Comemorado em 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação celebra a criação da Organização…
A junção entre as pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas é um dos principais desafios a serem enfrentados nos dias atuais.
No dia 16 de outubro, comemoramos o Dia Mundial da Alimentação, com objetivo de promover a reflexão sobre questões alimentares e nutricionais que afetam a população mundial.
Atualmente, a sindemia global é um dos maiores desafios da saúde pública global, envolvendo a alimentação como um fator chave.
Definimos “sindemia” como uma sinergia de pandemias que coexistem no mesmo tempo e lugar. Além disso, elas interagem entre si, compartilham fatores sociais comuns, e geram um impacto maior em populações marginalizadas.
Mas afinal, o que é “sindemia global”, e quais são as estratégias para enfrentá-la? Confira a seguir.
Sindemia Global: o que é?
A sindemia global é a combinação de três pandemias que afetam o planeta nos dias atuais: a obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas.
Estes três problemas urgentes possuem impactos adversos uns sobre os outros, interagindo entre si e compartilhando determinantes.
Abaixo, confira alguns dados que explicitam o impacto mundial da sindemia global.
Obesidade
A obesidade afeta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Além disso, é responsável por cerca de 4 milhões de mortes anualmente.
Estima-se que os custos econômicos atuais da obesidade correspondam a 2,8% do produto interno bruto (PIB) mundial.
Desnutrição
Globalmente, 2 bilhões de pessoas sofrem de deficiências de micronutrientes, e 815 milhões de pessoas estão cronicamente subnutridas.
Em 2017, 155 milhões de crianças foram consideradas desnutridas a partir do indicador antropométrico de altura para idade, e 52 milhões de crianças foram consideradas desnutridas a partir de indicador antropométrico de peso e altura.
Mudanças climáticas
Cada vez mais, as mudanças climáticas provocam extensos danos à saúde do planeta. Até 2050, os custos previstos das alterações climáticas são uma redução de 5 a 10% do PIB mundial, podendo exceder os 15% em países de baixa renda na Ásia, Oriente Médio e África.
No Brasil, a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) é a agropecuária, responsável por mais de 70% das emissões em 2017. Esse sistema envolve práticas ilegais como o desmatamento e grilagem de terras, além do uso extensivo de agrotóxicos.
Obesidade, desnutrição e mudanças climáticas: interações
A obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas interagem de diversas maneiras, com influências mútuas umas sobre as outras.
Exemplos das interações entre essas três pandemias incluem:
1) A obesidade, o nanismo e a insegurança alimentar tendem a ocorrer nas mesmas crianças e na mesma população;
2) Os sistemas de transporte dominados por carros geram entre 14 a 25% dos gases de efeito estufa, que deterioram a qualidade do ar, levando à diminuição de atividades ao ar livre, inatividade física e, consequentemente, à obesidade;
3) A produção de carne e laticínios gera gás metano, responsável por mais de 80% dos GEE agrícolas. Por sua vez, o consumo de carne contribui para obesidade, diabetes, câncer e doenças cardiovasculares;
4) O aumento de gases do efeito estufa reduz a produtividade das colheitas e reduz a concentração de nutrientes essenciais, como proteína, ferro e zinco, contribuindo para a insegurança alimentar e a subnutrição;
5) O aumento do CO2 atmosférico aumenta a acidificação dos oceanos, com efeitos adversos sobre os corais e a pesca.
Todos esses efeitos são distribuídos de forma desigual, com um impacto maior sobre as populações pobres, especialmente aquelas no sul global.
Como enfrentar a sindemia global?
A sindemia global demonstra uma necessidade urgente de reformulação de nossos sistemas alimentares, agropecuária, transporte, desenho urbano e uso do solo.
Para enfrentar a sindemia de modo eficaz, diversos atores precisam estar envolvidos: nações, municípios, sociedade civil, financiadores e agências internacionais.
São chamadas “ações de trabalho duplo ou triplo” as estratégias que influenciam múltiplas partes da sindemia de forma simultânea. São alguns exemplos:
- Promoção de sistemas alimentares saudáveis, equitativos, ambientalmente sustentáveis e economicamente prósperos
- Redução do consumo de carne vermelha (através de alteração de impostos/subsídios, rotulagem ambiental e de saúde e marketing social)
- Guias alimentares sustentáveis
- Legislação do Direito ao Bem-Estar (Direito à Saúde, Direito à Alimentação, Direitos da Criança, Direitos Culturais, Direito ao Meio Ambiente Saudável)
- Mudanças no modo de transporte
- Restrição das influências comerciais (por exemplo, gestão transparente de conflitos de interesse e financiamentos políticos)
No âmbito da nutrição, os nutricionistas devem se empenhar em promover dietas sustentáveis. Por definição, dietas sustentáveis são “dietas com baixo impacto ambiental que contribuem para a segurança alimentar e nutricional e para uma vida saudável para as gerações presentes e futuras; são protetoras e respeitosas da biodiversidade e dos ecossistemas, culturalmente aceitáveis, acessíveis, economicamente justas; nutricionalmente adequado, seguro e saudável, ao mesmo tempo em que otimiza os recursos naturais e humanos”.
Por exemplo, dietas com quantidades reduzidas de carne, como a dieta vegetariana e a mediterrânea, têm um menor impacto ambiental e são mais sustentáveis do que a dieta ocidental. Além disso, contribuem para a redução da obesidade e de doenças crônicas.
Segundo o grupo de especialistas da Comissão EAT-LANCET, dietas saudáveis devem incorporar:
- Fontes de proteína de origem vegetal, como soja, legumes e nozes, com ingestões ocasionais de aves, ovos e ingestões muito baixas de carne vermelha;
- Gordura insaturada de plantas
- Carboidratos de grãos integrais
- Ingestão de açúcar inferior a 5% das calorias;
- Pelo menos cinco porções de frutas e vegetais diariamente;
- Consumo moderado de laticínios
Diante desse contexto, vale ressaltar a importância da articulação de esforços entre atores locais, nacionais e globais, para a criação de políticas que enfrentem a sindemia global e que monitorem sua implementação.
A união de esforços é a chave para enfrentar os desafios interconectados da sindemia, promovendo um futuro mais justo e saudável para todos.
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Referências:
Alimentando Políticas. A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas – relatório da Comissão The Lancet. 2019.
Dietz WH, Pryor S. How Can We Act to Mitigate the Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change? Curr Obes Rep. 2022 Sep;11(3):61-69. doi: 10.1007/s13679-021-00464-8. PMID: 35138591; PMCID: PMC9399359.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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