Sinais de alerta nas embalagens de alimentos como estratégia de educação nutricional

Postado em 10 de abril de 2023

Produtos altos em calorias, açúcar, gordura e sódio recebem sinais de alerta em diferentes países.

Recentemente, entrou em vigor a nova rotulagem nutricional frontal brasileira. Com sinais de alerta em formato de lupa, a estratégia visa chamar atenção para produtos altos em açúcar adicionado, gorduras saturadas e sódio. Outros países como o Chile, México e Reino Unido também possuem seus próprios alertas nas embalagens de seus alimentos.

Sinais de alerta nas embalagens dos alimentos

Em um novo estudo transversal, pesquisadores buscaram avaliar esses sinais de alertas internacionais nas embalagens de alimentos complementares infantis, tendo em vista o aumento do sobrepeso e da obesidade nesta população.

O objetivo foi investigar a qualidade destes alimentos, e discutir sobre a eficácia dos sinais de alerta para a educação nutricional. Continue lendo para descobrir os principais achados.

Metodologia: sinais de alerta de 7 países participaram da análise

Foram considerados “alimentos complementares infantis” aqueles comercializados como próprios para a introdução alimentar de crianças com até 3 anos, seja por palavras, imagens infantis, ou qualquer outra forma de comunicação.

Para a análise destes produtos, os pesquisadores avaliaram: marca, fabricante, lista de ingredientes, teor de nutrientes por 100 g/porção (energia, gordura total, gordura saturada, açúcar total, açúcar adicionado, sódio/sal), instruções de reconstituição e tamanho da porção.

Ao todo, os sinais de alerta de sete países serviram como base para avaliar a qualidade destes alimentos. As diferenças entre estes sinais são expressas na tabela abaixo.

BrasilChileMéxicoAustrália, Emirados Árabes, EUA e Reino Unido
AlimentosAlto em calorias ≥275 kcal/100 g≥275 kcal/100 g
Alto em sódio≥600 mg/100 g≥400 mg/100 g≥1 mg/kcal ou ≥300 mg/100 g> 1.5 g/100 g
Alto em açúcar≥15 g/100 g de açúcar adicionado≥10 g/100 g de açúcar total≥10% da energia total de açúcares adicionados> 22.5 g/100 g de açúcar total
Alto em gordura saturada≥6 g/100 g≥4 g/100 g≥10% da energia total de gorduras saturadas> 5 g/100 g
LíquidosAlto em calorias≥70 kcal/100 ml≥70 kcal/100 ml
Alto em sódio≥300 mg/100 ml≥100 mg/100 ml≥1 mg/kcal ou ≥300 mg/100 g> 0.75 g/100 ml
Alto em açúcar≥7,5 g/100 ml de açúcar adicionado≥5 g/100 ml de açúcar total≥10% da energia total de açúcares adicionados> 11.5 g/100 ml de açúcar total
Alto em gordura saturada≥3 g/100 ml≥3 g/100 mL≥10% da energia total de gorduras saturadas> 2.5 g/100 ml

 

Os produtos de todos os setes países também foram avaliados em relação ao primeiro sinal de alerta desenvolvido especificamente para alimentos complementares infantis. Tal sinal foi desenvolvido pela OMS, e inclui um aviso de “alto teor de açúcar”.

Altos níveis de nutrientes preocupantes foram encontrados

Em todos os países, os alimentos em purês formaram a maior categoria de alimentos complementares infantis. Cereais instantâneos, lanches e “finger foods” também foram prevalentes.

Em relação à qualidade nutricional, o teor de sódio foi o menos preocupante. Entretanto, isso não valeu para a densidade energética e os níveis de açúcar e gordura. Confira a seguir.

Densidade energética

No estudo, os principais alimentos infantis com sinais de alerta para calorias foram os salgadinhos. No Chile e no México, todos receberam este aviso. Além disso, todas as bebidas açucaradas também possuíam alta densidade energética, com base no sistema mexicano.

Evidências anteriores já apontavam estes alimentos como problemáticos, contribuindo para o sobrepeso e a obesidade em crianças.

Os autores apontam que alimentos infantis ricos em energia, mas pobres em nutrientes, tendem a ser consumidos como lanches, e tiram o espaço de outras categorias de alimentos mais saudáveis.

Açúcar

O açúcar foi, definitivamente, o nutriente mais preocupante nos alimentos. Açúcares ou adoçantes adicionados estavam em metade dos produtos infantis brasileiros (47.4%), em mais de 1/3 dos produtos mexicanos (38.5%) e dos Emirados Árabes Unidos (36.6%), e em mais de ¼ dos produtos australianos (27.8%).

Novamente, a maior parte dos produtos altos em açúcar eram os salgadinhos. A única exceção foi o Brasil, que não continha açúcar nestes alimentos.

Por outro lado, 100% dos alimentos em purês brasileiros continham altos níveis deste nutriente. Os autores comentam sobre a alta proporção de frutas e vegetais de sabor doce nestes produtos, que, durante o intenso processamento, liberam açúcares livres prontamente disponíveis.

Nas crianças, o alto consumo de açúcar aumenta o sobrepeso, a prevalência de doenças crônicas, o risco de triglicérides elevados e a cárie dentária. Portanto, os fatos constatados na pesquisa foram preocupantes.

Gordura saturada

Níveis moderados a altos de gorduras totais/saturadas foram encontrados nos produtos da Austrália, México, Reino Unido e Emirados Árabes. Mais uma vez, a maioria dos alimentos com este alerta foram os salgadinhos.

As gorduras devem estar presentes na alimentação infantil, fornecendo ácidos graxos essenciais, auxiliando na absorção de vitaminas, e promovendo o desenvolvimento cognitivo e motor. Entretanto, com o passar dos anos, a ingestão lipídica deve ser gradualmente reduzida.

Sinais de alerta nas embalagens dos alimentos trazem benefícios

Em conclusão, os resultados da pesquisa mostraram que a alta quantidade de açúcar, calorias e gorduras justificam a adoção dos sinais de alerta, principalmente em alimentos infantis.

Muitas evidências mostram os benefícios desta estratégia. Ela pode facilitar escolhas mais saudáveis, fornecer informações nutricionais simples e rápidas, e incentivar os fabricantes a reformularem seus produtos alimentícios (com a diminuição de ingredientes “ruins”).

Como ferramenta política, estas sinalizações ajudam a equilibrar os ambientes alimentares não saudáveis, e contribuem para a educação nutricional das populações.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

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Referência:

BASSETTI, Eleonora; KHOSRAVI, Asha; PRIES, Alissa M. Prevalence of Front-of-Pack Warning Signs among Commercial Complementary Foods in Seven High and Upper Middle-Income Countries. Nutrients, v. 15, n. 7, p. 1629, 2023.

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