Diretrizes ABNE de prática clínica para nutrição esportiva

Postado em 1 de julho de 2025

As novas diretrizes da ABNE trazem recomendações práticas baseadas em evidência para otimizar a nutrição de atletas e esportistas.

Recentemente, a Associação Brasileira de Nutrição Esportiva (ABNE)  elaborou diretrizes de nutrição esportiva, para estabelecer intervenções relacionadas à alimentação e nutrição que otimizem o desempenho durante o exercício.

A diretriz foi elaborada de acordo com o sistema Grading of Recommendations, Assessment, Development, and Evaluations (GRADE), cujo objetivo principal é graduar a qualidade da evidência e a força das recomendações para os mais diversos desfechos em saúde.

diretrizes de nutrição esportiva

Fonte: Canva

A seguir, confira as principais recomendações.

Avaliação nutricional do atleta

Em primeiro lugar, a ABNE recomenda fortemente o uso do recordatório de 24 horas (R24h) combinado com o histórico alimentar como o principal método para avaliar a ingestão alimentar de atletas. 

Além disso, recomenda-se o uso de ferramentas fotográficas e do método de múltiplas passagens para aumentar a precisão das informações obtidas e, consequentemente, melhorar a eficácia da intervenção proposta.

Destaca-se o papel crucial da quantificação do gasto energético total na orientação do planejamento alimentar. As equações de Harris e Benedict, Cunninghan (1980 e 1991) e Ten-Haaf ainda são ferramentas valiosas. Dentre elas, apenas a equação de Ten-Haaf demonstrou baixa heterogeneidade, destacando ainda mais sua confiabilidade. 

O uso de fatores de atividade e METs para estimar o gasto energético de atividades e exercícios físicos continua sendo a melhor maneira de quantificar a demanda energética dessa população. 

A diretriz também recomenda a triagem de deficiência energética relativa no esporte por meio de cálculo de disponibilidade energética e questionários validados.

Finalmente, orienta-se a avaliação da composição corporal de atletas para monitorar os compartimentos corporais ao longo do tempo, especialmente para verificar potenciais alterações relacionadas à oferta e demanda energética, bem como adaptações impostas pelo treinamento físico. 

Quando se trata de métodos alternativos (como antropometria e BIA), o avaliador deve reconhecer os procedimentos apropriados, bem como saber como selecionar a equação preditiva mais adequada para o indivíduo e a população avaliados. 

Biomarcadores

Recomenda-se a avaliação de biomarcadores para monitorar cargas de treinamento externas e internas em atletas de alto rendimento. 

No entanto, até o momento, notou-se a ausência de parâmetros bioquímicos mais específicos, assim como de avaliações de sensibilidade e especificidade para diversos biomarcadores, o que dificulta sua aplicabilidade e relevância.

Portanto, o uso deve ser cauteloso e alinhado com outros parâmetros de avaliação nutricional. 

Nutrientes e desempenho físico

Carboidratos antes do treino

Em exercícios de longa duração, a ingestão de carboidratos antes do exercício físico pode melhorar o desempenho físico, enquanto que para exercícios de curta duração, benefícios não são evidenciados. 

Esses efeitos dependem dos estoques de glicogênio muscular e hepático antes do início do exercício. Portanto, uma avaliação individual da rotina de treinamento e da disponibilidade de carboidratos deve ser feita. 

O tipo de carboidrato e/ou a resposta glicêmica da refeição têm pouco ou nenhum efeito no desempenho físico. No entanto, ajustes individuais devem ser feitos para evitar distúrbios gastrointestinais durante o treinamento ou competições. 

Carboidratos durante o treino

Recomenda-se a ingestão de carboidratos, especialmente aqueles de fácil digestão e absorção (por exemplo, maltodextrina, sacarose, glicose + frutose), durante exercícios físicos de longa duração para melhorar o desempenho físico. 

Alimentos fontes de carboidratos podem ser ingeridos durante o exercício físico. Novamente, atenção especial aos problemas gastrointestinais deve ser dada. O treinamento intestinal possivelmente será essencial para evitar distúrbios. 

Os estoques de glicogênio intramuscular e hepático também devem ser considerados, um fator que parece mediar a ergogenicidade dos carboidratos ingeridos durante o exercício físico. 

Carboidratos após o exercício

A diretriz recomenda a ingestão de carboidratos com rápida resposta glicêmica após o exercício físico, especialmente quando o tempo de recuperação entre as sessões de treinamento for curto (por exemplo, <8 h).

No entanto, se o tempo entre as sessões de treinamento for maior (por exemplo, apenas no dia seguinte), não há necessidade de acelerar a recuperação do glicogênio muscular imediatamente após o exercício físico. 

Nesses casos, a distribuição adequada de carboidratos nas refeições ao longo do dia é suficiente para garantir a recuperação do glicogênio muscular. 

Ademais, a diretriz não recomenda estratégias com baixo teor de carboidratos, especialmente a dieta cetogênica, para otimizar o desempenho físico. As evidências científicas disponíveis não são suficientes para recomendar essa estratégia, e pode haver potenciais efeitos adversos.

Proteínas

Recomenda-se que a ingestão proteica seja individualizada, considerando que a quantidade diária de proteína é o fator mais importante para a hipertrofia e/ou recuperação muscular.

Fontes proteicas não parecem relevantes para a hipertrofia muscular em indivíduos que consomem dietas ricas em proteínas (1,6 a 2,2 g/kg); no entanto, faltam estudos que avaliem o efeito de fontes proteicas na hipertrofia muscular em indivíduos com ingestão subótima (<1,6 g/kg/dia). 

Além disso, o efeito da distribuição da ingestão proteica ao longo do dia permanece incerto. 

As evidências atuais sugerem que não há necessidade de consumir proteína imediatamente após o exercício para promover maiores ganhos de massa muscular.

Lipídios

Não recomenda-se a ingestão aguda de lipídios (por exemplo, TCM ou TCL) antes do exercício físico. 

No entanto, considerando a importância dos lipídios para as funções vitais, a ingestão média deve variar de 25% a 30% da ingestão calórica total, não podendo ser inferior a 20%.

Micronutrientes

Recomenda-se o monitoramento dos níveis de vitaminas e minerais, particularmente a vitamina D. Além disso, recomenda-se a correção das deficiências por meio da dieta e, se necessário, por meio de suplementos com alta biodisponibilidade. 

No entanto, o efeito da suplementação no desempenho físico é incerto.

Hidratação

Os atletas e esportistas de alto rendimento devem ser monitorados quanto ao seu estado de hidratação, especialmente se o treinamento ocorrer em ambientes quentes. 

A ingestão adequada de água e bebidas esportivas antes, durante e após o exercício promove efeitos positivos à saúde e ao desempenho físico. 

No entanto, é necessário considerar adequadamente a osmolalidade da bebida:

  • Bebidas isotônicas são mais adequadas para fornecer carboidratos e eletrólitos, especialmente sódio. 
  • Bebidas hipotônicas podem otimizar a hidratação durante o exercício, apesar do risco de hiponatremia. 

Suplementação

A diretriz faz as seguintes recomendações:

Cafeína: recomendado como auxiliar ergogênico em doses adequadas. Para evitar problemas gastrointestinais, é recomendado “treinar o intestino” com suplementação antes. 

Creatina: quantidades adequadas para aumentar a força muscular e o desempenho físico em exercícios de alta intensidade e curta duração. Para exercícios de endurance (por curtos períodos) não é recomendada.

Beta-alanina e bicarbonato de sódio: melhorar o desempenho em exercícios físicos de alta intensidade, onde o desequilíbrio ácido-base é o fator-chave para a fadiga periférica. No entanto, os efeitos adversos devem ser avaliados, especialmente pelo bicarbonato de sódio. As quantidades encontradas em suplementos “pré-treino” são insuficientes.

Nitrato: obtenção a partir do suco de beterraba. As melhorias no desempenho parecem ocorrer principalmente em indivíduos treinados, mas não em atletas de elite. 

Glicerol: apesar dos potenciais efeitos positivos, são necessários mais estudos bem delineados. Além disso, efeitos adversos foram relatados (dores de cabeça, desconforto gastrointestinal e náuseas). 

Leia a diretriz completa

No material completo, cada um desses tópicos é destrinchado de forma detalhada. Além disso, também abordam temas como doping e orientações para atletas com necessidades especiais.

Clique aqui para acessar o guideline.

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Referência:

Quaresma MVL, Trindade MCC, Oliveira EP, Dátillo M, Pimentel GD, Barros ARZ, et al. Clinical practice guidelines for sports nutrition: Brazilian Sports Nutrition Association. J Phys Educ. 2025;36:e3605. doi:10.4025/jphyseduc.v36i1.3605.

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