas em crianças até 5 anos de idade.

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Fonte: Shutterstock.com

Como foi feita a pesquisa?

O artigo em questão incluiu dados de outro estudo de coorte longitudinal, onde foram recrutadas mulheres suecas no início da gravidez (≤ 16 semanas gestacionais). Assim, 5 anos após o parto, as mulheres com filhos únicos e saudáveis foram convidadas para participar desta pesquisa de acompanhamento, sendo que 606 aceitaram o convite (33% da amostra inicial).

Para análise do status de vitamina D, as amostras de sangue foram coletadas durante as consultas de rotina, uma no início (antes da 17ª semana de gestação) e outra no final (após a 31ª semana). Durante essas visitas, as gestantes também preencheram um questionário sobre consumo de vitamina D através da alimentação e suplementos, para estimar a ingestão dietética. Informações adicionais foram coletadas dos prontuários médicos.

O questionário de acompanhamento incluiu perguntas sobre asma, eczema e/ou reações alérgicas a alimentos entre o nascimento e o momento da pesquisa. As associações entre vitamina D materna e atopias na primeira infância foram estudadas por meio de regressão logística multivariada.

Vitamina D elevada foi associada ao maior risco de atopias

Nas crianças que não haviam hereditariedade atópica relatada (ou seja, que os familiares não possuíam nenhuma doença atópica), a maior ingestão e status materno de vitamina D na gravidez foram associados ao maior risco de atopias, principalmente asma.

De fato, em comparação com a 25OHD materna entre 50 a 75 nmol/L, os níveis de vitamina D maiores que 75 nmol/L na gravidez foram associados a uma maior chance de asma. Esse resultado já havia sido encontrado em estudo anterior, com crianças com 9 anos de idade.

Em relação ao eczema, também houve uma associação positiva entre a ingestão dietética materna de vitamina D na gravidez, e o maior risco da enfermidade (novamente, apenas em crianças sem hereditariedade relatada). No entanto, os níveis sanguíneos da vitamina e o uso de suplementos não foram significativamente associados. Outras pesquisas mostraram a relação entre alto status de vitamina D materno e risco de eczema em bebês de 9 a 12 meses de idade.

Os autores acreditam que possíveis mecanismos para essas associações são explicados pela influência da vitamina D no desenvolvimento do sistema imunológico fetal. Sugere-se que o status do nutriente no útero poderia impactar a sensibilização da criança a diferentes alérgenos. Além disso, o impacto da vitamina no crescimento e maturação pulmonar do feto já havia sido relatado, sugerindo-se a possibilidade de afetar a função de seus pulmões.

Conclusão

Em crianças sem hereditariedade atópica, a maior ingestão dietética e status materno de vitamina D durante a gravidez aumentou o risco de atopias.

Assim, a presença de doenças atópicas nos familiares parece ser um possível modificador do efeito da associação entre vitamina D na gravidez e risco de atopias até os 5 anos de idade. Mais estudos são necessários neste sentido.

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

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Referências:

AMBERNTSSON, Anna et al. Atopic heredity modifies the association between maternal vitamin D status in pregnancy and the risk of atopic disease in childhood: an observational study. Nutrition Journal, v. 21, n. 1, p. 1-7, 2022.

KOZELINSKI, Julia Carvalho et al. Fatores associados aos sintomas de doenças atópicas em crianças de 6-7 anos em um município da região Sul do Brasil. Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI. 2017.

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