Como os nutrientes influenciam a imunidade e a saúde intestinal?

Postado em 22 de julho de 2025

Entenda a conexão entre dieta, microbiota e sistema imune, e como estratégias nutricionais podem prevenir alergias e doenças crônicas.

A relação entre nutrição, imunidade e saúde intestinal é uma via de mão dupla que tem ganhado cada vez mais atenção científica. 

O eixo intestino–imunidade–metabolismo forma uma rede complexa em que nutrientes, microbiota e componentes imunológicos interagem de maneira dinâmica, influenciando desde reações alérgicas até o desenvolvimento de condições crônicas como obesidade, diabetes e doenças autoimunes.

nutrientes influenciam a imunidade

Fonte: Canva

À medida que a dieta e a saúde intestinal emergem como reguladores-chave da função imunológica, elas oferecem novos alvos para intervenção.

A base imunológica das alergias e da multimorbidade

O sistema imunológico compreende uma rede complexa de células, moléculas sinalizadoras e tecidos, que protegem o corpo de diversas ameaças, como patógenos, toxinas e células anormais.

Nossa imunidade divide-se em duas grandes frentes: 

  1. Imunidade inata, que responde rapidamente de forma inespecífica, e funciona independentemente de exposição prévia.
  2. Imunidade adaptativa, com respostas específicas e memória imunológica que permite respostas mais rápidas e direcionadas em encontros subsequentes.

Ambas são interdependentes e moduladas por sinais metabólicos e nutricionais.

Na presença de disfunção imunológica, surgem reações exacerbadas a estímulos normalmente inofensivos (como nas alergias), ou quadros de inflamação crônica de baixo grau, base comum a muitas doenças crônicas, compondo o que se chama de multimorbidade – ou seja, a coexistência de duas ou mais condições crônicas.

Este conceito, que descreve a presença de duas ou mais doenças crônicas em um mesmo indivíduo, está diretamente associado ao envelhecimento do sistema imunológico, ou imunossenescência, e à perda de homeostase inflamatória.

O papel da microbiota intestinal

A microbiota intestinal é um pilar essencial da imunidade. Ela atua na modelagem das respostas imunológicas em vários órgãos, no desenvolvimento e maturação do sistema imunológico sistêmico, na manutenção da integridade das barreiras epiteliais, e na produção de metabólitos com efeitos imunomodulatórios, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) – especialmente butirato e propionato.

Uma microbiota diversificada e rica em bactérias benéficas contribui para a indução de células T reguladoras (Tregs) e para a produção de citocinas anti-inflamatórias como IL-10 e TGF-β.

Por outro lado, a disbiose microbiana está cada vez mais associada a distúrbios imunomediados, incluindo doenças alérgicas. A composição alterada da microbiota pode induzir desregulação imunológica, aumentando a suscetibilidade a reações inflamatórias e de hipersensibilidade.

Nutrientes-chave para a imunidade e saúde intestinal

A função imunológica não é ditada apenas pela predisposição genética, mas é dinamicamente influenciada por padrões alimentares e pela microbiota intestinal.

Os principais componentes da dieta que influenciam o sistema imunológico estão resumidos na tabela abaixo.

NutrienteBenefícios imunesFontes alimentares
Vitamina DRegula as respostas das células T, aumenta os peptídeos antimicrobianos e reduz a atividade autoimune.Exposição ao sol, peixes gordurosos, laticínios fortificados, ovos
Vitamina AApoia a imunidade das mucosas, influencia células T reguladoras (Treg) e fortalece a barreira intestinal.Fígado, cenouras, batata-doce, vegetais verdes escuros
Vitamina CAntioxidante, essencial para função dos neutrófilos, produção de citocinas e redução do estresse oxidativo.Frutas cítricas, pimentões, morangos, brócolis
Vitamina EReduz o estresse oxidativo, apoia a função das células T e aumenta a atividade das células NK (natural killers).Oleaginosas, sementes, espinafre, óleo de girassol
Vitaminas do complexo BEssenciais para proliferação de células imunes, síntese de DNA e regulação da homocisteína.Grãos integrais, leguminosas, ovos, vegetais folhosos, proteínas animais
ZincoEssencial para ativação das células T, função antioxidante e imunidade da mucosa.Frutos do mar, carnes vermelhas, sementes de abóbora, leguminosas
SelênioApoia a glutationa peroxidase, reduz inflamação e estresse oxidativo.Castanha-do-pará, frutos do mar, grãos integrais, ovos
FerroNecessário para a função das células imunes, mas em excesso pode promover estresse oxidativo e crescimento microbiano.Carnes vermelhas, lentilhas, espinafre, cereais fortificados
MagnésioRegula inflamação, resposta ao estresse e função mitocondrial.Oleaginosas, sementes, grãos integrais, vegetais verdes
Ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA)Moduladores de respostas inflamatórias, apoiam a diversidade da microbiota intestinal e suprimem inflamação alérgica mediada por Th2.Peixes gordurosos (salmão, sardinha), sementes de linhaça, sementes de chia, nozes
PolifenóisModuladores da microbiota intestinal, reduzem estresse oxidativo, promovem vias anti-inflamatórias.Frutas vermelhas, chá, chocolate amargo, cúrcuma, uvas
Ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs)Regulam células T reguladoras, reduzem inflamação e promovem a homeostase intestinal.Alimentos ricos em fibras fermentáveis (aveia, leguminosas, bananas verdes, fontes de amido resistente)

Estratégias nutricionais promissoras

Para além do foco em nutrientes específicos, estratégias nutricionais integradas têm se mostrado promissoras na modulação da imunidade e da microbiota intestinal.

Dieta mediterrânea

Rica em fibras, ácidos graxos insaturados, polifenóis, flavonoides e ácidos graxos ômega-3, a dieta mediterrânea tem sido associada à menor prevalência de asma e alergias, especialmente quando aderidas desde a gestação. 

Diversos mecanismos têm sido propostos para explicar seu papel protetor:

  • Propriedades anti-inflamatórias
  • Modulação da microbiota intestinal
  • Presença de ácidos graxos poli-insaturados (AGPIs), que favorecem a imunomodulação
  • Modificações epigenéticas (quando adotada na gestação)

Apesar dos resultados promissores, a relação entre a dieta mediterrânea e as alergias permanece incompletamente compreendida devido à heterogeneidade nos delineamentos dos estudos, avaliações dietéticas e fatores específicos da população.

Aleitamento materno

O leite materno é rico em compostos imunoativos, como anticorpos IgA, peptídeos antimicrobianos, citocinas e receptores solúveis, que, em conjunto, protegem contra infecções, obesidade, enterocolite necrosante, diabetes e doenças alérgicas.

Além disso, a amamentação desempenha um papel crítico na formação do microbioma intestinal do bebê, o que é fundamental para o desenvolvimento da tolerância imunológica e a prevenção de alergias.

Contudo, os efeitos profiláticos da amamentação na prevenção de alergias não estão definitivamente comprovados, com estudos apresentando resultados mistos.

Alguns estudos indicam que a amamentação pode proteger contra asma e doenças alérgicas, enquanto outros não encontram correlação protetora significativa, especialmente quando se consideram fatores genéticos.

Probióticos e prebióticos

Suplementos com cepas específicas de Bifidobacterium e Lactobacillus têm mostrado efeitos positivos na prevenção de eczema e na modulação da resposta imune alérgica. 

A suplementação materna, em especial, pode reduzir o risco de doenças alérgicas nos primeiros anos de vida. 

Prebióticos como galacto-oligossacarídeos (GOS) e frutooligossacarídeos (FOS) favorecem o crescimento de bactérias benéficas e a produção de AGCCs.

Nutrição personalizada

A evolução das ferramentas diagnósticas, como os testes de diagnóstico por componentes e marcadores epigenéticos, tem permitido individualizar o manejo nutricional de alergias alimentares, evitando restrições excessivas e garantindo a adequação nutricional. 

A integração de dados clínicos, microbioma, preferências culturais e aspectos socioeconômicos é essencial nesse processo.

Conclusão

Em suma, o eixo intestino-imunológico-metabólico é cada vez mais reconhecido como um regulador fundamental da saúde, onde nutrientes e metabólitos microbianos atuam como poderosos imunomoduladores.

Estratégias dietéticas anti-inflamatórias, ricas em compostos bioativos e moduladoras da microbiota, mostram potencial em prevenir e manejar tanto doenças alérgicas quanto condições crônicas associadas à inflamação persistente. 

A incorporação de abordagens personalizadas, com base em características individuais e avanços tecnológicos, representa o futuro da imunonutrição e pode contribuir significativamente para a saúde pública e a prática clínica.

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Referência:

Andreou E, Papaneophytou C. Boosting Immunity Through Nutrition and Gut Health: A Narrative Review on Managing Allergies and Multimorbidity. Nutrients. 2025; 17(10):1685. https://doi.org/10.3390/nu17101685

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