Dia Mundial da Alimentação: como enfrentar o desafio da sindemia global?

Postado em 16 de outubro de 2024

A junção entre as pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas é um dos principais desafios a serem enfrentados nos dias atuais.

No dia 16 de outubro, comemoramos o Dia Mundial da Alimentação, com objetivo de promover a reflexão sobre questões alimentares e nutricionais que afetam a população mundial.

Atualmente, a sindemia global é um dos maiores desafios da saúde pública global, envolvendo a alimentação como um fator chave. 

Definimos “sindemia” como uma sinergia de pandemias que coexistem no mesmo tempo e lugar. Além disso, elas interagem entre si, compartilham fatores sociais comuns, e geram um impacto maior em populações marginalizadas.

sindemia global

Fonte: Canva

Mas afinal, o que é “sindemia global”, e quais são as estratégias para enfrentá-la? Confira a seguir.

Sindemia Global: o que é?

A sindemia global é a combinação de três pandemias que afetam o planeta nos dias atuais: a obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas.

Estes três problemas urgentes possuem impactos adversos uns sobre os outros, interagindo entre si e compartilhando determinantes.

Abaixo, confira alguns dados que explicitam o impacto mundial da sindemia global.

Obesidade

A obesidade afeta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Além disso, é responsável por cerca de  4 milhões de mortes anualmente. 

Estima-se que os custos econômicos atuais da obesidade correspondam a 2,8% do produto interno bruto (PIB) mundial.

Desnutrição

Globalmente, 2 bilhões de pessoas sofrem de deficiências de micronutrientes, e 815 milhões de pessoas estão cronicamente subnutridas.

Em 2017, 155 milhões de crianças foram consideradas desnutridas a partir do indicador antropométrico de altura para idade, e 52 milhões de crianças foram consideradas desnutridas a partir de indicador antropométrico de peso e altura.

Mudanças climáticas

Cada vez mais, as mudanças climáticas provocam extensos danos à saúde do planeta. Até 2050, os custos previstos das alterações climáticas são uma redução de 5 a 10% do PIB mundial, podendo exceder os 15% em países de baixa renda na Ásia, Oriente Médio e África.

No Brasil, a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) é a agropecuária, responsável por mais de 70% das emissões em 2017. Esse sistema envolve  práticas ilegais como o desmatamento e grilagem de terras, além do uso extensivo de agrotóxicos.

Obesidade, desnutrição e mudanças climáticas: interações

A obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas interagem de diversas maneiras, com influências mútuas umas sobre as outras.

Exemplos das interações entre essas três pandemias incluem:

1) A obesidade, o nanismo e a insegurança alimentar tendem a ocorrer nas mesmas crianças e na mesma população;

2) Os sistemas de transporte dominados por carros geram entre 14 a 25% dos gases de efeito estufa,  que deterioram a qualidade do ar, levando à diminuição de atividades ao ar livre, inatividade física e, consequentemente, à obesidade;

3) A produção de carne e laticínios gera gás metano, responsável por mais de 80% dos GEE agrícolas. Por sua vez, o consumo de carne contribui para obesidade, diabetes, câncer e doenças cardiovasculares;

4) O aumento de gases do efeito estufa reduz a produtividade das colheitas e reduz a concentração de nutrientes essenciais, como proteína, ferro e zinco, contribuindo para a insegurança alimentar e a subnutrição;

5) O aumento do CO2 atmosférico aumenta a acidificação dos oceanos, com efeitos adversos sobre os corais e a pesca.

Todos esses efeitos são distribuídos de forma desigual, com um impacto maior sobre as populações pobres, especialmente aquelas no sul global.

Como enfrentar a sindemia global?

A sindemia global demonstra uma necessidade urgente de reformulação de nossos sistemas alimentares, agropecuária, transporte, desenho urbano e uso do solo.

Para enfrentar a sindemia de modo eficaz, diversos atores precisam estar envolvidos: nações, municípios, sociedade civil, financiadores e agências internacionais. 

São chamadas “ações de trabalho duplo ou triplo” as estratégias que influenciam múltiplas partes da sindemia de forma simultânea. São alguns exemplos:

  1. Promoção de sistemas alimentares saudáveis, equitativos, ambientalmente sustentáveis e economicamente prósperos
  2. Redução do consumo de carne vermelha (através de alteração de impostos/subsídios, rotulagem ambiental e de saúde e marketing social)
  3. Guias alimentares sustentáveis
  4. Legislação do Direito ao Bem-Estar (Direito à Saúde, Direito à Alimentação, Direitos da Criança, Direitos Culturais, Direito ao Meio Ambiente Saudável)
  5. Mudanças no modo de transporte 
  6. Restrição das influências comerciais (por exemplo, gestão transparente de conflitos de interesse e financiamentos políticos)

No âmbito da nutrição, os nutricionistas devem se empenhar em promover dietas sustentáveis. Por definição, dietas sustentáveis são “dietas com baixo impacto ambiental que contribuem para a segurança alimentar e nutricional e para uma vida saudável para as gerações presentes e futuras; são protetoras e respeitosas da biodiversidade e dos ecossistemas, culturalmente aceitáveis, acessíveis, economicamente justas; nutricionalmente adequado, seguro e saudável, ao mesmo tempo em que otimiza os recursos naturais e humanos”.

Por exemplo, dietas com quantidades reduzidas de carne, como a dieta vegetariana e a mediterrânea, têm um menor impacto ambiental e são mais sustentáveis ​​do que a dieta ocidental. Além disso, contribuem para a redução da obesidade e de doenças crônicas. 

Segundo o grupo de especialistas da Comissão EAT-LANCET, dietas saudáveis ​​devem incorporar:

  • Fontes de proteína de origem vegetal, como soja, legumes e nozes, com ingestões ocasionais de aves, ovos e ingestões muito baixas de carne vermelha;
  • Gordura insaturada de plantas
  • Carboidratos de grãos integrais 
  • Ingestão de açúcar inferior a 5% das calorias; 
  • Pelo menos cinco porções de frutas e vegetais diariamente; 
  • Consumo moderado de laticínios

Diante desse contexto, vale ressaltar a importância da articulação de esforços entre atores locais, nacionais e globais, para a criação de políticas que enfrentem a sindemia global e que monitorem sua implementação. 

A união de esforços é a chave para enfrentar os desafios interconectados da sindemia, promovendo um futuro mais justo e saudável para todos.

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Referências:

Alimentando Políticas. A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas – relatório da Comissão The Lancet. 2019. 

Dietz WH, Pryor S. How Can We Act to Mitigate the Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change? Curr Obes Rep. 2022 Sep;11(3):61-69. doi: 10.1007/s13679-021-00464-8. PMID: 35138591; PMCID: PMC9399359.

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