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Apesar da popularidade das dietas vegetarianas e veganas, a principal preocupação entre os profissionais de saúde é se esse padrão alimentar é capaz de suprir as necessidades nutricionais dos indivíduos. E com as crianças esse receio é ainda maior, tendo em vista que na infância a carência de nutrientes pode afetar o desenvolvimento saudável.
Nos últimos dez anos, poucos estudos aprofundaram-se sobre a ingestão de micronutrientes em crianças vegetarianas, veganas e onívoras. Além disso, entende-se que apesar do padrão alimentar ser semelhante, crianças vegetarianas, veganas e onívoras têm hábitos alimentares distintos de acordo com o país que vivem.
Pensando nisso, um estudo realizado na Alemanha propôs-se a analisar a ingestão dietética e o estado nutricional de 430 crianças que praticavam um dos três tipos de dietas citados.
Como foi realizada a pesquisa
O VeChi Diet Study é um estudo transversal que coleta dados sobre dieta, estilo de vida, peso corporal e altura de crianças vegetarianas, veganas e onívoras. E para essa análise, foram selecionadas 430 crianças alemãs de 1 a 3 anos sendo 127 vegetarianas, 139 veganas e 164 onívoras.
Os dados para a avaliação nutricional dessas crianças foram obtidos através de registros alimentares realizados pelos pais por 3 dias consecutivos, nos quais todos os alimentos e bebidas consumidos e desperdiçados eram pesados e anotados. Informações sobre estilo de vida e variáveis como peso ao nascer, foram recebidas através de questionários online.
Peso e altura eram avaliados por pediatra ou pelos pais que também estavam responsáveis por esse registro. Além disso, a atividade física também foi avaliada e categorizada como muito ativa ou ativa com prática de jogos ou esportes de 4 a 7 vezes por semana e menos ativa, menos de 4 vezes por semana.
Dietas vegetariana e vegana: quais foram as diferenças notadas?
Após compilar todas essas informações, os pesquisadores conseguiram definir diferenças relevantes entre os grupos. Percebeu-se que as crianças veganas eram as que mais usavam suplementos dietéticos ou vitamina B₁₂.
Em relação às vitaminas, as crianças veganas tiveram maior ingestão de vitaminas E, K, B₁, B₆, folato e C. As crianças onívoras, por sua vez, tiveram maior ingestão de vitaminas B₂ e B₁₂. E entre as crianças vegetarianas e onívoras, houve apenas diferenças significativas na ingestão de vitaminas E, B₂ e B₁₂.
As crianças veganas apresentaram maior ingestão de potássio, magnésio e ferro, enquanto as crianças onívoras apresentaram maior ingestão de cálcio e iodo. Entre vegetarianas e onívoras, a ingestão de magnésio, ferro e iodo difere de maneira expressiva. Os dados sobre ingestão de vitamina D e iodo revelam que em todos os grupos não foram atendidas as recomendações para a faixa etária em questão.
Sobre a qualidade da gordura presente na dieta das crianças, as veganas foram as que apresentaram um melhor perfil dietético de lipídios, seguido das vegetarianas, porém, com baixa ingestão de DHA que está presente principalmente em peixes gordurosos, mas pode ser encontrado também em microalgas e óleos de plantas fortificados.
Apesar de terem um melhor consumo desse ácido graxo, as crianças onívoras apresentaram baixa ingestão de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) e foram as únicas que excederam, em média, a ingestão máxima de colesterol recomendada.
Conclusão dos autores
Com esses desfechos, os autores da pesquisa afirmam que a ingestão de nutrientes por crianças vegetarianas e veganas foi melhor do que das crianças onívoras, o que contrapõe as suposições de que esses padrões alimentares não fornecem qualidade nutricional capaz de promover um crescimento saudável.
No entanto, revelam que deve haver uma preocupação em todos os grupos analisados com relação à vitamina D e à ingestão de iodo e de DHA. Sendo que para as crianças veganas e vegetarianas os pontos críticos são a ingestão de ferro (pois esse provém de vegetais e é menos biodisponível que o ferro contido nas carnes) e vitaminas B₂ e B₁₂, com destaque para o cálcio nas crianças veganas.
Por fim, recomendam que nas crianças onívoras deve-se inserir mais fontes de PUFA e menos colesterol.
Confira um guia elaborado pela Sociedade Vegetariana Brasileira sobre alimentação vegetariana para crianças e adolescentes, clicando aqui.
Referência
Weder, S., Keller, M., Fischer, M. et al. Intake of micronutrients and fatty acids of vegetarian, vegan, and omnivorous children (1–3 years) in Germany (VeChi Diet Study). Eur J Nutr (2021). https://doi.org/10.1007/s00394-021-02753-3
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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