A combinação entre observação clínica e escuta ativa para um diagnóstico mais preciso.
A semiologia nutricional é uma ferramenta muito útil no processo de avaliação nutricional, pois permite identificar sinais e sintomas físicos que indicam possíveis deficiências, excessos ou disfunções relacionadas ao estado nutricional.
Diferente de avaliar apenas o que o paciente relata, a semiologia nutricional une a observação clínica com a escuta ativa do paciente, reunindo elementos físicos e subjetivos que ajudam a construir um diagnóstico e uma conduta mais completa.

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Anamnese nutricional: a base da avaliação
Dentro da semiologia nutricional, a anamnese é a etapa inicial, na qual o paciente relata espontaneamente ou sob questionamento informações sobre sua saúde, hábitos alimentares, estilo de vida e queixas específicas.
Trata-se de um momento de rememoração e compartilhamento, mas que, por sua natureza subjetiva, pode estar sujeita a variáveis como esquecimento, constrangimento ou interpretação errada de sintomas. Assim, a anamnese deve ser encarada como parte de um conjunto de dados, nunca isoladamente.
Durante a anamnese, sintomas (percepções subjetivas do paciente, como cansaço, tontura, dor) e sinais (evidências objetivas, observadas pelo profissional, como palidez ou edema) são cuidadosamente explorados para levantar hipóteses clínicas.
Exame físico: olhos atentos aos sinais visíveis
O exame físico é a continuidade da semiologia nutricional, focado na inspeção e palpação de estruturas corporais externas para identificar alterações compatíveis com desnutrição, deficiências específicas de micronutrientes ou excessos nutricionais.
Para realizar o exame físico é importante:
- Higienização das mãos e dos equipamentos antes do contato com o paciente para prevenir infecções.
- Explicação prévia de todos os procedimentos para ajudar o paciente a se sentir seguro.
- Vestimenta adequada do paciente e do profissional, garantindo a exposição das áreas a serem examinadas e a facilidade de movimentação do profissional durante o exame.
- Ambiente reservado, limpo, com boa iluminação e temperatura confortável, para favorecer a confiança do paciente e a precisão do exame.
O que examinar no corpo do paciente?
| Região | O que observar? | Características em condições normais |
| Cabelo | Coloração, brilho, quantidade, espessura, hidratação, alopecia | Coloração adequada, brilhantes, crescimento normal, firmes, macios ao toque e difíceis de arrancar |
| Olhos | Aspecto, cores da mucosa e membrana, sinais de excesso de nutrientes (xantelasma, arco córneo lipídico), sinais de deficiência de nutrientes (olhos escuros e flácidos ao redor) e condições de hipovitaminoses (xeroftalmia, nictalopia) | Brilhantes, membranas róseas e úmidas, sem manchas e boa adaptação visual no escuro |
| Lábios | Coloração da mucosa, presença de lesões causadas por hipovitaminoses | Lábios macios e sem inflamações |
| Língua | Coloração, integridade papilar, edema, espessamento | Língua vermelha, paladar preservado e superfície normal, sem edema |
| Gengivas | Edema, porosidade e sangramento | Ausência de edemas e sangramento |
| Dentes | Presença de cáries, ausência de dentes, uso de prótese, alterações em função de excesso ou escassez de nutrientes | Arcada dentária íntegra, sem ausência de dentes, prótese bem adaptada, sem comprometimento da mastigação |
| Face | Presença de edema ou depleção (exposição do arco zigomático), palidez, atrofia unilateral ou bitemporal, aspecto cansado, aparência deprimida | Bom estado geral, sem sinais de edema ou depleção |
| Pele | Cor, turgor, presença de edema, pigmentação, integridade, brilho, temperatura | Cor uniforme, turgor preservado ou compatível com a idade, sem edema, aparência saudável e lisa |
| Unhas | Forma, contorno, ângulo, coloração, rigidez e presença de micoses | Uniformes, arredondas, lisas e firmes, sem micoses |
| Abdômen | Rigidez (flácido ou tenso), volume (distendido, globoso ou escavado) e presença de gases: pouco (normal), maciez (quando há tumor) ou timpânico | Ausência das alterações referidas |
| Tecido subcutâneo | Excesso de tecido adiposo ou déficit de tecido subcutâneo (flacidez) e presença de edema | Ausência das alterações referidas |
| Tecido muscular esquelético | Retração ou atrofia | Ausência das alterações referidas |
| Sistema nervoso | Perdas do controle na contração ou parestesias | Ausência das alterações referidas |
| Condição hídrica | Desidratação ou edema | Ausência das alterações referidas |
Note que durante o exame físico, vários parâmetros são analisados, logo é preciso saber como avaliá-los também. Saiba como avaliar alguns deles:
Avaliação de edema
O edema — acúmulo anormal de líquido nos tecidos — é um sinal importante na semiologia nutricional. Para identificá-lo:
- Pressione suavemente a pele sobre a tíbia (osso da canela) ou tornozelos por alguns segundos.
- Observe se a depressão provocada pela pressão persiste após a retirada do dedo (sinal de “cacifo” positivo).
- Classifique a intensidade do edema (leve, moderado ou grave) de acordo com a profundidade e o tempo que a depressão leva para desaparecer.
Avaliação de turgor e elasticidade da pele
Outro aspecto da semiologia nutricional é avaliar a hidratação da pele. O teste é simples:
- Pince a pele do dorso da mão ou antebraço do paciente e observe se ela retorna rapidamente à posição normal.
- Retorno lento pode indicar desidratação, comum em idosos ou em situações de ingestão hídrica insuficiente.
Avaliação de peso e circunferência abdominal
O peso e as circunferências abdominal e da cintura devem ser aferidos com o paciente em jejum ou, pelo menos, fora do período pós-prandial imediato e com a bexiga vazia.
A postura do nutricionista: respeito e acolhimento
Em todas as etapas da semiologia nutricional, é indispensável que o nutricionista demonstre respeito absoluto pela história do paciente, sem julgamentos ou expressões que possam inibir a confiança.
Um ambiente de acolhimento facilita a obtenção de informações verdadeiras e a construção de um plano de cuidado mais eficaz.
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Referências
PINEDA, J. C. (2020). Semiología nutricional: el mejor camino para la seguridad diagnóstica y terapéutica. Revista De Nutrición Clínica Y Metabolismo, 4(1). https://doi.org/10.35454/rncm.v4n1.177SAMPAIO, L.R., org. Avaliação nutricional. Salvador: EDUFBA, 2012, pp. 23-47.
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Nutricionista formada pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Experiência profissional em controle de qualidade. Foi vice-presidente da Nutri Jr. USP. Assistente de Projetos em Nutrição no Nutritotal PRO, Nutritotal Para Todos e Ganep Educação.


