A demência é uma das principais causas de incapacidade em pacientes idosos, sendo caracterizada por um comprometimento cognitivo progressivo, que interfere na capacidade funcional independente. Muitas intervenções foram consideradas na prevenção e no tratamento da demência, inclusive a suplementação de vitaminas. Mas será que essa é uma forma eficaz de lidar com a doença? É o que iremos descobrir hoje.
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Demência e déficits nutricionais
Existem vários fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento da demência. Alguns, como idade avançada, fatores genéticos ou histórico familiar, não podem ser modificados. No entanto, existem outros que, se modificados, podem reduzir a probabilidade de desenvolver demência ou pelo menos retardar seu início.
Estes possíveis fatores modificáveis são diversos, e incluem o hábito do tabagismo, sedentarismo, obesidade, diabetes, consumo de álcool, baixo contato social, dentre outros. Ainda, a dieta e os déficits nutricionais também parecem exercer influência no desenvolvimento da doença. Assim, a suplementação nutricional poderia ser uma possível solução para prevenir o declínio mental.
As vitaminas, por exemplo, desempenham um papel muito importante no bom funcionamento da fisiologia humana, incluindo o desempenho cognitivo. Mas apesar da sua grande importância, distúrbios mentais (como a demência) são frequentemente acompanhados de diversas deficiências destas vitaminas (principalmente B1, B9 e B12).
Suplementação vitamínica na demência
Conhecendo o papel das vitaminas na saúde mental, seria lógico supor que a sua suplementação como prevenção e tratamento da demência seria algo a ser considerado. Mas o que diz a literatura científica sobre isso?
1. Vitaminas do Complexo B
Em uma recente revisão sistemática que avaliou a suplementação de vitaminas na demência, os resultados mais promissores foram referentes às vitaminas do complexo B.
Nesta revisão, todos os estudos incluídos que compararam a suplementação de ácido fólico (vitamina B9) com algum placebo ou tratamento convencional, mostraram que a suplementação promoveu melhores resultados em testes cognitivos.
Já a suplementação combinada de ácido fólico (B9) e vitamina B12 apresentou algumas discrepâncias entre os estudos. Em três ensaios, ela foi associada ao melhor desempenho em avaliações cognitivas. Contudo, em outros dois ensaios, essa intervenção não atenuou o declínio cognitivo.
Em relação à tiamina (vitamina B1), esta mostrou um impacto positivo no desempenho cognitivo quando administrada isoladamente, mas também quando administrada em combinação com ácido fólico (B9).
2. Vitamina D
Em relação à suplementação de vitamina D, os resultados são discordantes. Alguns estudos demonstram benefícios na memória visual, trabalho e aprendizado, e outras escalas de avaliação cognitiva, principalmente na dose de 2.000 UI. No entanto, essas melhoras não parecem ser significativas.
Resultados discrepantes também foram detectados em estudos sobre a suplementação dupla de vitamina D e cálcio, com alguns demonstrando melhora cognitiva, e outros não. Sendo assim, há uma falta de evidências na avaliação dos efeitos benefícios da suplementação da vitamina D na cognição.
3. Vitamina C e E
Anteriormente, o ácido ascórbico (vitamina C) e uma alta dose de vitamina E (2.000 UI) haviam demonstrado efeitos positivos no desempenho cognitivo. No entanto, devido ao pequeno número de pesquisas, ainda não há evidências suficientes para apoiar seu uso.
Conclusão
Com base na literatura atual, a suplementação de vitaminas do complexo B, especialmente ácido fólico, parece ter um efeito positivo em retardar e prevenir o risco de declínio mental que acontece na demência.
Apesar disso, a diretriz ESPEN sobre nutrição na demência de 2015 não recomenda suplementação de nenhuma vitamina do complexo B para prevenir ou corrigir a enfermidade. Neste sentido, uma possível atualização talvez seja necessária.
Em relação às outras vitaminas (C, D, e E), os resultados ainda são incertos. Por isso, não há evidências suficientes para apoiar seu uso.
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Referências:
GIL MARTÍNEZ, Victoria; AVEDILLO SALAS, Ana; SANTANDER BALLESTÍN, Sonia. Vitamin Supplementation and Dementia: A Systematic Review. Nutrients, v. 14, n. 5, p. 1033, 2022.
VOLKERT, Dorothee et al. ESPEN guidelines on nutrition in dementia. Clinical nutrition, v. 34, n. 6, p. 1052-1073, 2015.
MCCLEERY, Jenny et al. Vitamin and mineral supplementation for preventing dementia or delaying cognitive decline in people with mild cognitive impairment. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 11, 2018.
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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