Intolerância à lactose: como diagnosticar?

Postado em 4 de novembro de 2022 | Autor: Nutritotal Redação

A intolerância a lactose pode ser diagnosticada de diversas formas, desde o diagnóstico terapêutico até alguns teste clínicos.

A intolerância à lactose é um quadro clínico cuja prevalência tem aumentado nos últimos anos. No mundo, cerca de 70% da população apresenta algum grau de intolerância à lactose, atingindo 50% da população da América do Sul e da África e chegando perto dos 100% em países asiáticos.

Intolerância à lactose

Intolerância à lactose | Imagem: shutterstock

O quadro de intolerância pode ser caracterizado pela diminuição expressiva da atividade da enzima lactase na mucosa intestinal. Os seus sintomas se dão pela elevação de água e eletrólitos na luz do intestino delgado e principalmente no cólon, causada pela não absorção da lactose, dissacarídeo altamente osmótico, nas microvilosidades intestinais.

Entre os sintomas mais recorrentes, podemos citar: o aumento do peristaltismo intestinal, fortes dores abdominais, diarreia e flatulência acentuada. Sendo que a gravidade e ocorrência desses sintomas depende da quantidade de lactose ingerida e da tolerância individual do paciente.

O que é lactose?

A lactose é um carboidrato dissacarídeo encontrado no leite e em derivados lácteos. É composta por uma unidade de glicose e uma de galactose, produzida a partir da via B-1 glucosídica. A enzima lactase é a principal responsável por realizar a hidrólise desse composto e permitir que seja absorvido pelo organismo.

O carboidrato de maior abundância encontrado no leite, a lactose representa cerca de 6% da composição geral do leite materno e do leite de vaca, este último sendo geralmente um pouco abaixo.

Intolerância à lactose

Como citamos, a intolerância à lactose é caracterizada pela diminuição da atividade da enzima lactase e, consequentemente, pela dificuldade de hidrólise da lactose. Muitas vezes confundida com alergia ou sensibilidade a lactose, diferente desses quadros, a intolerância não apresenta uma resposta imunológica à entrada desse componente alimentar.

Como consequência da deficiência na absorção de lactose pelo intestino, esse dissacarídeo se torna exposto à fermentação pela flora bacteriana intestinal. Sendo assim, são gerados ácidos graxos de cadeia curta, gás hidrogênio, gás carbônico e ácido láctico. Produtos que podem gerar inchaços intestinais e irritação da mucosa, chegando à ocorrência de diarreia pela entrada abrupta de água.

O desenvolvimento da intolerância se dá por diversos fatores, entretanto há uma forte hipótese relacionada ao abandono do consumo de leite após a transição para a vida adulta. O corpo humano interpreta essa redução de oferta de leite como dispensável a produção de lactase.

Ainda assim, sua ocorrência pode ser classificada de três formas: deficiência primária, deficiência secundária (adquirida ao longo da vida) ou de origem congênita.

  • Deficiência Primária: definida como a perda fisiológica da produção de lactase como uma resposta à falta de oferta de lactose após o desmame do indivíduo. O aparecimento dos primeiros sintomas ocorre à medida que a atividade da enzima diminui a menos de 50%. É a forma mais recorrente de intolerância.
  • Deficiência Secundária: nessa condição, a produção da enzima lactase é prejudicada pelo acometimento de outro quadro clínico que leva à destruição das células epiteliais do intestino. Pode ser decorrente da Doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, diarreia, doença celíaca, infecção por Ascaris lumbricoides e etc…
  • Deficiência Congênita: essa condição tem origem hereditária, mais especificamente, uma herança autossômica recessiva. Já pode ser observada desde o momento do nascimento e primeiro contato com o leite materno.

Diagnóstico

O diagnóstico para a intolerância à lactose é essencialmente clínico, no qual os seus testes são baseados nos sintomas característicos dessa condição e, na maioria deles, na exposição ao contato direto com a lactose. Vale ressaltar que no caso de deficiência secundária, é imprescindível que seja feito o diagnóstico da doença principal.

Devido à complexidade e ao custo alto que alguns testes demandam, existem outras possibilidades, como o diagnóstico terapêutico. Esse consiste na exclusão do leite e derivados da dieta por um período de tempo e avaliação da presença dos sintomas, além de um detalhamento do histórico familiar e hábitos alimentares do paciente.

Teste de tolerância à lactose

Apresentando uma sensibilidade de 94%, esse teste é o um dos mais utilizados, consiste na ingestão em jejum de uma dose concentrada de lactose. Após essa ingestão, são realizados alguns exames de sangue periódicos durante o mesmo dia para avaliar a concentração de glicose no sangue. Caso a glicemia aumente, isso significa que há a hidrólise de lactose no intestino, caso não, deficiência de lactase.

Teste de Hidrogênio expirado

O teste de hidrogênio expirado, considerado padrão ouro, consiste na medição da concentração de gás hidrogênio expirado após a ingestão da lactose. Em situações normais, humanos expiram quantidades baixas de hidrogênio, porém quando a lactose não é hidrolisada e absorvida, a flora bacteriana fermenta essa lactose e libera alguns produtos, dentre eles o hidrogênio, marcando a deficiência na atividade da lactase.

Biópsia da mucosa intestinal

Realizada por meio de endoscopia, esse teste mede a atividade da lactase da mucosa intestinal ao entrar em contato com a lactose. Se não houver reação com a lactose ali presente, a intolerância é confirmada, ou seja, não tem atividade de lactase. Apesar de ser um teste com especificidade e sensibilidade altas, é invasivo e possui um custo muito alto.

Genotipagem ou exame genético

O exame genético consiste no estudo do DNA presente em amostras de sangue ou saliva. Esse estudo avalia a mutação associada à enzima lactase, podendo ser observado a sua deficiência. Esse teste produz resultado geralmente em pouco tempo e têm se mostrado muito eficaz, além de não induzir sintomas desconfortáveis, sendo considerado a melhor forma de diagnóstico dessa condição.

Conclusão

A intolerância à lactose vem apresentando um grande aumento na sua prevalência. Dessa forma, o seu diagnóstico correto é fundamental para um bom manejo e tratamento dessa condição. Com um diagnóstico essencialmente clínico, a exclusão da lactose da dieta, assim como uma série de testes, podem ser uma ótima forma de diagnosticar a intolerância.

Vale ressaltar que a deficiência de lactase não é um sinônimo direto de intolerância à lactose, há uma parcela da população com deficiência de lactase, mas que pode suportar tranquilamente até 300 mL de leite ao dia. Isso é importante citar para evitar uma exclusão de leite desnecessária da dieta, que pode ser fator de risco para osteopenia e osteoporose.

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Referências

Barbosa et al. Intolerância à lactose: revisão sistemática. Para Res Med J. 2020;4:e33

Zychar BC, Oliveira BA. Fatores Desencadeantes da Intolerância á Lactose: Metabolismo Enzimático, Diagnóstico e Tratamento. Atas de Ciências da Saúde 2017; 5(1):35-46.

Oliveira et al. DIAGNÓSTICO E MANEJO DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE/ Braz. J. Surg. Clin. Res Vol.29,n.1,pp.111-115, 2020.

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