Endógeno ou exógeno, o excesso de cortisol circulante pode trazer uma série de complicações.
A Síndrome de Cushing, ou hipercortisolismo, reúne uma série de anormalidades clínicas resultantes da exposição contínua a níveis elevados de cortisol na corrente sanguínea, provocado, principalmente, pelo uso exacerbado de corticoesteroides ou de alguns fitoterápicos, que também podem aumentar os níveis
A doença de Cushing é uma das principais causas da síndrome, sendo responsável por 80% dos casos de origem endógena. A condição é associada à produção excessiva do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), normalmente secundário a um adenoma hipofisário.
Características da Síndrome de Cushing
A Síndrome de Cushing pode ser dividida em dois tipos: o hipercortisolismo exógeno e o hipercortisolismo endógeno, dependente ou não do hormônio ACTH.
O primeiro é causado majoritariamente pelo uso exacerbado de corticoesteroides como relatado acima. Já o hipercortisolismo endógeno é resultado de um acúmulo excessivo de cortisol produzido pelas glândulas adrenais.
Alterações fisiológicas
O cortisol em si, comumente conhecido como hormônio do estresse, é liberado justamente em situações estressantes pelo córtex da glândula adrenal. O excesso desse hormônio circulante causa algumas alterações em processos fisiológicos, evidenciando a síndrome.
Sendo de forma exógena ou endógena, o excesso de cortisol atua diretamente nas vias da glicose. Pode causar aumento da gliconeogênese, da quebra de glicogênio e principalmente da resistência à insulina (fator de risco para o diabetes).
Além disso, essa condição ainda afeta os processos de metabolismo e síntese de proteínas, bem como de tradução de enzimas. Sendo assim, pode ser evidenciado um catabolismo prolongado, resultando em má cicatrização de feridas e osteoporose.
Estudos relevantes também indicam que o acúmulo exagerado de cortisol pode trazer prejuízos ao sistema imunológico. Esse fato se deve ao aumento da circulação de neutrófilos livres, desencadeando na inibição da produção de linfócitos.
Caracterização e sintomas
A caracterização da doença se dá por algumas mudanças físicas decorrentes das alterações fisiológicas causadas pelo excesso de cortisol.
Acúmulo de gordura aumentado na parte superior do corpo, faces de lua, braços e pernas finos, acne e fraqueza muscular da cintura escapular são algumas dessas mudanças evidenciadas pelo desenvolvimento dessa síndrome.
Como consequência desses fatores, os sintomas da Síndrome de Cushing podem ser diversos. Os mais comuns acompanham fadiga, fraqueza, dores nos ossos e nas costas e até mesmo perda de altura .
Uma atenção especial deve ser dada aos transtornos psicológicos que podem vir acompanhados dessa síndrome. Não são raros os casos de prejuízos das funções cognitivas, alterações de humor, perda de libido e depressão.
Complicações
A prevalência da Síndrome de Cushing ainda é desconhecida, entretanto já é de conhecimento médico as principais complicações que podem agravar o quadro de saúde desses pacientes, bem como aumentar a mortalidade.
A mortalidade associada a essa doença é devido, principalmente, ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2 (resultante do excesso de cortisol), hipertensão e infecções (pelo prejuízo ao sistema imunológico).
Tratamento da Síndrome de Cushing
O tratamento da Síndrome de Cushing visa primeiramente normalizar os níveis de cortisol sanguíneos (remissão do hipercortisolismo), mas também tratar as complicações e comorbidades associadas ao desenvolvimento dessa síndrome.
Embora essas comorbidades sejam majoritariamente causadas diretamente pelo excesso de cortisol, a normalização dos níveis desse hormônio pode não trazer melhorias rápidas, o que exige que essas sejam tratadas especificamente.
É importante ressaltar que o tratamento da Síndrome de Cushing deve ser individualizado e levar em consideração as características específicas do paciente. Dessa forma, as comorbidades associadas e a gravidade da doença podem influenciar no tipo de tratamento.
Tratamento cirúrgico
Devido ao fato de que a produção anormal de cortisol é muita vezes derivada de um tumor na glândula adrenal, o principal tratamento para o hipercortisolismo endógeno é a extração do tumor pelo método cirúrgico, o que permite a remissão desse quadro.
Entretanto, devido às comorbidades associadas à doença e principalmente aos riscos cardiovasculares, uma avaliação pré-operatória deve ser realizada. Além da avaliação, em alguns casos o tratamento medicamentoso antes da cirurgia também é recomendado.
A taxa de mortalidade desses tipos de cirurgia é relativamente baixa quando comparada a outros procedimentos cirúrgicos e sua efetividade na reemissão do quadro de hipercortisolismo é comprovada.
Tratamento clínico
O tratamento medicamentoso pode vir em momentos diferentes, como tratamento primário ou como tratamento secundário, seja após a falha cirúrgica ou mesmo acompanhado da radioterapia.
Esse procedimento como forma primária de tratamento tem o objetivo de diminuir os níveis de cortisol sanguíneos ou, como citado anteriormente, preparar o paciente para o procedimento cirúrgico.
Os medicamentos utilizados podem ser divididos em três grupos de acordo com a sua atuação: atuantes diretos no tumor secretor de hormônio ACTH, inibidores da produção de esteroides pela adrenal e antagonistas dos receptores de cortisol.
Contudo, ainda são limitados e de difícil acesso os medicamentos dessas classes, o que configura um grande desafio para os pacientes com Doença de Cushing que necessitam dessa forma de tratamento.
Síndrome de Cushing exógena
No caso do hipercortisolismo causado pela constante exposição exacerbada de corticoesteroides, o tratamento deve ser focado na redução desses esteróides. No entanto, o funcionamento da glândula adrenal pode levar um bom tempo para se estabilizar.
Sendo assim, é recomendado que as doses de esteróides sejam diminuídas lentamente, ao passo que enquanto há a diminuição dessas substâncias, há a recuperação gradual do funcionamento da glândula adrenal.
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Referências
Chaudhry HS, Síndrome de Singh G. Cushing. [Atualizado em 27 de junho de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan
Nieman LK. Recent Updates on the Diagnosis and Management of Cushing’s Syndrome. Endocrinol Metab (Seoul). 2018 Jun;33(2):139-146. doi: 10.3803/EnM.2018.33.2.139. PMID: 29947171; PMCID: PMC6021313.
Machado MC, A review of Cushing’s disease treatment by the Department of Neuroendocrinology of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism. Arch. Endocrinol. Metab. 62 (1) • Jan-Feb 2018
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