No paciente idoso terminal, o principal objetivo é o controle dos sintomas e a promoção do bem-estar.
Durante o processo de fim de vida da pessoa idosa, a fase ativa da morte consta como um período de 3 a 7 dias com características muito peculiares. Nesta fase, dar atenção a todas as dimensões do ser humano (física, psicológica, social e espiritual) auxilia os cuidadores e profissionais de saúde a tornar o processo menos doloroso e mais pacífico.
Pensando nisso, a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), em parceria com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), lançou a cartilha “Cuidados de fim de vida à pessoa idosa portadora de doenças não oncológicas”.
Qual é o objetivo desta cartilha?
Com a publicação do documento, a intenção da ANCP foi de difundir conteúdo teórico acerca de cuidados paliativos através de uma linguagem mais simples e acessível, com maior alcance para o público geral.
Na palavra dos autores, “o objetivo desta cartilha é fornecer informações que deem suporte a quem esteja cuidando de alguém em um momento da vida que, muitas vezes, é angustiante, desgastante e até solitário”.
Quais são os assuntos abordados?
Ao longo do material, deixa-se claro que a atenção aos detalhes é um fator diferencial para cuidar de alguém que está se despedindo. No fim da vida, deve-se estar atento a fatores como alimentação, estado de sonolência, capacidade de urinar, falta de ar, ansiedade, preocupações, e o desejo de expressar sentimentos (medo, perdão, amor, etc).
Deste modo, são diversas as áreas da saúde que abarcam os cuidados paliativos. Sendo assim, são abordados temas da medicina, enfermagem, farmácia, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, psicologia e fisioterapia.
Ao longo do capítulos, a cartilha também detalha os cuidados ao fim de vida relacionados à doenças crônicas comuns, sendo elas:
- Doença pulmonar obstrutiva crônica;
- Insuficiência cardíaca;
- Acidente Vascular Cerebral;
- Doença renal crônica;
- Demência;
- Doença de Parkinson.
O papel da nutrição em cuidados de fim de vida
Algumas dúvidas comuns em relação à alimentação e nutrição durante o fim de vida são respondidas pela cartilha. Confira-as a seguir.
Qual é o papel da nutrição no cuidado de pacientes em fim de vida?
A abordagem nutricional deve visar o conforto e a qualidade de vida, incluindo a busca pela resolução de sintomas relacionados à alimentação. Ademais, deve ser pautada pela expectativa de vida do paciente, mediante uma conduta nutricional individualizada e contextualizada, baseada:
- Na aceitação e tolerância do paciente;
- Na possibilidade de mastigação e deglutição.
- Na autonomia;
- Em suas preferências, tabus, culturas e hábitos alimentares;
Deste modo, a comunicação com o paciente é essencial, definindo o cardápio, consistência e volume da dieta com a participação ativa do indivíduo.
O emagrecimento é esperado?
Sim. O contínuo processo de desnutrição e a perda muscular se associam tanto ao envelhecimento, quanto à inflamação relacionada à doença crônica. Por isso, na terminalidade da doença, a perda de peso se torna irreversível.
Além disso, as alterações hormonais e reações metabólicas no organismo geram diminuição da sensação de sede e fome, redução do gasto energético e bem-estar. Os pacientes passam a se sentir satisfeitos com pequenas quantidades de alimentos e fluidos. Dessa forma, a privação alimentar pode ser empregada, no lugar de uma alimentação forçada que induza dor, naúseas e vômitos.
A perda de peso ponderal involuntária, aliada à redução da ingestão alimentar, podem ser angustiantes para pacientes e familiares. Por isso, o ambiente deve ser de acolhimento, reduzindo as expectativas quanto aos benefícios dos alimentos no processo terminal.
A terapia nutricional deve ser empregada?
Os autores defendem que, em razão das incertezas quanto à existência de benefícios suficientes para justificar os riscos e complicações da terapia nutricional, esta não deve ser aplicada a todos os pacientes.
Não introduzir suporte nutricional e hidratação significa permitir a “morte natural”, que na verdade ocorre nas duas situações – com ou sem a terapia.
No lugar da nutrição enteral ou parenteral, é defendido um trabalho interdisciplinar que vise conhecer os gostos dos indivíduos, adaptar os alimentos e as consistências, e ajudar os cuidadores a escolherem o melhor momento do dia para oferecer as refeições. Nesse sentido, a alimentação conforto (“comfort foods”) deve estar presente, buscando sensações de prazer e bem-estar.
Conclusão
O final da vida deve ser tratado com muito cuidado e delicadeza. Com as informações apresentadas na cartilha, os autores buscam auxiliar os cuidadores que lidam com a pessoa idosa em estado terminal, reduzindo a dor associada à este momento.
Na nutrição, o principal objetivo deve ser o controle e dos sintomas a promoção do bem-estar. Sendo assim, intervenções que perturbem a qualidade de vida do paciente, como terapia nutricional ou alimentação forçada, devem ser substituídas por uma alimentação coerente e prazerosa.
Clique aqui para acessar a cartilha completa.
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Referência:
ARANTES, Alexandra Mendes Barreto; FONSECA, Anelise. Cartilha cuidados de fim de vida à pessoa idosa portadora de doenças não oncológicas. Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 1ª edição, São Paulo, 2022.
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